sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Os Ruschel - 03

                                               
TRADUÇÃO DA CANÇÃO DO IMIGRANTE


Solicitamos que  Arnilo Brönstrup traduzisse o teor em alemão para o português e recebemos a seguinte resposta:
Meu caro Leandro,
A canção “Nun ade, Du mein lieb Heimatland” é um Lied composto no século 18 pelo estudante de teologia August Desselhoff na cidade de Amsberg, e se tornou tão popular, que se tornou matéria escolar, e é conhecida em todo o mundo. Desselhoff fazia parte de um grupo de rapazes que fazia caminhadas e excursões na sua cidade Natal, e quando aos 18 ou 19 anos teve que se mudar de cidade, para estudar teologia (tornou-se pastor protestante) compôs esta canção, que hoje tem um monumento em sua cidade. Ela contem termos ou palavras que são nitidamente locais da Westfália, como AU, Moos’gen e Wald’gen Tal etc.
Como podes ver, ela não foi composta para os emigrantes, era uma despedida para a cidade natal e os amigos,mas se tornou tão popular entre os emigrantes, considerando-a , como seu hino. Tenho um amigo em Porto Alegre, Horst Märtin, que me contou uma história muito triste a respeito desta canção. O Horst perdeu o pai na ultima guerra, quando esta terminou era um menino de parece-me 6 anos. Pouco depois faleceu a mãe. Ele foi entregue a um tio. A seguir toda família emigrou para os Estados Unidos, o tio resolveu vir para o Brasil, e o Horst junto. No momento que passaram pelo cabo na saída do porto, todos os emigrantes estavam no deck, cantaram esta canção, no meio de muito choro.            
Versão obtida com dois tradutores: Stefan Martin Robert Wenzel e Arnilo Brönstrup.            
(Obs.: O refrão é cantado no início de cada estrofe).


Refrão: Agora adeus, você, minha querida pátria
Pátria querida adeus. Agora é na terra estrangeira
Pátria querida adeus!

1. E assim eu canto com felicidade e alegria,
assim como se canta quando se peregrina.
Pátria amada adeus.

2. Como você está sorrindo com o azul do céu
Como você me saúda com os campos e riachos.
Pátria amada adeus.

3. Deus sabe, meus sentimentos estão contigo,
Porem agora o distante está me chamando.
Pátria amada adeus.

4. Me acompanha, meu querido rio
que estás triste que eu me deva ausentar.
Pátria amada adeus.

5. Da pedra com musgo e do vale com matas,
eu mando lembranças para ti, pela ultima vez.
minha pátria adeus.


O CAPITÃO MIGUEL E A HISTÓRIA DE UM RIO
             O IMIGRANTE

                   Em 17-10-1846, com a idade de 13 anos, chegava ao Brasil o jovem Miguel, juntamente com seus pais agricultores e mais sete irmãos, provenientes do extremo sudoeste da Alemanha. O adeus aos parentes que ficaram em Mühlfeld, a terra, as aldeias, a pátria.Tudo foi visto pela última vez, para sempre.
Lembranças da viagem, rebuliço, despedidas, bagagens, carroças, pequenos barcos e por fim, um veleiro, o brigue Hanseat que o conduzira ao Novo Mundo, ao Brasil. Trouxe no coração, a esperança, a coragem e o desejo de trabalhar para alcançar a prosperidade. Venceria.
  Seu pai, Sebastian, adquirira uma colônia de terras virgens, lote 13, na margem direita do rio Cai, no lugar denominado Linha Feliz, um pouco ao norte do Porto dos Guimarães, que mais tarde se chamaria São Sebastião do Caí.
  Estabelecida a família e iniciados os trabalhos, verificaram com orgulho, que a terra generosa retribuíra o trabalho regado com suor, garantindo colheitas abundantes. Prosperaram. No Brasil, ainda nasceriam mais dois irmãos. 
   Uma geração mais tarde, exatamente 26 anos depois, tornou-se necessária a divisão da família e nova migração. Muita gente para pouca terra e novos horizontes. Deixara na propriedade primitiva, com restante dos seus filhos administrando a lavoura, uma atafona para a fabricação de farinha de mandioca, uma destilaria de aguardente e um curtume. Partira para novos rumos e novos investimentos produtivos. Esse brasileiro por opção, bilingue, era um criador de riquezas.  Os pioneiros aparecem quando são necessários, no local e momento certo. Miguel foi um deles.
 Em Estrela, às margens do rio Taquari, havia uma grande fazenda de gado, de propriedade do sesmeiro Coronel Antônio Vitor de Sampaio Menna Barreto, fundador do núcleo urbano de Estrela. A sede era um casarão conhecido como “sobrado”, hoje na rua Dr. Tostes 320, onde está a residência e museu do casal Gisela e Dr. Werner H. E. Schinke. O imóvel foi comprado por Miguel Ruschel em 1872. Junto com a sede, comprou extensos tratos de terra que colonizava e fazia exploração agrícola. Uma promessa de futuro.

