quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A GRANDE BATALHA QUE NÃO HOUVE


O COMBATE DE TAQUARI EM 8 DE MARÇO DE 1840


            Em 1949 mudei de residência de Lajeado para Bom Retiro do Sul - distrito do município de Taquari - por motivos profissionais. Morei lá durante 12 anos. Meu filho primogênito é conterrâneo do David Canabarro, Taquariense nato.
            Por ser sede do município, eu iria pelo menos uma vez por mês à cidade, para atender afazeres burocráticos. Tive contato e fiz muitas amizades, entre eles com José Leite da Costa, Engº Agrônomo, filho do advogado Adroaldo Mesquita da Costa, mais tarde ministro da Justiça do Brasil - e que também morava em Taquari.
            Povo generoso e cordial. Só guardei boas lembranças,
          Em Bom Retiro do Sul, envolvi-me em atividades ligadas às tradições gaúchas. Fui um dos fundadores do CTG Querência da Amizade, em 1957, e seu terceiro patrão. Misturávamos cultura riograndense e revolução farroupilha. Foi o início do meu interesse pela história gaúcha e que nunca mais teve fim.
            Sabedor do combate de Taquari, achei no Google a foto do monumento comemorativo e lembrei que estive há muito tempo no local para conhecer a área dos Caramujos nos arredores da cidade, o Passo de Taquari, a ilha do Passo Velho. Transpondo o rio em direção à General Câmara, indaguei ao barqueiro o sítio exato do final a contenda.


MONUMENTO DO COMBATE EM TAQUARI (GOOGLE)

            Interessado numa relíquia, pedi ao meu amigo José Leite Costa (o Zé), que tentasse obter uma arma encontrada no rescaldo da refrega - uma garrucha ou uma ponteira de lança de cruzeta - e me informasse o preço. Deu em nada.
            Em 1962 fui morar e trabalhar em Encantado e, algum tempo depois, o Zé se apresentou no meu escritório portando um sabre de cavalaria sem bainha, “doado” por um morador vizinho dos caramujos. Não esquecera a minha encomenda. Logo vi que o Zé comprara o sabre e não quis cobrá-lo de mim. Era bem típico dos açorianos de Taquari.
            Examinando o sabre, constatei que a lâmina dele, “Solingen”, era mais grossa e mais pesada do que as demais que eu tinha também da época farrapa (tinha quase o dobro da largura). Deveria ser portada por um homem vigoroso. Os copos do sabre já com folga, demonstraram o tempo de “serviço” da arma e não havia dúvida sobre a sua antiguidade. Pela fonte e pelo aspecto, admiti a sua legitimidade. Vide foto.


