quarta-feira, 25 de outubro de 2017

                                             CONTATOS DE CARAZINHO

              Procuro contato por e-mail com qualquer Lampert residente em Carazinho.
              Favor enviar e-mail para lampertele@bol.com.br.

             Grato,

             Leandro.
NOTICIOSO LAMPERT

            No meu blog se encontrarão os textos dos meus escritos: Livro OS LAMPERT – ORIGENS, HISTÓRIA E GENEALOGIA, MUITAS COISAS PARA CONTAR. CRÔNICAS DA MINHA INFÂNCIA – polígrafos OS RUSCHEL, OS DIEHL – FATOS E CRÔNICAS, 8 crônicas, 8 Reminiscências Profissionais e OS FARRAPOS.

Endereços de email - Tenho notado que muitos Lampert modificaram seus endereços de email e vários que tenho enviado retornaram. Por favor, peço para atualizarem os respectivos endereços, permitindo o diálogo comigo. Não tenho mais nenhum endereços dos Lampert de: Carazinho, Santa Rosa, Criciumal, Tenente Portela, Foz do Iguaçu, Santa Maria, Novo Hamburgo e arredores, Augusto Pestana, Coqueiros do Sul, Ati-Açu e outros mais.

            Iago C. Freitas solicitou dados de sua tia avó Hedi Lampert: foi casada com Olimpio Schuch e tiveram dois filhos Clécio Schuch 1946 e  Celício 1951.

Novos Lampert – Encontramos em Dionísio Cerqueira (SC) duas parentes com sobrenomes Portela Sperotto Lampert e mais Leandro Portela Sperotto Lampert em SP. Não conseguimos situá-los na nossa família. Precisamos dos seus endereços de email para contato direto. Alguém os conhece?

Lampertfest – Com o falecimento precoce de Julio Cesar Lampert, de Carazinho, que comandaria nossa festa no ano passado, ficamos sem candidato para promover a Lampertfest deste ano. Candidatos poderão entrar contato comigo pelo email ……

Endereços de email a serem retificados:

            Alberton, Gildo
            Barreto, Neli
            Dias, Cláudio L.
            Fetter, Vera L.
            Freitas, Davi
            Freitas, Fausto L. de
            Lampert, Aline
            Amauri Luiz Lampert (A. Pestana)
            Lampert, Carlos Eduardo Costa (do Cel. Carlinhos)
            Lampert, Carlos Henrique (Rio) (do Mal.)
            Lampert, Carlos (clampert@jus.br)
            Lampert, Cleber (PR)
            Lampert Mattiello (cristianemattiello@hot mail.com)
            Lampert, Darney Bruno
            Lampert, Ernani Reni
            Lampert, Fabiano (Jaraguá)
            Lampert, Fernanda Roberta (fe.lampert@hotmail.com
            Lampert, Gilberto (NH)
            Lampert, Hélio (compras@engepepes.com)
            Lampert, Inaiá
            Lampert, Izabel Cristina
            Lampert, Jadete B. (S. Maria)
            Lampert, Jorge André
            Lampert, Leandro (Manaus)
            Lampert, Leonardo (do Dolfo)
            Lampert, Louise (Lajeado)
            Lamperr, Maira
            Lampert, Marco Antonio
            Lampert, Mauris (Chapecó)
            Lampert, Mauro Toigo
            Lampert, Mateus e Maira
            Lampert, Osmar Paulo (Igrejinha)
            Lampert, Paula Marceli
            Lampert, Pedro Ivo
            Lampert, Renato Barboza
            Lampert, Ricardo (Carazinho)
            Lampert, Rita de Cássia (S.Maria)
            Lampert, Rosane (Natal)
            Lampert, Tiago (do Mauris)
            Lampert, Vinicius (do P. Ivo)
            Lampert, Silvana
            Schroeder, Auderli Sidnei
            Tiggeman, Walburga
            Zanuzzo, Paulo (Maiara)
           