                            Sobrado

                                                    Foto José Alfredo Schierholt

 Sob sua supervisão, os três filhos Nicolau, Mathias Sobrº e Francisco Xavier, abriram uma casa comercial, conjugada com uma hospedaria.  Foi o ponto de comércio onde gravitaria a colônia em formação. Os negócios se desenvolveram.
                  
                           Enchente em 1912: - Praça da matriz em Lajeado 


                                     Foto: José Alfredo Schierholt

A NAVEGAÇÃO FLUVIAL

                   Em 9 de fevereiro de 1904, os três  irmãos iniciaram uma empresa  fluvial de transporte de carga entre Muçum, portos intermediários e Porto Alegre. Compravam os produtos coloniais e os transportavam e vendiam em Porto Alegre. Na volta, traziam as mercadorias necessárias ao sortimento de seu comércio.
Comércio, hospedaria e empresa de navegação levavam o seu sobrenome.
                          Vapor Estrella - Navegação Ruschel Irmãos.

               Iniciada com pequenas embarcações, a empresa foi crescendo em volume, anexando mais barcos na medida da necessidade. Na sequência, adquiriram o vapor de luxo Estrella por 20 contos de réis. Com outras 6 embarcações – lancha à vapor Caxias e lanchas Stella, Julieta, Flor Encantado, Tília e Sete Canoas completaram a frota. As embarcações eram operadas com competência pelos descendentes dos açorianos ribeirinhos, que conheciam o rio como a palma da mão. Sempre viveram do rio.
HOMEM DE VISÃO
                Miguel legou esse valor a seus filhos que construíram em Muçum, ponto final de navegação do rio Taquari, instalações portuárias, trapiche, machambombas, espécie de elevador de carga, acionado por cavalo ou muar e depósito de mercadorias. Montaram refinaria de banha e uma fábrica de latas por 5 contos. A banha, na época, denominada de “ouro branco”, era adquirida dos colonos que abatiam suínos para seu sustento alimentar e vendiam o excedente da gordura. A refinaria e a fábrica de latas, juntas, se situavam na periferia da vila.Talvez as primeiras indústrias locais. Era necessária área maior para a circulação e estacionamento  das  carroças  e  muares  de carga que traziam a banha bruta para a indústria de beneficiamento, depósito de lenha para a caldeira que acionava a maquinaria e produzia o calor para o aquecimento da gordura. Refinada por decantação natural e filtrada, a banha era “batida” mecanicamente e enlatada. Identificamos as ruínas da refinaria e da fábrica de latas, ao sul da vila, em frente e do outro lado da estrada do Moinho Tombini, atual proprietário das terras. A chaminé quadrada, ainda de pé, foi demolida lá por 1966.
Adquiriam uma sede e porto em Estrela, por 3,5 contos e construíram um trapiche em Bom Retiro do Sul, por 3 contos.
                         Gasolina e Chata             