            Desejando escrever crônica a respeito da origem do sabre e do combate de Taquari, procurei nos livros históricos que herdei do meu pai, nos que eu havia adquirido e também no Google, material histórico que orientasse a minha crônica. Com surpresa, constatei que quando mencionado o combate, havia apenas frases esparsas e sem valor real. Tentei contato com outros historiadores e recebi sempre a mesma resposta. Não tinham nenhum conhecimento efetivo.
            No Google, vi o nome do historiador taquariense Riograndino da Costa e Silva (primo do Zé) e passei a procurar seu livro – São José do Taquari. Consegui xerox do tema que me interessava.
            O livro reproduz crônicas de Othelo Rosa, publicadas no jornal O Taquaryense a partir da edição de 1° de julho de 1939, que mostrarão o roteiro a ser seguido em resumo por esta crônica.
            Em Taquari e seus arredores, na zona compreendida entre os arroios Pinheiros e do Moinho, no ano de 1840 o governo imperial e os republicanos rio-grandenses mobilizaram os maiores efetivos da guerra que, durante todo o decênio, estiveram face a face (pág. 193).
       Em números globais: as forças legais, sob o comando do Gal. Manoel Jorge Rodrigues, 7.000 homens; as hostes republicanas comandadas pelo Gal. Bento Gonçalves da Silva, 6.000 homens.
           O Império e a novel República jogariam, no lance, cartada perigosa e decisiva. Bento tinha necessidade de resolver logo a parada com os imperiais, que dia após dia aumentavam em número e armamento suas forças e qualquer demora seria fatal.
Manoel Jorge não tinha pressa. O correr do tempo estava ao seu lado.
             Bento, ao lado de David Canabarro, Netto e suas tropas (incluindo Garibaldi, Anita e seus marinheiros a pé), chegou primeiro e escolheu um local favorável às suas armas, com um leve declive à sua frente, a existência de um arroio e um mato fechado que garantia seu flanco esquerdo. Posicionou seus três canhões à frente da infantaria, a cavalaria na retaguarda (apta a manobrar) e se preparou para ser atacado pelos imperiais. Manoel Jorge, prudente e acautelado, se posicionou à pequena distância e, vendo a posição favorável do inimigo, preparou-se também para ser atacado e ficou aguardando. Sua cavalaria, no momento, não estava em sua melhor forma.
            Bento vacila (surpreendido pela inércia de Manoel Jorge), não desfere o golpe e adia o encontro para o dia seguinte. Se sucedem pequenas escaramuças e combates de cavalaria. A noite cai sem batalha. Ao madrugar do dia, uma cerração densíssima envolvia Taquari, que só se dissipou às 10 horas da manhã. Foi então que os farroupilhas, tomados de espanto, verificaram que o inimigo desaparecera. Indescritível o desespero no acampamento farroupilha. A retaguarda dos imperiais ainda estava terminando de atravessar o rio.
            Bento manda carregar e ataca os remanescentes entrincheirados na barranca do rio, sendo que eles estavam sustentados por uma barca a vapor e navios a vela, com seus canhões direcionados aos atacantes. Novamente surpreendido, Bento, em pequenas escaramuças reage e, pelo número de mortos de cada lado - 201 Imperiais e 270 farroupilhas mortos - verifica-se que apenas pequenos grupos se defrontaram. Número irrisório ante a possibilidade evidente de uma carnificina num corpo a corpo generalizado.
          Manoel Jorge, recuando, preservou seu exército de um possível desastre. O desgosto entre os chefes farroupilhas iria prejudicar-lhes grandemente a unidade de ação. Bento, como comandante indeciso, foi responsabilizado e criticado asperamente.
            Bento Gonçalves da Silva perdeu a última oportunidade de um confronto “tudo ou nada”. Jamais se repetiria.
            Bento recuou com seu exército para o sítio de Porto Alegre.  Canabarro e Netto dirigiram-se para suas regiões na campanha.
            A revolução seguiu seu curso natural e até a paz surgir, ceifaria a vida de muitos combatentes.
            Tentativas de paz foram realizadas, mas havia um ponto inegociável pelos dois lados. Os farrapos queriam um acordo entre dois países e o império considerava os farrapos como revolucionários dentro do estado do Rio Grande do Sul. Não seria um país. Não tinha uma constituição, fronteiras definidas e aceitas pelos vizinhos, não era reconhecido pelos demais países, não enviara embaixadores nem os recebera, não convocara eleições entre a população.
          Somente em 1845 os farrapos (de má vontade) aceitaram que seriam todos anistiados. Convocaram 27 oficiais do exército farrapo que, de comum acordo entre eles, aceitariam a paz com os imperiais condicionando que o Império atendesse uma série de condições entre elas a libertação dos escravos que lutaram ao lado dos farrapos. O Império simplesmente ignorou essa cláusula e nenhum farrapo reclamou. Podiam tê-lo feito, mas não libertaram nem seus próprios escravos companheiros de luta.
            A paz foi selada verbalmente e documentada em 28 de fevereiro de 1845 por  declarações formais dos líderes farrapos David Canabarro e Lucas de Oliveira, em nome de José Gomes Vasconcellos Jardim. Consideraram a luta terminada e em 1º de março, por proclamação do Barão de Caxias aos seus comandados, informando que os revoltosos já haviam deposto as armas, aceitaram a anistia e estavam novamente congraçados como súditos de S. M. I. Dom Pedro II.
           Caxias determinou que os Farrapos que se dirigissem ao Ponche Verde para entrega dos escravos e dos armamentos. Netto inclusive.
              Um obelisco em Ponche Verde comemora que naquele local a paz foi assegurada.