COMPRANDO FEIJÃO NO OESTE DE SC

            Creio que corria o mês de janeiro do ano de 1957, e na época eu morava em Bom Retiro do Sul. Já era casado com a Lucy, e meu primogênito tinha um ano de idade. Eu era gerente administrativo da Sociedade Bom Retirense de Produtos Suínos Ltda., que tinha como diretor e principal cotista Octávio Trierweiler (também sócio titular da firma Trierweiler & Cia. Ltda., de Lajeado, cujo ramo era o comércio de cereais, navegação fluvial, engenho de arroz, moinho de trigo, transporte rodoviário de cargas etc.).
Líder empresarial em Lajeado, Octávio foi meu patrão durante mais de onze anos - penso que aprendi com ele as artes e ofícios do comércio.
         Os matadouros de suínos estavam sujeitos à safra e entressafra. Excesso de oferta (preço baixo) e depois carência de animais para abate (preço elevado) ocorriam de janeiro a abril. Pouco trabalho no frigorífico.
         A região do Vale do Taquari produzia a cada ano menos feijão, e seria de bom alvitre também compra-lo no oeste de Santa Catarina, com farta colheita em dezembro e janeiro, para exporta-lo diretamente para o Rio de Janeiro via representante de vendas.
         Seu Octávio escolheu-me para ser o encarregado de ir para SC, escolher uma cidade, alugar um prédio, registrar o posto de compras na Prefeitura e Coletoria Estadual, contratar um empregado, morar num hotel, comprar feijão, pagá-lo, trocar a sacaria e, por fim, embarcar via rodoviária para o Rio de Janeiro. Segundo ele, tudo muito fácil. Administrar uma empresa é uma técnica, mas o comércio é uma arte que eu desconhecia. Eu nem sabia os nomes das espécies dos feijões que eu iria comprar, que dirá afirmar a sua qualidade e mercado. Me deram vários envelopes com amostras  e respectivos nomes: preto, branco, mouro, enxofre e cavalo claro.
Seu Octávio me deu uma procuração, lotou um jipe 1954 capota de lona com sacaria vazia nova, duas agulhas, linha de costurar sacos e um calador. Restava apenas um lugarzinho apertado para o motorista, sua maleta de roupas e uma grande pasta de couro lotada com dinheiro vivo para pagar as compras de feijão. Deu-me um mapa do RS e SC e disse: “Vai”. Fui com o coração apertado. Seu Octávio disse que seria tudo fácil. Fácil? Só para quem sabe, e eu não sabia.
Comecei a viagem de madrugada em Lajeado com destino à Mariante, depois Venâncio Aires, Soledade, Carazinho até Iraí onde cruzaria o rio Uruguai. Depois, Santa Catarina até encontrar uma cidade para sede do posto de compras de sua firma. Percorreria cerca de 500 quilômetros em estrada de chão batido e muita poeira.     
            Na travessia o barqueiro perguntou-me para onde eu ia. Eu não sabia ainda, mas ia à procura de feijão. Sugeriu-me Palmitos, que ficaria no meio da produção, tinha correio e telégrafo - eu já sabia que não existiam bancos na região para operar com dinheiro, e também não havia telefone.
            Já de noite, cheguei ao hotel em Palmitos, moído, cansado e todo vermelho da poeira da estrada. Que aventura. Daquelas de contar mais tarde para os netos.
            De manhã falei com o hoteleiro para alugar uma casa. Sugeriu-me alugar um salão de baile que estava disponível, logo na esquina à esquerda do hotel e duas quadras abaixo. Aluguei-o por dois meses e aluguei também uma balança com rodas, para 300 Kg. Contratei um empregado local, que entendia de feijão e conhecia colonos produtores da região. Sondei o mercado e comecei as compras, pagando à vista no momento da entrega da mercadoria. A firma Trierweiler já era conhecida na região, e assim que acabou o dinheiro comecei a comprar fiado para pagar em dez dias, quando receberia novo lote de dinheiro.