                                        Foto: José Alfredo Schierholt
                                   
CAPITÃO MIGUEL RUSCHEL

Miguel tornou-se conhecido como “Capitão Miguel”, talvez para diferenciá-lo de outro Miguel ou por consideração regional, respeito, liderança e criatividade. 
          Miguel era um homem de ações decisivas e enfrentou consequências que permaneceram na memória dos seus descendentes.   Entre os portos de Estrela e Cruzeiro do Sul, havia um rochedo que aflorava bem no meio do rio, no canal de navegação e responsável por vários naufrágios. Tinha até o apelido de “Feiticeira”, temida e conhecida pelos pilotos dos barcos fluviais. Em vão, tentativas foram feitas junto aos órgãos públicos que administravam os caminhos do rio. Era necessário dinamitar a rocha.  Como as autoridades protelaram e nada fizeram, o Capitão Miguel, audacioso, por sua conta e risco mandou dinamitá-la, desobstruindo o rio. Assumiu as responsabilidades e terminou sendo obrigado a efetuar o pagamento de uma vultosa multa aos cofres do erário. Em recurso na esfera judicial e defendido pelo advogado Dr. Adroaldo Mesquita da Costa, terminou com sentença favorável, mandando o Estado devolver a quantia. O Capitão Miguel, recusou-se a recebê-la e destinou-a a uma instituição de caridade. Esta história já foi contada cerca de 30 anos atrás, em artigo de outro neto, Carlos Maria Ruschel, publicado no Almanaque do Correio do Povo. Por essa razão, também a registramos aqui.
                                  Transbordo para o vapor Itália

                                                 Foto: José Alfredo Schierholt

PIONEIRO DA NAVEGAÇÃO FLUVIAL

         Bom Retiro era ponto estratégico no rio Taquari. Era o último porto navegável o ano todo. Estava situado a 1 km à jusante da maior cachoeira, com denominação óbvia de “Comprida”. Era ainda o último porto a ser atingido pelas carroças de tração animal que traziam os produtos da região de Teutônia e arredores.. Logo após, havia o morro da Pedreira, cujo aclive desestimulava o tráfego por rodovia. Por decorrência, Bom Retiro era o lugar ideal.
Ao adquirir propriedade na beira do rio em Bom Retiro em 1887, o pioneiro da navegação no rio Taquari, Jacob Arnt iniciou as atividades fluviais e o porto foi crescendo quando outras navegações também instalaram ao lado seus trapiches e armazéns. Isso trouxe salutar e democrática concorrência. Havia lugar para todas as empresas familiares existentes: Os filhos de Miguel, os Jasper, os Faller, os Sudbrack, Pedro Isírio e mais algumas sem embarcadouro próprio. 
         A navegação fluvial atingiu seu auge entre 1920 e 1940.  Tudo dependia do rio.

COMO ERAM AS VIAGENS

Uma viagem de vapor ou de gasolina, de Lajeado à Porto Alegre, para um menino como eu, era a suprema aventura. Se a viagem fosse pelo vapor Osvaldo Aranha ou pela gasolina Cerro Branco, era história para ser contada e repetida muitas vezes. Nos ouvidos ficava o chaque-chaque das rodas do vapor ou o tuco-tuco do motor da gasolina. Dormir nos camarotes ou nos beliches do salão e sonhos embalados pelo ruído das águas que passavam, momentos jamais esquecidos.
 No embarque, descia-se o barranco por uma escada de madeira, estreita, entre os trilhos das machambombas. Dentro do barco, movimento de pessoas e eficiência. No jantar ou almoço a bordo, sempre galinhada e feijoada, com aqueles sabores inigualáveis.
Na chegada a Porto Alegre, um mar de barcos atracados e um burburinho de gente atendendo seus afazeres. À noite, na cidade, o pisca-pisca dos anúncios luminosos, deslumbrava.                                                                                                                    
 Em 1922 começaram a surgir as primeiras fusões e incorporações das pequenas empresas pelas maiores. Em um fato natural e repetitivo.
               No próprio linguajar citadino, as pessoas iam “descer” para Porto Alegre e só “subiriam” dias após. 
Digitalizar002                                     Armazéns da Cia. Navegação Arnt – Lajeado – Foto J.A.S.