GARIBALDI

            Garibaldi, navegador e teórico da república, foi condenado à morte pela corte Genovesa, então parte do reino da Sardenha e Piemonte, cujo rei era Carlos Alberto de Savóia. Dessa forma, teve que evadir-se de sua Itália por participar da fracassada insurreição contra o sistema de governo monárquico existente. Na época, o rei era a última instância do condenado a ser executado. Poderia solicitar o perdão ou a transformação da pena capital em prisão.
      Foi para a França e foi novamente perseguido. Fugiu para a Tunísia e depois para o Rio de Janeiro.
           Com assistência da maçonaria teve uma entrevista com Bento Gonçalves, autoridade militar da República Rio-Grandense e prisioneiro em fortaleza Imperial no Rio de Janeiro.  Afinados, acertaram que lhe seria outorgada pela república uma Carta de Corso, que o habilitaria a atacar e apreender navios de guerra ou de comércio com bandeira do Império juntamente com suas cargas, em troca da metade do butim.  Em seu pequeno barco, tremularia pela primeira vez nos mares o pavilhão tricolor farrapo. A Carta de Corso mencionava que o barco deslocava 120 toneladas.
            A novel república lhe facilitaria o acesso aos portos marítimos que dispusesse, assim como os dos “países amigos” para reabastecimento.
               Em poucos dias, Garibaldi conseguiu tripulação (a maioria de italianos expatriados como ele) e um pequeno barco de cabotagem, que deslocava 20 toneladas – denominado de Mazzini. Armou um pequeno canhão no convés, escondido entre mercadorias, e aproou ao  oceano em  busca  de presas. Junto com elas, também alcançou a imortalidade.
    Em mar aberto, sob ameaça, abordou o navio de carga Luiza e tomou-o.  Renomeou o barco apreendido como  Farroupilha. Trasladou-se para o novo barco e desfraldou a bandeira farrapa. Após, afundou o Mazzini.  Como corsário honrado, não tocou nos tripulantes, passageiros e  seus    bens pessoais. Mais ao sul, deixou-os em terra firme sãos e salvos.
              Após tentar vender o produto do primeiro saque em Maldonado – 54 toneladas de café em grão –, foi perseguido pela marinha uruguaia.  Entrando em águas argentinas, foi atacado, sendo ferido no pescoço. Foi preso e teve o seu barco  confiscado, bem como o produto do saque apreendido.  Esteve em relativa liberdade pessoal em uma pequena vila, onde restabeleceu-se.  Na segunda tentativa de fuga a cavalo, via Uruguai, chegou a Piratini, onde se apresentou para lutar pela república.
            Na Argentina, aprendeu a cavalgar. Guerrear, aprendeu com os farrapos.  Construiu em Camaquã dois barcos (o Seival e o Rio Pardo) e praticou atividades de corso nas águas interiores do RS. Ajustou com a república que o resultado do saque aos navios de comércio do Império brasileiro seria divididos em três partes iguais, cabendo uma delas a ele próprio. Mais tarde, cercado no rio Capivarí, conduziu os navios por terra até o mar em Tramandaí. Porém, apenas o Seival chegou a Laguna, onde participou da tomada da cidade. O Rio Pardo naufragara em águas de Santa Catarina. Como corsário, reiniciou com sucesso a prática de saques de navios cargueiros do Império, contando com uma esquadrilha de três barcos que atuavam em conjunto: O Rio Pardo, navio capitânea (ex Itaparica), comandado por Garibaldi, o Seival e o Caçapava.  Lá conheceu e enamorou-se por Anita que seria sua valorosa companheira.
          Meses depois, derrotado junto com os farrapos em Laguna e após o colapso da República Juliana, perdeu todos os barcos e o butim obtido com as atividades de corso que praticou nas imediações do porto de Laguna, retirando-se por terra para o sul.