          Na região, logo falaram que eu seria um “cobra” no comércio de feijão. Nem imaginavam que eu era apenas um reles principiante que tinha sido orientado a “sentir” o clima comercial e agir com independência.
             Eu sabia que o comércio de feijão era de alto risco. Permitia ou tirava resultados.
             Eu estava sempre com a pasta de dinheiro na mão e discretamente armado.           
            Telegrafei para Lajeado, pedindo mais dinheiro, e soube que as vendas do “meu” feijão estavam ocorrendo normalmente. Foi fácil.
            A Lucy foi trabalhar comigo aos 14 anos. Aos 18 nos casamos e com 20 anos tivemos o primeiro filho. Nas minhas ausências eventuais, ela assumia o comando do escritório. Em 1958 tornei-me o único gerente da Bom Retirense, assumindo também a gerência industrial, auxiliado cada vez mais pela Lucy. Ela trabalhou comigo por 10 anos. Em abril de 1959, a Bom Retirense trocou sua razão social para Trierweiler & Cia. Ltda.
 Seu Octávio mandou uma maleta de dinheiro para a Lucy em Bom Retiro do Sul para que fosse a Porto Alegre de ônibus, contatasse por telefone com a filial no cais do porto para completar o dinheiro necessário, recebesse a passagem da Varig para destino em Iraí e tomasse o avião DC3. Eu a estaria esperando no aeroporto rudimentar de Iraí. A Lucy jamais tinha viajado de avião e levaria sua bagagem e uma maleta com dinheiro para me entregar no desembarque. Projeto de uma imprudência irracional, mas deu tudo certo. Eu confiava no desembaraço da Lucy.
           No desembarque dela nosso olhos se cruzaram, com um sentimento de recíproco carinho e confiança. Ficaria alguns dias comigo em Palmitos.
            O que eu não sabia era que a região ainda estava sendo desbravada e a violência campeava. Hotéis e restaurantes precários, com banheiros “lá fora”. Quase não havia roubo, mas as brigas e assassinatos eram comuns. Muitos aventureiros. Logo na primeira tarde, a Lucy e eu ouvimos um alarido perto do hotel e fomos ver o que havia. Uma briga de dois compadres, que depois de umas e outras, estavam engalfinhados. Um deles mordeu e decepou com os dentes parte da orelha do outro. Gente fina e sangue à vontade.
            Paguei o feijão que devia e comprei mais um pouco para pagar quando voltasse de Lajeado, depois de levar de jipe a Lucy para Bom Retiro do Sul. Traria mais outra mala com dinheiro.
            Assim, entre idas e vindas de jipe, comprei feijão em janeiro e fevereiro, adquirindo experiência para voltar no ano seguinte. Voltei. Já havia, então, um banco em Palmitos. Exportei dezenas de cargas de feijão para o Rio de Janeiro. Correspondi às expectativas esperadas.
Em janeiro do ano seguinte, reiniciei as compras de feijão em Palmitos, no mesmo local e com o mesmo empregado, instruindo outro gerente da firma Trierweiler a substituir-me na segunda quinzena até meados de fevereiro, quando se encerrariam as compras.
            Nos dois verões seguintes, no mesmo jipe, fui incumbido de comprar arroz em casca dos rizicultores de Taquari, Rio Pardo, Venâncio Aires, General Câmara e Candelária, indo nos sábados e voltando no dia seguinte.  Um atoleiro atrás do outro. Comprei arroz com casca tipo japonês e blue rose - então, os únicos existentes nas lavouras e hoje já desaparecidos.
            O gerente da filial de Mariante, meu colega e primo-irmão Loreno Lopes foi o meu substituto em Palmitos e o parceiro na compra de arroz.
       Em 1961 mudei de residência para Encantado e fui nomeado diretor superintendente da Cosuel, matadouro frigorífico de suínos. Entrei também no ramo de óleos vegetais, rações balanceadas, supermercado, leite em Arroio do Meio, vinho em Nova Bréscia e erva mate em Burro Feio, no município de Anta Gorda.
            Palmitos e similares nunca mais. Não se abusa da sorte.