OS NOVOS NEGÓCIOS
Os três irmãos venderam suas propriedades portuárias e barcos para a Cia. Navegação Arnt, pois já previam o declínio da atividade. As três últimas navegações pequenas independentes, em 1932 se agruparam e formaram a Cia. Navegação Aliança para poder resistir por mais tempo à competição e as dificuldades que se apresentavam. Ainda hoje está em atividade, navegando na bacia do Guaíba e operando com granéis líquidos. Adaptou-se o novo local e ramo. A Cia. Navegação Arnt, que no auge de sua atuação de transporte de carga e passageiros, chegou a manter em atividade, 8 vapores (quatro deles de luxo), 9  gasolinas, 10 chatas e 30 embarcações pequenas, teve um final inglório. Potência fluvial, foi definhando até encerrar as atividades, deixando centenas de pessoas desempregadas, entre elas, muitos causadores da própria ruína.  Talvez o próprio gigantismo tenha sido um fator ponderável.
O rio, além de meio de transporte, também era a cloaca das cidades e indústrias ribeirinhas, que utilizavam a água e despejavam seus esgotos poluídos na corrente, sem tratamento algum.
                        Explorando o Rio Taquari                                                                                                                              

                                              Foto: José Alfredo Shchierholt                                        


A DECADÊNCIA DO RIO TAQUARI

        A decadência iniciou-se em 1941, com a grande enchente de maio, quando o rio, já com suas matas ciliares dizimadas, sofreu grande assoreamento no canal de navegação, afora a destruição dos armazéns, trapiches e machambombas.
O Governo reagiu proibindo o desmatamento ciliar, mas em seguida permitiu que somente os marinheiros pudessem fazê-lo e tudo continuou como antes.
Legislação federal passou a exigir que cada barco fluvial tivesse o mínimo de cinco tripulantes e os pequenos barcos, onde pai e filho ou irmãos navegavam, ficaram impedidos de trabalhar. O barco perdeu toda a sua utilidade e não valia mais nada. Liquidaram com os pequenos.
A nova legislação trabalhista também trouxe novidades.  Por qualquer coisa, um marinheiro não vinha trabalhar e o barco, carregado, não podia partir. Era necessária a procura imediata dele ou de um substituto que seria aceito ou não pelos demais. Os tripulantes deveriam ser pagos para navegar e não para trabalhar. Em cada parada num porto, deveria ser paga uma hora de extraordinário para todos.  Nesses portos, uma convenção e presença de uma bandeirinha indicava ao piloto se ali deveria atracar. Mataram assim, dezenas de pequenos portos, conforme depoimento oral de Elmo Sudbrack, mais conhecido por Chico.
                               Gasolina Cerro Branco – Navegação Arnt                
Foto: José Alfredo Schierholt

QUEBRA DA DISCIPLINA

            Alguns marinheiros relutavam cumprir ordens emanadas do proprietário até que esse se humilhasse e pedisse por favor. 
Quebrada a disciplina, iniciou-se uma fase cada vez mais crescente de furto de mercadorias a bordo, para desespero dos proprietários da carga e transportadoras. Foi uma praga incurável e contagiosa.
Vários frigoríficos de suínos, que tinham a sua própria navegação praticaram uma concorrência predatória, foram liquidando com os menos competentes e também se esvaíram. Não sobrou nenhum dos originais.
 Em meados de 1942, no período da ditadura getuliana, os empresários de origem alemã começaram a ser perseguidos e humilhados. Um barco, da Cia. Navegação Arnt, carregado, não conseguiu partir do porto em Lajeado, porque os marinheiros se recusaram a fazê-lo, devido ao nome da embarcação. Era Germânia. Pichado o nome, a gasolina iniciou a sua viagem, desta vez pagã.
Alcançou-se o cúmulo do acinte, quando legislação federal exigia que fosse paga à tripulação, quando entre a carga houvesse vasos sanitários e urinóis novos ou papel higiênico, uma taxa de vexame.  Seria cobrada do proprietário das mercadorias e distribuída no fim do mês para a tripulação de cada barco. Mercadorias provocavam discussões se seriam ou não insalubres, e teriam ou não direito a adicional no salário. Levava-se meio dia de trabalho burocrático para concluir a folha de pagamento para um único marinheiro, até atender todas as exigências legais. O fim do mês era um tormento.
       Decepção e cansaço generalizado. Trabalhar já tinha se tornado desgastante. O fim inevitável estava próximo.

