sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Livro - Os Lampert (Origens) 05

           
Q U A R T A   E M I G R AÇ Ã O


Encontramos no Arquivo Público em Porto Alegre, livro C333, pg. 157, a chegada de mais um Lampert ao Brasil em 26 de março de 1846. PETER JACOB LAMPERT, com 10 anos de idade. Viajou pelo brigue prussiano Leopold até o Rio de Janeiro e de lá até Porto Alegre pelo brigue Bella Manoella. (brigue e bergantim - navios à vela, com dois mastros).

             Inicialmente, duvidamos da veracidade da informação, pois jamais um menino dessa idade emigraria sozinho e somente muito tempo depois a entendemos.
            Ainda que constatamos que as informações por pesquisas eram verdadeiras  depois de mais de 20 anos, nos mostraram que o menino e seus acompanhantes partiram de Bremen, via Dunquerque  pelo brigue acima citado,  e chegaram em 21 de julho de 1845. ao Rio de Janeiro, viajando durante 45 dias.
            Como durante a revolução Farroupilhas, as imigrações realizadas para o RS Brasil pelo Império foram suspensas, por razões óbvias, os que desejavam emigrar e estavam se preparando para isso, ficaram somente com duas opções: Permanecer na Alemanha ou aceitar a oferta da Província do Rio de Janeiro, que estava convidado famílias para o povoamento de Petrópolis – RJ
            Sem outra alternativa, optaram viajar  para o Rio de Janeiro. Pelo menos já estariam no Brasil. Depois seria depois.
            Chegados, foram assalariados pela Província para trabalhar nas obras civis do palácio de verão da família Imperial, anexos e estradas de acesso, completamente fora de suas profissões, agricultores, alfaiates, professores, artesão de calçado, etc. Passaram as maiores dificuldades.
            Quando tiveram conhecimento do término do movimento separatista farrapo, um grupo de 27 famílias com 120 membros, encaminhou  petição ao Imperador, solicitando autorização e ajuda para vir para o RS onde  os seus parentes os esperavam. Obtiveram despacho favorável, reiniciando a viagem interrompida durante oito meses.
            Constava a data do desembarque e procuramos o registro de chegada dos imigrantes realizado na Feitoria, em São Leopoldo pelo diretor da colônia, Dr. Hillebrand e pela data localizamos com quem ele viajou.
             Ele veio juntamente com a família evangélica de Peter Jacob Wasem e foi identificado na Alfândega como “criado”.  Observamos que a qualificação de “criado” era uma forma legal de trazer uma pessoa que não fosse da família, mas que deveria ter laços que a justificassem. Acreditamos que deveria ter sido um afilhado, pela repetição do nome do padrinho, fato comum naquela época. Provavelmente era um sobrinho e órfão. No registro do Fundo Documental da Imigração e Terras, aparece como filho (Arquivo Público). Peter Jacob Wasem radicou-se em Picada Verão, Dois Irmãos, onde já viviam os descendentes da 1ª emigração. È muito provável que também tivesse sido orientado e vindo para Dois Irmãos por convite dos seus parentes. Igual como no raciocínio que fizemos na 3ª emigração, acreditamos que ele fosse um filho de outro sobrinho do genearca Johann Jacob Lampert, da 1ª emigração. Nascera no mesmo ano de 1836 que o emigrante da 3ª emigração e portanto, não poderia ser irmão dele.
            Peter Jacob Wasem (também Wassem ou Wasum), agricultor, nascido em 1802 imigrou juntamente com sua esposa Anna Elisabeth Gülsdorf, com a mesma idade, naturais de Dürnkirchen, Birkenfeld, Rhein-Pfalz, região vizinha dos imigrantes da primeira emigração. Foi residir em Dois Irmãos em 1846, onde já morava a família de Johann Jacob Lampert, 1ª emigração. Com ele vieram três filhos:
            Maria Katharina Wasem, 1827, casou-se no Brasil com Jacob Wasem (de outra família) e o seu filho mais velho chamou-se também Jacob Wasem. Seu pai, seu irmão, seu marido e seu filho chamavam-se todos Jacob Wasem. Deve ter sido uma bela confusão.
            Margareth Wasem, 1834. Encontramos sua confirmação na igreja de Dois Irmãos em 4.4.1847. Casou-se com Wilhelm Ritzel.
            Jacob Wasem, 1836, foi confirmado em 8.4.1849.
            E mais o “criado” Peter Jacob Lampert, em1836.
            Não encontramos logo sua confirmação em Hamburgo Velho, pois a procuramos pelo sobrenome Lampert.  A encontramos na mesma data e local, como sendo Peter Jacob Wasem, por erro nos registros da Igreja, no mesmo local e data da confirmação de seu irmão de criação Jacob Wasem.
            Mais tarde, ainda em Picada Verão, localizamos o falecimento da esposa em 1.3.1852 (inaugurou o cemitério) e novo casamento de Peter Jacob Wasem com Margaretha Renner. Ao nascer o novo filho do segundo casamento, o padrinho foi o nosso Peter Jacob Lampert aos 18 anos de idade. Foi a última referência pessoal que tivemos desse Lampert.
             Constatamos que o genro de Peter Jacob Wasem, casado com a filha mais velha, permaneceu na propriedade, pois seus filhos foram lá batizados.  Encontramos o casamento do Jacob (o filho imigrante), com Catharina Renner. Pai viúvo e filho casaram com viúva e sobrinha. Desse casamento nasceram pelo menos dois filhos - Catharina Guilhermina Wasem e Felipe Wasem, moradores na margem esquerda do Rio Forqueta (afluente do rio Taquari) e subordinados, na época, à igreja evangélica de Conventos, no interior de Lajeado. O filho imigrante deve ter ficado morando ali com seus filhos, mas do  jovem Lampert nunca mais tivemos qualquer notícia. Simplesmente desapareceu. Continua o mistério do desaparecimento do Peter Jacob Lampert, da 4ª emigração, até uma eventual e improvável descoberta do resto de sua vida. É quase nula a possibilidade de descobrirmos algum descendente. Talvez encontremos seu falecimento ainda jovem. Não faleceu em Dois Irmãos, nem em Brochier, nem em Linha Franck e nem em Conventos, pois verificamos todos os livros de óbitos da época. Talvez pode ter sido sepultado com o sobrenome de seu pai de criação Wasem e escapado da nossa pesquisa feita exclusivamente pelo sobrenome Lampert, ou ainda, em cemitério de localidade próxima.      
               Algumas famílias Wasem ainda permanecem lá. Algumas hoje se assinam Wassem e ainda Vasem. Também nos registros evangélicos de Linha Franck, então município de Estrela, durante a mesma época, as famílias Lampert da 1ª, e 3ª emigação residiram no mesmo local e na mesma época.  Mais uma razão de acreditarmos nos parentescos conhecidos entre todas as quatro emigrações.
Os demais Lampert que vieram para o Brasil, igualmente, eram todos evangélicos, religião predominante na região de partida. Não encontramos nenhuma referência daquela época, de que existissem Lampert católicos na Alemanha.
            Vemos que o genearca dessa imigração também se chamava Jacob, nome ancestral mais vezes repetido no passado do que qualquer outro em nosso trabalho. O segundo nome mais utilizado foi Carlos e suas variantes Carl e Karl. O terceiro foi Johann.
            É interessante observar, que todos os quatro imigrantes tiveram pelo menos um dos prenomes Johann ou Jacob, ou ambos, em seu registro de nascimento. Na numeração das quatro imigrações, não observamos a cronologia de chegada, como seria lógico, e sim, a ordem em que foram descobertas e confirmadas no nosso trabalho. 1827, 1848, 1857 e 1846. Esta última imigração somente descobrimos anos mais tarde e ficou fora de ordem. Não cabe agora uma mudança de numeração, mesmo porquê não encontramos nenhum descendente.
                                         

