AS BARCAS DO RIO TAQUARI
Impossível escrever sobre o rio Taquari e seus afluentes, sem mencionar
as barcas para atravessá-los.
O rio
Taquari recebe este nome na junção dos pequenos rios Carreiro e das Antas, no município
de Bento Gonçalves, cujas nascentes são nos Campos de Cima da Serra, já perto
do mar. O Taquari, em Triunfo, deságua no rio Jacui. Apesar de mais caudaloso,
o Taquari perde o nome para o Jacui Seu nome deriva do topônimo guarani
Tibiquari – rio das taquaras. Foi o único meio de transporte para a colonização
do vale até o seu ocaso econômico na década de sessenta. A construção de uma
barragem eclusada em Bom Retiro do Sul já após o colapso do rio não trouxe de
volta a navegação fluvial. .
O rio
foi o único meio de transporte entre as cidades e a capital. Vapores e
gasolinas de dupla atividade – passageiros e cargas. A vida econômica gravitava
em torno do porto fluvial e com a decadência do Taquari, os pontos comerciais
migraram para ruas livres das enchentes.
O rio
não era poluído, piscoso e proporcionava no verão, aglomeração de banhistas em
todas as tardes. Em Lajeado, no porto dos “brudas” (corruptela de bruder –
irmão em alemão) perto da ponte atual, remanso propício a natação e no fim da
rua Benjamim Constant, no meio da cachoeira.
Dourados, grumatãs, piavas, cascudos, pintados, lambaris, carás,
traíras, tambicus, jundiás e joaninhas. A fauna fluvial quase desapareceu e não
existem mais pescadores profissionais.
Até 1935
não existiam pontes. A primeira, na foz do arroio Forqueta, foi inaugurada em
1935 pelo interventor do RS Ernesto Dornelles. Estive no evento levado por meu
pai Mário Lampert, aos seis anos de idade. Em meados de 1940, foram concluídas
as pontes dos arroios Sampaio e Castelhano, na estrada de Lajeado à
Mariante. Em 1955, o governador
Meneguetti inaugurou a ponte sobre o rio em Mariante. Foi um marco decisivo na
vida econômica da região, permitindo rodovia sem barcas de Lajeado até Poro
Alegre. Mais tarde, a BR 386 consolidou a travessia e reduziu as distâncias
para Porto Alegre.
Os
rios e arroios eram servidos por “barcas” para as travessias. Dois cascos
paralelos, atravessados por assoalho de madeira e rampas de acesso e saída,
movimentadas por um rebocador acoplado ao lado da estrutura, levavam os
veículos, animais e pessoas ao outro lado do rio, mediante pagamento. Nos
arroios, as barcas não tinham motores. Um cabo de aço, estendido de lado a lado
sobre o arroio era ligado à barca por um par de correntes com roldanas, na
frente e atrás da barca, no lado a montante do rio. A tração era manual
As
barcas, lotadas nos “passos” de Taquari, Mariante, Bom Retiro, Cruzeiro do Sul,
Estrela, Lajeado, Corvo, Roca Sales, Encantado e Muçum, atravessavam com muita
morosidade o leito do rio, instransponível nas enchentes. Demorava-se no mínimo
meia hora para cada travessia. Em Mariante, a espera por duas horas não era
rara. Encontrava ali o tráfego rodoviário de Soledade, Venâncio Aires e Santa
Cruz do Sul, preferencial para os ônibus de passageiros.
O
transporte de pedestres para o outro lado do rio era efetuado por pequenos
caíques a remo. Entretanto, no Passo de Estrela, do município de Lajeado para a
cidade de Estrela, era realizado por uma lancha apropriada, motorizada e com
tolda. Carregava cerca de trinta passageiros de cada vez, sentados em banco
periférico no barco, de forma cômoda e segura. Seu nome era Cruzador.
A
colonização do vale trouxe consigo o desmatamento desenfreado e a indústria da
madeira serrada em tábuas e barrotes. Pinheiros, madeiras de Lei e comuns eram
derrubadas, conduzidas por bois até a serraria, próximas a um arroio ou rio,
serradas, desdobradas e depositadas na água. Eram amarradas em lotes e estes, quando
das cheias do Taquari agrupados até formar uma “balsa”. Era o único meio de
transporte existente. As balsas tinham um único marinheiro que evitava um
possível encalhe nas margens. Tinham até 30 m de largura e 100 de comprimento e
se destinavam a Porto Alegre. Sem meio de propulsão, seguiam com naturalidade
pela corrente do rio, às vezes até 10 ou 12 dias para chegar ao destino. No
meio da balsa, uma tosca cabana para o marinheiro, que continha um leito
improvisado e um rústico fogão à lenha. De longe, já se avistava a fumacinha na
chaminé. Os moradores de Lajeado dirigiam-se ao porto, para assistir e comentar
as passagens, às vezes, três ou quatro quase emendadas.
Março de 2014
Crônica
publicada no jornal A HORA DOS VALES de Lajeado. Faz parte de uma série de
vários autores sobre o tema O Rio Taquari, em 30 de abril de 2014.
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