           Acossado em Curitibanos, teve que aceitar o combate e deixou Anita, juntamente com alguns soldados, em guarda da munição. Derrotado, fugiu para o RS, deixando Anita prisioneira do Império. Anita evadiu-se sozinha e foi ao encontro de Garibaldi. Já grávida, encontrou-o dias após em Vacaria.
          Ao se dirigirem para o sul, os Farrapos encontraram oposição armada na vila do Imarui. Canabarro, irritado, determinou a Garibaldi que tomasse a vila pelas armas e autorizasse o saque das moradias. Não encontraram riqueza e sim muita bebida alcoólica. Desvairados, praticaram estupros, roubo de objetos, violências.  Garibaldi menciona o fato em suas memórias. Este ato foi o seu único arrependimento no Brasil.
            Acompanharam o exército farrapo em retirada até Viamão, onde ficaram “abrigados”, certamente em casa alheia.
            Mais tarde, com a gravidez de sete meses e sem lar, Anita acompanhou os mil farrapos na aventura fracassada de tomar o porto de São José do Norte.
             Nos arredores de Mostardas, foi abrigada em rancho de pescadores – família Costa –, aguardando o parto.  Garibaldi seguiu para a batalha.  Derrotado outra vez em 15 de julho, fugiu novamente. Poucos dias antes de nascer seu filho, foi ao encontro de Anita. Nascido o filho Menotti em 16 de setembro de 1840, constatou que não havia roupas adequadas para a criança nascida em inverno rigoroso. Dirigiu-se a cavalo à Viamão, onde conseguiu auxílio de outro italiano para comprar as roupas. Retornando a Mostardas, não encontrou mais a mulher e a criança, que por temor dos Imperiais, fugira com seu filho para os matos, onde Garibaldi os encontrou.
           Os Farrapos determinaram que o casal fosse mais uma vez abrigado em casa abandonada, à beira da Lagoa dos Patos, junto a foz do rio Capivari.
           Garibaldi, Anita e o filho, no começo de 1841, acompanharam a retirada dos exércitos farrapos de Setembrina (Viamão), subindo a serra até Vacaria, com atrozes sofrimentos, frio e fome. Dali para Passo Fundo, Cruz Alta e finalmente São Gabriel. Participaram de batalhas como vencidos e vencedores, sem que houvesse qualquer resultado definitivo. Em suas memórias, a nomeia de “ritirata disastrosa”.
           Garibaldi compreendeu que a revolução não tinha mais futuro de vitória e sucesso pela inexistência de um porto marítimo.  A paz tinha só um impasse. Os farrapos queriam um acordo entre países e o Império oferecia anistia geral aos insurretos. A República Rio-Grandense jamais foi reconhecida como país por qualquer outra nação. Nem pelo Uruguai. Quatro anos após, a anistia finalmente foi aceita a contragosto, com o custo de centenas de vidas perdidas inutilmente em batalhas que não levaram a nada. Um arremedo de acordo de paz em Ponho Verde, foi e ainda hoje é veiculado como sendo verdadeiro. O Império jamais assinou qualquer acordo com os Farrapos.
          Em março de 1841, com aprovação de Bento Gonçalves e na maior miséria, decidiram ir de São Gabriel para o Uruguai, donde mais tarde iriam para a Itália. Garibaldi recebeu pelos serviços que prestara à república 900 bovinos como pagamento. Mau tropeiro, chegou a Montevidéu só em junho, com cerca de 300 esquálidas cabeças de gado que foram vendidas para pagar o custo dos tropeiros contratados e os primeiros gastos em Montevidéu. Havia pedido anistia, prometendo não mais combater contra o Império.  Foi-lhe concedida.
           Poucos anos antes de partirem do Uruguai para a Itália, Anita, com mais filhos, já casada anteriormente em SC, ao acreditar no falecimento do seu primeiro marido contraiu um segundo casamento com Garibaldi.
             Pesquisadores nunca encontraram a sepultura do seu ex-marido.