                          Lancha a vapor pelo Rio Taquari:    

                                         Foto: José Alfredo Shierholt

                                           O RIO É ABANDONADO

       Mesmo com estradas ruins, o ônibus de passageiros ou o caminhão de carga foram desalojando o barco fluvial. Passageiros para Porto Alegre e vice-versa, nunca mais.
A ponte de Mariante regularizou o fluxo de mercadorias na margem direita e o da margem esquerda só com advento da BR 386. O rio, como fator de desenvolvimento, morrera.
Findara-se um ciclo. Começara do nada e assim terminara.
Hoje o rio represado serve de lago para a prática de esportes aquáticos e turismo incipiente. Fizemos a viagem de Estrela à Bom Retiro do Sul, por barco, utilizando a eclusa. Valeu a aventura.
A barragem eclusada de Bom Retiro do Sul, já chegou tarde demais e é um monumento a um duvidoso planejamento, como também o é o porto rodo-hidro-ferroviário quase deserto de Estrela.
 Mais, a estrada de ferro de Passo Fundo via Roca Sales à Estrela, uma obra arrojada de engenharia vê passar em seus trilhos apenas um trem por dia.  Restaram túneis profundos e belíssimos viadutos, os mais altos e os menos transitados da América do Sul. Não cumpriu a finalidade que dela se esperava.
Essa a odisseia, iniciada por pioneiros, entre eles meu bisavô materno Miguel Ruschel. - O Capitão Miguel, chegara a um fim melancólico em 1970. O Capitão Miguel Ruschel, idealizador da Navegação Ruschel Irmãos, ficará para sempre na memória. 
 Não podemos esquecê-los. Fizeram a sua parte na sua época.
 Cidade beira-rio, Lajeado, bem situada no novo eixo de transporte rodoviário, encontrou em seu meio, novos líderes e novos rumos que diversificaram, reativaram a economia local, transformando-se em polo regional de forma espetacular.
A história do rio Taquari tem que ficar registrada com orgulho na memória. No passado, único meio de transporte e colonização, constituiu, enquanto viável, elemento essencial ao progresso da região do vale.                                                         
Fui funcionário durante 12 anos em duas empresas industriais que também tinham navegação.
Referências bibliografias:
Pesquisa Google – Capitão Miguel Ruschel
Ruschel - Família de Pioneiros – Álvaro Armando Paes
Bom Retiro do Sul – sua história, sua vida – Ellen Walkíria Eifler
          Depoimento oral de Elmo Sudbrack (Chico) – durante quase 30 anos funcionário da Cia. Navegação Aliança.

CRÔNICA PUBLICADA INTEGRALMENTE NO JORNAL – A HORA DOS VALES - DE LAJEADO, NOS DIAS 2, 9, 16 e 23 DE JANEIRO DE 2010

                                          
RUSCHEL IRMÃOS EM MUÇUM

              Temos seguras  informações  das atividades   em   Muçum     e        desejamos repassá-las,  comprovando e localizando a refinaria de banha.
Lá por 1962, fiz alguns trabalhos para os Frigoríficos Nacionais Sul Brasileiros S/A, entre eles, a oferta de umas terras de propriedade deles, situadas bem na frente do possível interessado, Moinho Tombini, do outro lado da estrada. O local era chamado de “batedor de banha”. Um pouco antes de chegar à Muçum, perto do rio Taquari.
Alem do potreiro, ainda viam-se ruínas de uma esquina do prédio e uma chaminé quadrada, ereta ainda em seu lugar. Durante muitos vezes que ali passamos vimos a chaminé, até que um dia todas as ruínas tinham sido removidas
Era ali a refinaria de banha dos nossos antepassados.
Não havia energia elétrica e a maquinaria era movida a vapor de uma caldeira junto à chaminé. Inclusive as bombas de recalque da banha aquecida líquida, chamadas “burrinhos” eram movidas com pistões à vapor.
Cremos poder informar pelo menos, uma sequência de proprietários: Ruschel Irmãos, Sindicato da Banha, que agrupou todas as pequenas refinarias e Frigoríficos Nacionais Sul Brasileiros S/A, que o sucedeu, que antes de extinguir-se e por nosso intermédio, vendeu as terras para o Moinho Tombini. 
Podemos aquilatar a visão empreendedora do Capitão Miguel. Somente quem se dispusesse à adquirir toda e qualquer produção agrícola ou pecuária, teria a fidelidade do colono. Não bastava comprar milho, feijão, aves e ovos. Tinha que comprar tudo o que ele produzira para vender e a banha excedente, originada do abate doméstico de suínos tinha que ser vendida com urgência, antes que tornasse rançosa. 
A banha não pode ser comercializada sem um procedimento operacional de homogeneização e filtragem, antes de ser enlatada e pudesse ser encaminhada ao consumidor. Para isso, eram necessárias instalações industriais e transporte.
Aí se explica a fábrica de latas, destinada à embalagem da banha, que não tinha outra maneira higiênica e segura de ser transportada.
                                                 