SOBREPOSIÇÃO DE LOCAIS E ÉPOCAS ENTRE AS IMIGRAÇÕES

DOIS IRMÃOS – Johann Jacob Lampert, patriarca da primeira emigração, já se encontrava residindo desde 1827
                    - 1849 Peter Jacob Lampert e seu irmão de criação Jacob Wasem  receberam a confirmação luterana na igreja de Hamburgo Velho.
                    - 1-3-1852 Ana Elizabeh Guldsdorf Wasem foi sepultada  em Picada Verão
                  - 29-10-1854 Peter Jacob Lampert batizou o primeiro filho de Jacob Wasem.

TEUTÕNIA - 1834 - Johann Adam, segundo filho da 1ª emigração transferiu-se de Dois Irmãos e passou a residir nas terras de sua esposa - vva. Maria Catharine Windrath e lá seus descendentes permanecem até hoje;
                 - 1884 a 1892 Johannes (1ª), filho do imigrante mais velho, teve 7 filhos entre 1884 e 1892               
                  - 1867 - Johann  (3ª) residiu lá entre 1867 e 1877, tendo 6 filhos;
                  - 1882 - O mesmo, entre 1882 e 1886 teve mais 3 filhos;

 BROCHIER – Encontramos o casamento de Peter Jacob Wasem em segundas núpcias com Magaretha Renner. Ao nascer o novo filho, o padrinho foi o nosso Peter Jacob Lampert, em 1854, com 18 anos de idade. Foi a última referência que tivemos desse Lampert
                    Após 1861 Carl Michel radicou-se e seu filho
                      - 1867 - Johann Friedrich (1ª) lá nasceu e residiu. Sua descendência permanece até hoje nas localidades vizinhas de Tabaí, Morro Azul e Paverama;
                    Até 1913 seus filhos Clemens Peter, Catharina, Adam Jacob, Carl Friedrich e Clemens mantiveram registros na igreja de Brochier. Sua filha Paulina tem descendentes lá até hoje
               - 1878  a 1881 - Johannes-  (1ª), irmão de Carl Michel, nasceram três filhos seus, batizados em Conventos;

CONVENTOS - 1874 Johann  (3ª) batizou sua filha Juliana nascida em Teutônia, e demais filhos até o ano de 1880;                       
                - 1880 a 1883 Johannes (1ª) batizou três filhos nascidos em Brochier.
                 - 1873 - Jacob Wasem , (4ª) e casado com Catharina  Renner, sobrinha da viúva que casou com seu pai,  batizou o segundo filho, Felipe Wasem e outros três.                                                                                            
Até o início da Revolução Farroupilha, em 1835, o RS recebia cerca de 1000 imigrantes germânicos por ano, movimento devidamente supervisionado pelo governo imperial. Levas de imigrantes em trânsito eram uma constante e a eclosão da revolta Farroupilha     impossibilitou o     controle dos assentamentos.         O Império simplesmente suspendeu as imigrações que vinha patrocinando para o RS e os colonos que já haviam tomado a resolução de emigrar tiveram só duas escolhas: permanecer na Europa ou aceitar o convite para emigrar para a cidade de Petrópolis, na Província do Rio de Janeiro.  Aceitaram-no. Talvez fosse bom, talvez não. Na verdade, queriam mesmo era se estabelecer junto aos seus parentes que já se encontravam na Província do RS e que os estavam esperando.
As revoluções são temporárias, mas a Farrapa se estenderia por dez anos.     
A família de Peter Jacob Wasem partiu de Bremem, via Dunquerque, na  Europa, pela nau Leopold, e chegou após 45 dias de viagem, em 21 de julho de1845 e foi  conduzida ao seu destino contratado. Depois seria depois. A contragosto,lá permaneceram como assalariados  durante nove meses. 
 A Província do RJ conduziu os imigrantes para trabalhar na construção do palácio de verão da família Imperial em Petrópolis e estradas de acesso. Não era o que os imigrantes desejavam. Queriam era trabalhar na terra.
Como dissemos, em 1835 cessou completamente o fluxo de imigrantes para o RS. Somente em 1844 iniciou-se modesto recomeço de chegada de colonos alemães, apenas 66. A partir de 1846 atingiu-se a plenitude e recordes de imigração.
        Encerrado o decênio revolucionário em 1845, os colonos que tinham  anteriormente optado para se assentar em Petrópolis,  tomaram as medidas que seriam necessárias para, finalmente, chegar ao RS e encontrar seus parentes. Sabiam onde estavam.
 Encaminharam petição ao Imperador, nos termos seguintes:

"Senhor! 
        "Com infinitésima veneração que é devida a Vossa Majestade Imperial, dizem   os colonos abaixo assinados, para esta Côrte chegados, expedidos pela casa Delrue & Cia., na cidade de Dunquerque, com a nau prussiana "Leopold", o francês "Marie" e o  inglês "Agripina", por custas da Província do Rio de Janeiro. 
       "Eles os ditos Colonos são  obrigados à Província, pôr este ato de benignidade e amarrados a ela com suas qualidades. Porém os suplicantes são gente bem destra na cultura do arroz e em nenhum ramo da indústria eles podem ficar tão útil neste Império e explicar seus sentimentos de agradecimentos, como naquele. Por conseqüência disto, eles dirigem-se humildemente para a clemência de Vossa Majestade Imperial rogando que lhes  queira conceder aos suplicantes ir para a Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, aonde a Agricultura está na maior flor e aonde eles já tem seus parentes e conhecidos, dos quais eles receberão assistência para o seu estabelecimento econômico. 
  "Os suplicantes confessam com muita vontade, como eles ante a evidência disto, tem de restituir ao Governo da Província do Rio de Janeiro, as despesas de viagem da Alemanha para o Rio de Janeiro; e com muita vontade eles declaram-se prontos a prestar a sua obrigação; porém uma parte deles está inteiramente tão pobre, que não tem nada; uma outra parte tem só pouco, assim que para os tais é impossível; desta razão eles rogam a Vossa Majestade Imperial que lhes queira
determinar a restituição das despesas por sua viagem da Alemanha para lá, que foi a Província do Rio de Janeiro; e eles declararam-se prontos assinar um documento por cuja virtude eles serão obrigados   a pagar as suas dívidas na Tesouraria do Império em tempo de três anos, e por certeza do Governo, eles prestarão fiança com todos os seus  bens, especialmente com o terreno que eles esperam da benignidade de Vossa Majestade Imperial, com todas as suas benfeitorias; sobre isto prestarão todos juntos fiança por cada um em espécie, assim  se  um  escapar  os  outros  todos  pagarão  pôr  ele  ao  Governo  a  sua dívida, a respeito das despesas de viagem.   "Finalmente os Suplicantes dirigem ainda mais esta petição para clemência de Sua Majestade Imperial de conceder-lhes o benefício, mandá-los para o Rio Grande de São Pedro do Sul com uma Nau do Império e livre das despesas de viagem. Nunca eles acabarão de oferecer os sacrifícios de seus agradecimentos pela sua diligência e fidelidade na sua esfera da atividade e veneração com que serão de Vossa Majestade Imperial submissos vassalos. Por isto.

                               Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1845. 

1.    Nicolau Schuck com 1 mulher e 8 filhos 
2.     Pedro Wolf com 1 mulher 
3.    Nicolau Schaefer com 1 mulher e 5 filhos 
4.    Miguel Bender com 1 mulher e 5 filhos 
5.    Matias Ohlweiler com 1 mulher e 10 filhos
6.     Pedro Scherer com 1 mulher e 5 filhos 
7.    Jacob Wilbert com 1 mulher e 4 filhos 
8.     Henrique Filper com 1 mulher e 6 filhos
9.     Pedro Borniger com 1 mulher 
10. Ludovico Grassmann com 1 mulher e 3 filhos 
11. Francisco Filipo Filper com 1 mulher e 3 filhos 
12.  George Palen 1 mulher e 5 filhos 
13. Henrique Plenz, solteiro 
14. Andreas Zanius, mulher e 4 filhos 
15. João Link com mulher e 2 filhos 
16. Cristovão Bender com mulher e 7 filhos 
17. Matias Muller com mulher e 4 filhos 
18. João Kopp com mulher e 4 filhos 
19. Henrique David Heidrich com mulher e 4 filhos 
20. I.D. Heidrich, solteiro
21.   Francisco Sauvrassig com mulher e 2 filhos 
22. Jacob Wagner, solteiro 
23. Nicolau Engelmann com mulher 
24   Henrique Strassburger 
25  PETER JACOB WASEM com mulher e 4 filhos (entre eles PETER JACOB LAMPERT, 4ª emigração, enteado, filho de um primeiro casamento de sua mãe Elisabeth Gülsdorf e  pela repetição dos prenomes, seu afilhado).  
26  Jacob Kaspar 
27  Filipo Strassburger 

             Obtiveram aprovação do seu pleito e em 26 de março de 1846 finalmente, chegaram à Porto Alegre pelo brigue Bella Manoella e foram distribuídos segundo os interesses de cada um. Peter Jacob Wasem (20-12-1801) casou com a viúva e sua segunda esposa Elisabeth Gülsdorf (11-1902 e 1-3-1852) e mãe do Peter Jacob Lampert, vieram para Dois Irmãos, depois Brochier e finalmente para Conventos, sempre com seus parentes Lampert ali residentes. Constatamos que nosso Peter Jacob Lampert – não descobrimos o nome do pai dele - recebeu confirmação na igreja de Hamburgo Velho (com sobrenome Wasem) em 1849, junto com seu irmão de criação Jacob Wasem e batizou uma criança, filha de seu  padrasto, em terceiras núpcias, com Margaretha Renner em Brochier, em 1854. Depois disso, desapareceu dos registros. Não encontramos descendentes nem óbito. Talvez algum dia encontremos seu túmulo em Brochier, Maratá, Poço das Antas ou Salvador do Sul.
 Localizamos que o filho de Peter Jacob Wasem, de nome Jacob Wasem, casado com Catharina Renner, em 1873, batizou seu segundo filho Felipe e mais três na igreja evangélica de Conventos em Lajeado. Constatamos que pai viúvo e filho, desposaram tia viúva e sobrinha.
              Essa, a saga de 27 famílias, 120 pessoas. Atendendo ao convite do Império, se dispuseram a vir para o Brasil buscando felicidade e farturas prometidas. Momento inoportuno e circunstâncias alheias as desviaram de seus objetivos iniciais. Sem esmorecimento lutaram e lutaram.