          Anita apresentou-se na igreja como solteira e analfabeta (mesmo que trocasse cartas com Garibaldi), e por isso não assinou a documentação. O casamento foi em dia impróprio – Sábado de Aleluia – e não foi realizado pelo pároco e sim por um padre alheio àquela igreja. Foram dispensados os proclamas e Garibaldi deu um relógio de ouro ao padre oficiante. A mãe de Garibaldi jamais aceitou esse casamento como válido, sendo por isso motivo de contínuas desavenças entre elas.
           Durante certo período 17 de junho de 1841 até 15 de abril de 1848 –  combateu no empobrecido Uruguai ao lado do presidente José Fructuoso Rivera, que lhe atribuiu o comando da pequena esquadra de três navios de guerra em lutas internas e contra o ditador argentino Rosas. Derrotado em combate, mais uma vez, mandou incendiar a frotilha. No Uruguai, como mercenário mal pago, foi sempre um enteado da sorte. Viveu em extrema dificuldades financeiras, suportadas com coragem por Anita. Em 27 de dezembro de 1847, mandou a esposa e filhos para a Itália e logo seguiu-os. Lá, em outra fuga continuada após mais derrotas e fugas na Itália, Anita (grávida novamente) encontrou a morte sem qualquer assistência. Garibaldi, acuado, reiniciou a fuga e solicitou a terceiros que sepultassem Anita. Com medo dos austríacos que proibiam qualquer auxilio aos rebeldes, o fizeram em surdina em cova rasa, clandestina, num monturo e com medo de peste, arrastaram-na com uma corda pelo pescoço. Cinco dias após, apareceu o braço da Anita. Avisada a polícia austríaca, o legista, em razão de marcas de corda no pescoço e traqueia rompida, atestou, erradamente, morte de Anita por enforcamento e denunciou Garibaldi como assassino. O falecimento natural de Anita foi, na verdade, assistido por várias pessoas. Com o atestado de óbito, foi levada em uma carroça e sepultada num pequeno cemitério. Somente dez anos depois, seus despojos foram trasladados para uma sepultura condigna.
             A História dignificou-a como figura exemplar, estoica, esposa, mãe e guerreira. Hoje existe em Laguna museu e estátua em sua homenagem. Seus valores servirão de modelo pois, mesmo não tendo nascida gaúcha, é orgulho nosso.
           Em suas memórias, Garibaldi faz mínimas referências à Anita e aos farrapos. Lamentou não dispor na Itália de cavalaria igual à dos exércitos farrapos.
               Há mais em outras fontes: O padre em exercício da vice-presidência da República Juliana, em Laguna, entrou sem avisar na sala do general e deparou-se com Canabarro, de calças arriadas, mantendo relação sexual com uma lagunense encostada em sua escrivaninha. Saiu aos gritos de “vi o demônio”. Lá se finalizou a ruptura entre os Farrapos e a República Juliana.
             Após a retirada dos Farrapos, o padre foi encontrado nas ruas de Laguna, morto, nu e castrado.
         Tempos depois, em nova situação política na Itália, Garibaldi foi o herói que congregou todas as forças e levou à unificação do seu país.  Apesar de ser um antimonarquista declarado e ativo, Garibaldi acabou encontrando a glória ao contribuir para a unificação da Itália sob a monarquia de Vitor Emanuel II, filho de Carlos Alberto, soberano da Sardenha que abrangia Gênova – e cuja corte condenara Garibaldi à morte em 1834, mais de vinte anos antes, por atividades violentas contra a monarquia. Quem diria.
             Carlos Alberto de Savóia era rei da Sardenha e Piemonte em 1832 e pai de Vitor Emanuel II, rei da Sardenha e Itália unificada, de 23-3-1849 a 17-3-1861. Lutou para que o filho do rei que o condenara a morte fosse o rei que unificaria a Itália.
            Terminada a luta, Garibaldi recebeu do rei, como compensação de sua participação nos combates, a propriedade de toda a ilha de Caprera, onde bem mais tarde faleceu.
             Esta é a vida de um controverso aventureiro, mercenário, soldado da fortuna, que nunca lutou sem vantagem econômica.
      Os povos necessitam ter heróis para reverenciar.
                 