 JOHANN RUSCHEL        
       Fomos surpreendidos pela descoberta de mais um Ruschel remoto e imigrante, além dos que já conhecíamos, por uma crônica recebida de habitual parceiro de trocas de informes sobre as famílias imigrantes, José Alfredo Schierholt. A crônica faz parte do seu blog “Abrindo o Baú” em dezembro de 2013 e sugere que a participação de João Ruschel na Guerra do Paraguai ainda terá que ser pesquisada. É o que estamos fazendo e muito mais.
A crônica:
                                     JOÃO RUSCHEL, herói na Guerra do Paraguai
João Ruschel tinha o apelido de Moreno, lutou na Guerra do Paraguai, em 1870. Talvez, a campanha bélica, maior parte na Infantaria, deu-lhe a tez mais escura na pele. Como outros jovens, possivelmente tenha sido forçado a participar dos combates, mas esta história ainda terá que ser pesquisada
João foi um dos pioneiros em Santa Clara do Sul, aonde chegou solteiro, em 1876. Nascido em 22-5-1849, em Gusenburg, na Alemanha, com o nome de Johann, era filho de Johann Ruschel e Bárbara Lorig.
Casou-se em com Anna Noschang, nascida em 1856 e falecida em 17-3-1920, em Rio Bonito - RS, filha de Jorge Noschang e de Margareth Plein. O casal teve 12 filhos: Maria, João Nicolau, Josephine, José, Leopoldo, Friedalina, Affonso, Bertholdo, Leontina, Amália, Katharina Florentina e Reinholdo.
Em Santa Clara instalou um alambique, onde tinha uma fonte de água conhecida por Mãe do ouro – expressão dada pelo pesquisador padre Alberto Träsel no seu Álbum do Centenário de Santa Clara do Sul 1869 – 1969, pg. 25. Servia para abastecer a população vizinha em tempo de estiagem.
João Ruschel faleceu em Santa Clara, em 12-12-1926.  
                                        Foto de João Ruschel e Anna Noschang
            Comentários nossos:
Quando teve início a Guerra do Paraguai, João tinha 16 anos. Ao seu final teria 21. Não cremos que ele tenha emigrado sozinho com essa idade. Ele chegou à Santa Clara em 1876 e tinha 27 anos.
O Capitão Miguel Ruschel. nosso bisavô materno, iniciou a colonização de Estrela em 1872 e só mais tarde adquiriu parte do latifúndio de Laura Centeno de Azambuja em Lajeado (casa do morro em Cruzeiro do Sul até arredores de Lajeado) e loteou-as em Santa Clara. A chegada de João ao Brasil e Santa Clara deve ter ocorrido no início desse segundo loteamento rural, paralelo a outros também existentes nas imediações.
Não cremos que ele tenha lutado na guerra do Paraguai, pois não era brasileiro nato nem naturalizado e não poderia ser convocado.
Não encontramos a data de sua chegada ao Brasil. Ele deve ter vindo diretamente da Alemanha para Santa Clara e era um neto de um irmão do nosso imigrante Sebastian Ruschel, por tratativas do seu filho, o Capitão Miguel. O pai dele, Johann Ruschel (igual ao filho) 1815, era mais um irmão do nosso antepassado imigrante Sebastian Ruschel.
Igualmente, constatamos a existência de outros três irmãos que também permaneceram na Europa: Maria Katharina, 1807; Ângela, 1811 e Adam Ruschel 1818.
       A informação de que lutou em 1870 também não deve proceder. A guerra do Paraguai já terminara em 1869, e apenas um último e pequeno combate, o da morte de Solano Lopes em Cerro Corá, em 1º de março de 1870 formalizou o fim da guerra. Apenas um modesto corpo de cavalaria participou. Os “Voluntários da Pátria” já vinham retornando ao Brasil no início de 1870.