H I S T Ó R I A S

            Os Lampert de todas as quatro emigrações professavam a religião evangélica, predominante na região onde nasceram. É possível acompanhar os casamentos dos descendentes dos emigrantes que se mantiveram na região que colonizaram. Continuaram rigorosamente evangélicos e somente casaram com cônjuges de origem alemã, pelo menos até a segunda grande guerra em 1939. Apenas os descendentes dos emigrantes que trocaram os locais de residência para cidades de colonização exclusivamente portuguesa  é que casaram com cônjuges dessa origem e adotaram ou não a religião católica. Bem mais tarde é que surgiram os casamentos com descendentes de italianos ou outras  etnias. A partir de 1960, lentamente iniciou-se o desaparecimento dos preconceitos de origem. Pesquisamos mais de 2.300 casamentos e acreditamos que cerca de 85% dos Lampert sejam evangélicos.
            Pela existência de um brasão de armas de uma família Lampert, que poderia sugeri-lo, muitos parentes nos procuraram para saber se não descendiam de alguma família com título de nobreza. Nada disso. Nossos antepassados eram gente do povo e não encontramos sequer indícios que os nossos Lampert poderiam descender, no mínimo, de algum fidalgote bastardo. Entretanto, nada impede que o usemos. Fomos inquiridos se o castelo dos Lampert ainda estava de pé, pergunta talvez motivada porque a região dos Lampert pertencia ao principado de Lichtenberg. Ora, cada principado tem um príncipe e cada príncipe deve ter seu castelo. Encontramos apenas uma Lampert, de Novo Hamburgo, casada com descendente de emigrante cujo sobrenome nos registros da igreja era antecipado pela preposição von (de) e ao lado do nome do seu avô havia a menção de Baron (Barão).
            Publicamos abaixo a fotografia da residência do emigrante alemão Carlos Clemente Kersting, casado com Maria Catarina Lampert, quarto filho da primeira emigração, que mandou construí-la no ano de 1882. Ha mais de 130 anos vem passando de pai para filho. O atual proprietário é Clemente Milton Lampert Barreto. A casa está situada na Av. Belo Ferreira, 19 em Triunfo - RS. Note-se a adaptação do imigrante ao meio, construindo uma residência no mais autêntico estilo colonial português, igual à todas da cidade, em lugar de fazê-lo no estilo enxaimel usado pelos imigrantes alemães, como poderia ser esperado. O telhado em frente à casa, protege os transeuntes do sol e da chuva. Lá passamos um dia agradável com o proprietário e sua esposa Nely.
           Os descendentes de emigrantes alemães que trocaram de residência para região de colonização portuguesa, também passaram a dar para seus filhos prenomes inconfundivelmente lusos e se adaptaram logo aos usos e costumes locais.
            Não se esperava que os colonos utilizassem escravos, pois justamente a emigração tinha por objetivo estabelecer o trabalho livre nas pequenas propriedades, preparando o caminho para a abolição da escravatura que mais cedo ou mais tarde deveria acontecer. Era também uma experiência social. Havia raras exceções. Jacob Blauth, juntamente com seus filhos Peter e Wilhelm Blauth, casados com as irmãs Philippine e Elisabetha Lampert, 2ª emigração, 1ª e 3ª filhas, em Dois Irmãos, possuíam no mínimo um casal de escravos, pois batizaram e deram seu sobrenome a uma criança negra, nascida em 02.09.1842, a quem deram o nome de Johann Peter Adam Blauth. Isto revela que mesmo havendo escravatura, existiam relações humanitárias entre amos e escravos. Os grilhões e o cepo aviltantes eram desconhecidos na colônia. Podemos imaginar o negrinho Johann falando alemão e brincando de igual para igual com seus "parentes" loiros. O filho Peter foi o padrinho. Cabe observar que o batizando era “propriedade” de Jacob Blauth e nos registros da igreja evangélica não constavam, como seria óbvio, os nomes dos pais da criança.  Como os proprietários dos escravos também tinham pequena indústria domiciliar, justificava-se a presença deles, proibida para os agricultores a partir de 1854. 