Leandro Lampert
Historiador

Outubro de 2017


lampertele@bol.com.br           leandrolampertblogspot.com.br

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

MEUS AMIGOS JUDEUS

MEUS AMIGOS JUDEUS

            Em fevereiro de 1944, na juventude dos meus quinze anos, comecei a trabalhar na ACIL, em Lajeado, na função de “mandalete” (hoje office boy). Alem dos trabalhos de rua (bancos, correio, repartições públicas, pequenas compras e impressão de cópias em mimeógrafo à tinta), fui treinado para, nos finais de quinzena, emitir guias de aquisição de estampilhas na coletoria estadual, relativas ao Imposto de Vendas e Consignações para os contribuintes do fisco estadual - comerciantes e industriais, associados da ACIL. Na guia, constariam o nome e a inscrição de cada um e a descrição da quantidade e valor dos selos, até atingir o valor quinzenal do imposto. Como todos deixavam para pagar no último dia da quinzena, havia acúmulo de trabalho e eu colaboraria com os demais funcionários atrás do balcão.
            Logo de início, Jary Jaeger - o colega que me ensinara - me disse: “Leandro, atenda esta pessoa”; e afastou-se. Perguntei o nome do interlocutor, o qual me respondeu: “Nathan Wechsler”. Escrevi o Natan sem o agá, pedi para ele soletrar seu sobrenome, sua inscrição e ele me ditou os selos que ele precisava, num linguajar com sotaque estrangeiro, terrível de entender. Depois de alguma demora, dei a guia para ele assinar. Conferindo, me disse: “falta o agá no meu prenome”, e tive de começar outra guia. O cidadão estava com pressa e nervoso - e eu meio sem jeito. Conferida a guia, assinou-a e eu lhe disse: “Na próxima vez, traga um papel com seu nome e inscrição e o valor total do imposto, e deixa que eu discrimino os valores dos selos”. Fez um aceno com a mão esquerda e retirou-se. Notei que os meus colegas de balcão estavam se divertindo às minhas custas e davam sorrisos marotos da minha dificuldade como aprendiz. Nathan entendeu perfeitamente que o utilizaram para me passar um trote e deve ter resolvido amparar-me.
            No fim da quinzena seguinte, fiz-lhe um aceno e ele passou-me um papel, com os dados que eu lhe pedira. Fiz a guia, ele conferiu, assinou e afastou-se com um gesto com a mão que interpretei como um até logo. Dali em diante, por opção dele, fui o único a atendê-lo nos próximos três anos e meio que trabalhei na ACIL Meus colegas o chamavam o “amigo do Leandro”. Nunca tive um diálogo com o Nathan. Apenas uma simpatia recíproca.
          Eu queria trabalhar na indústria, pois estava recém formado com o título de “contador” (estudei à noite) e era a área da minha preferência. Pedi demissão e fui trabalhar no escritório do frigorífico de suínos e bovinos de Ritter & Cia., em Lajeado, e nunca mais vi meu amigo Nathan.
            Em 1949 fui emancipado e convidado à ser gerente administrativo do frigorífico Sociedade Bom Retirense de Produtos Suínos Ltda. em Bom Retiro do Sul (dois km além da vila), onde exerci a função durante mais de onze anos. Enquanto solteiro, morei cinco anos dentro da fábrica.
            Em 1956, uma grande enchente ocorreu no rio Taquari. O frigorífico ficava na barranca do rio e acima das águas. Normalizado o nível do rio, os funcionários me informaram que uma pedra de mármore estava, a meio barranco, encravada no meio da vegetação e entulho.  Retirado o mármore, surpreendeu seu tamanho. Media 80 x 180 e com uma polegada de grossura, retificado em três lados. Impecável.
   Tornado público, ninguém se apresentou para reclamá-lo e ficou encostado a uma parede externa dum prédio.          
   Tempos depois, estava sentado em minha mesa de trabalho e ouvi alguém falar. “Com licença, boa tarde”. Aquela voz, sotaque e nariz eram inconfundíveis. Logo perguntei: “Oi Nathan, o que você está fazendo aqui?” Surpreso: “Leandro...”. Deu-me um sorriso, lembrando-se de mim.
   Disse-me que soubera por aí que tínhamos encontrado uma pedra de mármore na barranca do rio e ela talvez fosse dele, perdida quando sua loja de móveis novos e usados no Passo de Estrela foi atingida pela enchente do rio Taquari em 1956. Argumentei que sua loja fica vinte quilômetros rio acima e pedi-lhe que descrevesse a pedra. Sua informação coincidiu com a pedra que tínhamos encontrado na barranca do rio e concluí que era mesmo a dele.