       No livro “Alemães e Descendentes de Alemães na Guerra do Paraguai”, do Dr. Klaus Becker, nenhum Ruschel está nominado entre os mais de 700 filhos de colonos alemães que foram ao Paraguai, dos quais apenas cerca de 70 regressaram incólumes. Encontramos três voluntários de sobrenome Diehl, de Lomba Grande e São Leopoldo.      A tradição oral da família tem de ser acatada e corrigidos eventuais erros que o tempo se encarrega de permitir.
Cremos sim, que ele também deva ter participado do combate de Santa Clara (Maragaten Krieg) contra os atacantes que se denominavam maragatos na revolução de 1893, em 8 de maio de 1895. Esses pseudo maragatos eram alheios ao comando da Revolução e independentes.  Não passavam de assaltantes e ladrões Tema objeto de outra crônica nossa e livro de Theodor Firmbach. A História registra nomes de 50 moradores de Santa Clara que pegaram em armas na defesa da vila, entre eles quatro Ruschel – Miguel, Antônio, Reinoldo e José Ruschel e alem de José Diehl, comandante, mais João Dill. É lógico presumir que outros colonos prestassem o seu concurso na luta. Por quê João Ruschel não? A tradição oral sempre tem alguma verdade.
Essa deve ser a origem da confusão na tradição oral.  Nem por isso, deixou de ser um herói a ser reverenciado.
A existência de mais um Ruschel no despertar de Santa Clara, foi, sem dúvida, resultado de ações do nosso Capitão Miguel Ruschel, que após ter adquirido extensas áreas de terra em Estrela, para loteamento rural, fez o mesmo no município de Lajeado, onde pelo menos, um filho seu e parentes dele, Diehl, foram morar em Santa Clara. João Ruschel deve ter partido para o Brasil a convite do Capitão e com destino certo. Chegou solteiro, e deve ter morado e trabalhado na propriedade de um primo, até que, casando, tivesse a possibilidade de adquirir sua própria terra. Seria demasiada coincidência ele ter vindo por acaso para Santa Clara. Sua esposa era filha de um dos primeiros moradores de Lajeado.
Gusenburg é uma pequena localidade na região do Rhein-Pfalz. Tinha cerca de 1.100 habitantes em 2008. Se situa exatamente no caminho entre Mühlfeld e Trier região de passagem de Sebastian Ruschel em suas viagens de transporte de passageiros.  Mais uma razão em acreditarmos em parentesco e vinda programada pelo Capitão Miguel. Facilmente encontramos a localidade nos mapas. Fomos direto para a região dos Ruschel nos arredores de Mühlfeld e lá se encontrava.
Fica assim, explicada a existência de tantos Ruschel em Santa Clara, o que, deveras nos tinha surpreendido. São todos nossos parentes.
Assim, partindo de informações primárias e seguras de J. A. Schierholt, conseguimos construir a comprovação de parentesco. Conhecíamos a tradição oral de que apenas uma família Ruschel emigrara para o Brasil. Continua sendo verdade.
Iremos procurar descendentes de Johann Ruschel e sua esposa Anna Noschang em Santa Clara do Sul. Talvez encontremos um que se disponha a procurar a genealogia dele. Não vai ser fácil.   
Mais tarde, descobrimos que Johann viajou para o Brasil em companhia de uma irmã. Ele tinha a tez morena, simplesmente porque era o condutor da carruagem de passageiros e recebia todas as intempéries no corpo, pois a boleia não tinha cobertura.