Bibliografia: Entre outros, livros: História de Santa Catarina, do lagunense Oswaldo R. Cabral – Editora Laudes (vide Google),  Anita Garibaldi, de Paulo Markun – Editora SENAC – São Paulo.- ZH de 7-9-2011 pg 29, Dicionário Farroupilha – Garibaldi e a Guerra dos Farrapos, de Lindolfo Collor. – Vitor Emanuel II da Itália de Marcos Júnior (Wikipédia - Google) – Expedição dos Mil (Wikipédia)


A seguir, biografia de Vitor Emanuel II e relato da “Expedição dos Mil”, encontrado Wikipédia no Google.
CLUBE  TIRO  E  CAÇA  –  SUA HISTÓRIA


            O Tiro de Guerra 236, sociedade civil com estatutos registrados em Cartório, foi fundada em 20 de agosto de 1916, era proprietária de sobrado sito na Rua Santos Filho, 275 em Lajeado.  Cumpriu seus objetivos até 1945, quando os cursos de ensino militar particulares foram encerrados no Brasil.

Restou um patrimônio imobiliário, gravado com um contrato de comodato com o Ministério da Guerra, só extinguível com o encerramento das atividades da Sociedade e liquidação do patrimônio que, por imposição estatutária, seria doado às entidades assistenciais de Lajeado. O imóvel também achava-se hipotecado junto à Cooperativa Banco Popular de Lajeado (Caixa Rural), gerenciada por Jacob Scheid Sobr., em garantia de empréstimo para adquirir a sede na cidade. Estava com seus compromissos financeiros em dia e restava ainda um saldo a pagar para liberar a hipoteca.

Surgiu a ideia de, aproveitando a existência de razoável patrimônio líquido, criar um novo clube com a venda do acervo, com outros objetivos sociais, bem como pagar a Caixa Rural e investir numa área com bosque na periferia da cidade, criando um clube campestre. Logo evoluiu para um Clube de Caçadores, existentes em todo o mundo desde a idade média.

Em Lajeado, pelo menos um terço dos homens adultos caçava a fauna nativa, durante todo o ano, sem distinção de espécie. Não havia limites e poucos tinham registros de armas e licenças de caça. Não havia fiscalização.

Alem da caça desenfreada, o desmatamento e mais tarde o uso de inseticidas na lavoura, estava levando a fauna à extinção.

O novel clube colaboraria com a Federação dos Clubes de Caçadores do RS na divulgação de regulamento indicando espécies, quantidade, épocas e rotatividade de áreas rurais e proibindo a caça de espécies que estavam em risco de extinção. Pela primeira vez, parte da população estava compreendendo o que era ecologia e defesa do meio-ambiente. Os próprios associados fariam respeitar as normas.

Tudo parecia fácil, mas as dificuldades logo se apresentaram. Primeiramente, o Ministério da Guerra recusou-se a liberar o contrato de comodato que garantia a disponibilidade de residência para o sargento instrutor, sala de aula, depósito de munições e local para o armamento. Aceitava a mudança do objetivo, mas exigia que no novo nome da sociedade – que sucederia o Tiro de Guerra – tivesse a palavra TIRO, deixando evidente a dependência com o Exército. Em lugar de Clube dos Caçadores e por decorrência da palavra Tiro, a diretoria da nova sociedade teve que mudar o nome pretendido para Clube Tiro e Caça, que não agradou a ninguém. Exigia que o novo imóvel assumisse o contrato de comodato, em vigor até hoje e uma entidade que avalizasse esse compromisso. O prefeito nomeado Ruy Azambuja (procurado por Mário Lampert e um Coronel do exército devidamente credenciado), no mesmo ato, editou documentos que a Prefeitura Municipal de Lajeado assumiria, se fosse exigida, essa responsabilidade.

Restou a opção: Transigir com Clube Tiro e Caça ou nada. Deu Clube Tiro e Caça. Um nome não faz um clube e sim um clube faz um nome.

Formalmente a diretoria do Clube Tiro e Caça tratou de vender a sede do antigo Tiro de Guerra 236, adquirir na periferia da cidade uma área rural com mata nativa e resgatar a hipoteca na Caixa Rural. Da terra adquirida, seria reservada uma área (menos da metade), de frente para o rio Taquari, destinada a um loteamento cuja receita cobriria as deficiências financeiras da compra da área rural e os futuros gastos com o cercamento da propriedade, terraplenagem, iluminação, água e construção da pedana de tiro ao prato, sede social, aquisição de um aparelho de lançamento dos pratos alvos e máquina manual de fabricação de pratos, aproveitando os cacos dos pratos acertados pelos atiradores, mão de obra etc. O bosque restante seria preservado.