  Eu disse-lhe: “Encoste teu caminhãozinho, porque vou chamar dois operários para colocá-la na carroceria”. Colocada a pedra no veículo, desceu e tirou do bolso uma gorda carteira de dinheiro e perguntou-me: “Quanto paga?” “Não paga nada Nathan, a pedra é sua e pode levá-la”. Notei que seu olhar era de descrença e em seguida de alegria.
 Estava sempre com pressa. Despediu-se e vi a sua mão abanando pela janela do veículo até sumir-se da vista. Nunca mais o vi.
 Em 1961 fui morar em Encantado e assumi o cargo de Diretor do frigorifico da Coop. dos Suinocultores de Encantado Ltda.
Lá também havia uma única família de judeus: Jacob Markus Katz. Eu frequentava o Lyons Clube e o Markus e sua esposa - D. Berta - também.
Um dia, depois de terminada uma reunião, vi que o sobrenome paterno de D. Berta era Wechsel.
- Conheci um Nathan Wechsel em Lajeado. Era seu conhecido?
- Era o meu pai.
Contei as histórias da guia de imposto e a cena da pedra de mármore. Eles desconheciam e rimos bastante dessa descoberta, tantos anos depois.
Markus tinha uma pequena loja de conserto de máquinas de costura e tinha um sítio onde criava suínos. Era sócio da Cooperativa e logo travamos laços de amizade. A suinocultura atravessava, mais uma vez, uma época de dificuldades e os criadores estavam descapitalizados. De vez em quando, de tardezinha ele aparecia para uma conversa.
Certa manhã ele apareceu com a fisionomia alterada e perguntou-me:
- Você viu na TV a guerra entre Israel e os árabes?
- Ví.
- Eu resolvi. Vou emigrar para Israel com minha família.
- Desejo uma boa viagem. Me diga quantos filhos você tem?
- Você sabe que eu tenho seis filhos homens.
- Seis soldados. Muito bom para Israel. Todo o mundo sabe que essas guerras religiosas são cruéis e o número de mortos sempre é muito grande, mas você com seis filhos e com um pouco de sorte, lhe restarão três ou quatro vivos, número suficiente para deixar herdeiros.
Bati pesado.
Nisto tocou o telefone e atendendo fiquei olhando para ele. Seu olhar ficou distante. Chocado, levantou-se e foi embora enquanto eu terminava meu telefonema. Sumiu.
Dias depois, terminada a guerra, apareceu de manhã, sorridente,
Você viu, mais umas vez o David matou o Golias.
Nunca mais falou-se em emigração para a Israel.
Um dia, ele procurou-me, pois decidira criar frangos de corte e contou-me seu problema: Tinha dinheiro só para comprar os 2.000 pintos e necessitava de financiamentos  de rações balanceadas da Cosuel para o prazo de até 90 dias e sem juros. (O frigorífico de aves demorava mais trinta dias para pagar e novo lote já estaria em andamento). Markus foi o pioneiro na criação industrial de frangos na região de Encantado.
O nutricionista da Cosuel era eu mesmo. Fui um dos 14 brasileiros selecionados para usufruir de curso gratuito sobre nutrição animal patrocinado pelo Ministério da Agricultura dos EEUU em 1957. Frequentei o North Carolina Land Grand College em Raleigh durante dois meses. Entendia do assunto, mas nunca testara em escala uma criação de aves para aquilatar a conversão física e econômica de empreendimento. A pequena venda de ração para aves não comportava o custo de um teste adequado.
Fiz uma sugestão: “Vou lhe atender, mas você se compromete a registrar todos os custos decorrentes, assim com o a conversão do alimento em peso vivo, o percentual de mortalidade, conversão econômica e me relatar”. Negócio fechado.
Meticuloso, Markus era o homem adequado a conduzir o teste.
Depois perguntou-me: “e se o lote der prejuízo?” “Conversaremos”.
          Tudo na mais absoluta confiança recíproca.
         Como os resultados foram satisfatórios e a Cosuel continuou financiando o Markus até que em breve sua conta corrente se equilibrou com naturalidade. Tive a confirmação do valor nutritivo da ração da Cosuel, dentro do esperado.
          Em 1972 fui morar em Serafina Corrêa e nunca mais vi o Markus. Soube que D. Berta havia falecido.
           Um dia, em Xangri-Lá, um dos filhos do Markus procurou-me e deu-me um livro com uma série de 51 crônicas saborosas semanais dele na rádio de Encantado: Filósofo de aldeia.
       Mandei para ele um exemplar do meu livro: Os Lampert – Origens, História e Genealogia.
            Markus, aos 95 anos, foi chamado por Jeová e deixou na paisagem de Encantado a sua participação ativa na história da comunidade.

Leandro Lampert
Historiador

Outubro de 2017


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