                                CARTA AOS RUSCHELINOS

                        Porto Alegre, 23 de dezembro de 2013
                       Alô parente
                       Chegamos ao fim de mais um ano, que se revelou ser bastante fértil no campo da genealogia e da história da família Ruschel.
                      Ampliamos bastante a nominata dos antepassados remotos, conseguimos encontrar as datas de nascimento de muitos outros, que permitiram conhecer as posições nas famílias e certificar que estavam no lugar adequado nos quadros genealógicos. Corrigimos um casal que estava fora de lugar.
                     Identificamos mais ações de desbravamento do nosso líder Capitão Miguel, que alem de ter dado início ao povoamento de Estrela, também o fez por compra de terras virgens de proprietária de latifúndio na margem direita do rio Taquari, na época município de Lajeado e hoje município de Santa Clara do Sul.
                   Não só loteou como fez o povoamento com seu filho Miguel Ruschel Sobrº, cc Cristina Simon (17 filhos) e com os cunhados Diehl de seu filho Mathias Ruschel Sobrº.
                 O Capitão Miguel também trouxe diretamente da Alemanha, um neto do seu tio que permaneceu na Europa, de nome Johann (1849), que chegou solteiro aos 27 anos em 1976. Ele casou com a filha de um dos primeiros povoadores do município de Lajeado. Era um filho de outro Johann Ruschel (1815), que sucedeu Sebastian nas atividades de transporte de passageiros entre Mühlfeld e Trier.
                 Nas pesquisas, fomos surpreendidos com encontro da história do transporte rodoviário, pela descoberta de fotografia da carruagem de passageiros de Sebastian, bem diferente do que todos imaginavam. Tinha três bancos para 4 ou 5 passageiros cada um, talvez 12 ou 15 pessoas ao todo. Deveria ser tirada por três parelhas de cavalos. A foto fala sozinha e segue abaixo. Na inicial do texto, duas datas 1846, 1876 que contam a história. É só interpretá-las: Sebastian teve o seu primeiro filho em 1829. Quando casou, já teria a profissão de transportador coletivo de passageiros. Nessa atividade permaneceu até 1846, quando veio para o Brasil. Sebastian vendeu seu negócio de transporte rodoviário para Ruschel & Heberle. Seu sobrinho e mais um sócio. Permaneceram na atividade até 1876, quando o Johann Ruschel 1815, enviou para o Brasil seu filho Johann 1849, a convite do Capitão Miguel, para adquirir um lote de terras agrárias em Santa Clara do Sul. O que sucedeu mais tarde, não sabemos. Certamente outro adquiriu o direito de transporte e o acervo da transportadora. Provavelmente um parente.
             
Na quase inacreditável foto, a carruagem “de luxe”, com o sobrinho-neto e sucessor de Sebastian na boleia, o João Moreno. Assentos com proteção lateral, cobertura, estribo e paralamas
                Sebastian deve ter chegado ao Brasil com dinheiro no bolso, diferentemente dos demais imigrantes da época.
                Igualmente, encontramos um mapa da região, onde aparecem Gusenburg, Treves (Trier) a noroeste e Primstahl a sudeste, local próximo a Mühlfeld e Scheuern que, de tão diminutos, nem aparecem no mapa.
                 Também tivemos insucessos; Não conseguimos descobrir o prenome do Ruschel, casado com Ida, nem o sobrenome de solteira dela. Seguramente era uma viúva. Na época na Alemanha e no Brasil até o casamento das filhas de Mathias Ruschel, as mulheres “perdiam” seu sobrenome paterno e passavam a usar só o do marido. Na certidão de casamento de minha mãe, Flávia Ruschel, consta: passará a assinar-se Flávia Lampert. Daí o nome Ida Ruschel.
               Montamos também um quadro genealógico que segue em email separado. Apresenta todos os nomes remotos até a geração 7. Poderá ser ampliado e é uma base concreta para futuros trabalhos de cada família em particular. Basta seguir o mesmo esquema.
                Ampliamos a presença de mais famílias Ruschel, mas algumas preferiram se omitir. Aceitamos a decisão.

                 Um Feliz Natal, saúde e fartura no Ano Novo. 

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