A área destinada ao loteamento era localizada em duas quadras paralelas, abrangendo três quarteirões grandes e dois pequenos. Provavelmente de 60 a 70 terrenos, entre as ruas 26 de janeiro e 17 de dezembro, em todo o comprimento da compra. Os terrenos demarcados e anteriormente desmatados foram vendidos à vista diretamente pela diretoria e sem intermediários. Norberto Zart coordenou a venda dos lotes. Em Lajeado e naquele local, os terrenos valiam pouco. O bairro chamava-se por razões óbvias, Neggerberg (Morro dos Negros) e perto de uma casa de baixo meretrício denominada “Martelo”. Não havia ruas, nem água e nem luz.Tinha dificuldade de acesso nas enchentes. Era região de má fama.

Um dia, perguntei ao meu pai – Como vai o loteamento?. – Todos os terrenos estão vendidos, menos um que ninguém quis comprar por ser maior, mais caro e ter as quatro faces com metragem diferentes. Fui ver o terreno e o comprei. Muitos anos depois, após considerar que eu jamais voltaria a residir em Lajeado, vendi o terreno para Sérgio Roberto Jaeschke Jaeger. Cito esses detalhes para que hoje se localize até onde ia o loteamento (vide mapa ao final).

No período em que Mário Lampert era prefeito municipal, foi construída e inaugurada a caixa d água da Corsan, dando fim ao tormento dos poucos moradores locais e valorizando o bairro que se chamaria Hidráulica. A partir daí, a área se desenvolveu.

Lembro de um fato curioso. Tornou-se necessária a derrubada de cerca de quinze árvores para a construção da estrada de acesso à sede social e da pedana. Num domingo e no início das obras, nos deparamos com quinze covas no chão, destinadas ao plantio de quinze essências vegetais comuns na região. As mudas estavam dentro de latas de compotas vazias cujos fundos haviam sido retirados. Meu pai convidou cerca de dez presentes para apadrinharem o plantio das mudas que compensariam as árvores derrubadas.

Tomou uma pá e soterrou a primeira muda de cerca de 70 cm de altura, com lata e tudo, sob palmas, emoção e muitas risadas. Passou a pá para Mário Jaeger plantar a sua, que a repassou para Norberto Zart, Carlos Pereira Marques, Diamantino Cerutti e os demais. Fui o último a plantar a “minha” árvore e as restantes todos ajudaram. Não sei se ainda poderia localizá-la.

Assim Lajeado recebeu de presente – e graças a um pequeno número de associados, um amplo clube que hoje (70 anos após sucessivas e competentes diretorias) alcançou o estágio atual e que conta com um patrimônio físico, cultural e social que ostenta com orgulho. Um Clube novo, sem custo e sem dívidas. Uma façanha. Um pugilo de abnegados e uma meta definida. Liderança, planejamento e execução. Creio que o Clube teria no máximo duzentos associados.

Após os primeiros vinte anos dedicados exclusivamente ao seu quadro de atiradores e amantes da natureza, realizando treinamentos e torneios de tiro ao prato em diversas solenidades anuais (eu fui o vencedor num concurso anual de tiro ao prato, denominado Rui Lopes, com direito a taça. Dante Moraes foi o vice).

Encarecimento da munição, da licença anual de caça e porte de arma de fogo, redução da fauna e custo de deslocamento fez diminuir o número de associados e a própria diretoria, sendo Mário Lampert o presidente, entendeu que deveria aceder aos apelos da população ainda não associada e diversificasse as atividades de CTC, criando quadras de tênis e outros esportes, assim como piscinas de recreação. Outras atividades sociais e culturais que agregassem número maior de associados, especialmente a juventude.

Mário Lampert, muitas vezes reeleito presidente, entendeu que seu tempo já havia passado e uma diretoria completamente renovada e com outras lideranças traria o sucesso almejado. Assim foi e assim será. Hoje, o CTC é referência positiva como clube social.

Eu, filho e neto de ex-presidentes do Tiro de Guerra, filho do primeiro presidente do CTC e hoje verificando que eu sou o único ainda vivo entre os vinte que assinaram a ata de fundação em 1946 e que participou ativamente na estruturação do Clube, desejo com este depoimento, legar à diretoria e associados a minha visão sobre o nascimento e vida do CTC, sucedendo o Tiro de Guerra criado há um século.  

Almejo à atual e cada nova diretoria sucessos sem precedentes e registro o meu orgulho em ter participado do nascimento do Clube Tiro e Caça.