             No índice de “profissões” em Dois Irmãos, apenas as famílias Blauth e Sperb foram apontadas como “proprietárias de escravos”. Número sem significação em relação ao total de agricultores.                  
            Até ha pouco tempo desconhecíamos a permanência dos Lampert em Brochier. Tivemos a curiosidade de saber por que se chamava assim, pois era um raro topônimo de origem francesa no RS. Em 1834, dois irmãos,  Auguste e Jean Honoré Brochier, franceses, provenientes de Marselha, chegaram ao Brasil e se apossaram de grande área de terras devolutas de mato  na Serra Geral de Montenegro. Foram os primeiros estrangeiros a tentar colonizar área povoada pelos bugres na região ao norte do rio Caí. As terras planas contíguas ao rio Caí até os contrafortes da Serra Geral já haviam sido doadas como sesmaria aos paulistas, catarinenses e gaúchos que retornaram das guerras platinas. Lá, os franceses permaneceram, mesmo confrontando-se com os bugres, que praticaram assassinatos e seqüestras, constituíram famílias e lotearam parte de sua enorme propriedade para os descendentes dos emigrantes alemães que colonizaram os primeiros povoamentos em São Leopoldo e Dois Irmãos. Legaram seu nome para localidade, hoje município pujante e um exemplo de pioneirismo. Parte dos seus descendentes lá permanece até hoje.
            Carl Michel, 1841-1915, 1ª emigração, 1º filho teve dez filhos que colonizaram a região de Brochier. Seu 2º filho, Clemens Peter 1863-1893 faleceu de tifo, deixando quatro filhos e a esposa grávida de mais um. Nascido o filho, a esposa Ernestine Catharina Pilger, faleceu em seguida, também vitimada pelo tifo. Seus cinco filhos, de 0 a 6 anos, foram distribuídos em três famílias de tios, pois nenhuma família, ja numerosa, poderia absorver todos de uma vez, separando irremediavelmente os irmãos.
            Havia na região um jovem negro, de nome Paulino, escravo alforriado, que prestava serviços eventuais na lavoura, nas propriedades dos colonos e com compaixão dos órfãos, dedicou-se sempre que possível, a arrebanhar as crianças e fazê-las conviver juntas por um dia numa das famílias que as adotaram, diminuindo a saudade da separação. Paulino jamais foi esquecido, cresceu em conceito e respeito junto à comunidade. À seguir, mostramos  a fotografia do “Nego” Paulino junto com duas das crianças, Pauline e Clemens Johann, tirada provavelmente em 1894. As duas crianças deixaram enorme descendência.  O fotógrafo não foi muito feliz. Fotografou um negro, vestido de roupa preta em fundo escuro. Seu gesto de solidariedade e sua fisionomia passarão para a história como exemplo positivo no meio da desgraça. Talvez nem sobrenome tivesse. Foi ele, fluente também em alemão, que ensinou o português às crianças, uma vez que, como de hábito, aprendiam em casa o alemão e só mais tarde eram alfabetizadas também em português. O órfão caçula faleceu aos seis anos de idade ainda em Brochier. Esta história nos foi narrada por Erneu Leopoldo Becker, de Brochier, neto de Pauline, a criança mais velha e confirmada por Oscar Edgar Lampert, de Coqueiros do Sul, neto do irmão seguinte de Pauline, Clemens Johann. Este também nos contou ainda a seguinte história de tragédia e coragem.
           Sua tia, Leontina Lampert, 1923, também filha do Clemens Lampert, um dos órfãos acima, logo após a transferência de residência de Morro Azul (perto de Brochier), Montenegro para o distrito de Carazinho, hoje município de Coqueiros do Sul, teve sua família de 5 irmãos, um cunhado e sua mãe atacados por surto de tifo em 1945. Então, com 23 anos, atendeu sozinha, durante três meses, o tratamento caseiro com banhos frios aos afetados pela doença, pois seu pai, um dos órfãos, que era cardíaco, faleceu no mesmo período. Providenciou no sepultamento do cunhado e do pai, mas salvou os restantes. Graças à solidariedade dos vizinhos, que cuidaram dos trabalhos da lavoura e criação, conseguiu superar as dificuldades e sobreviver. A desgraça estava sempre presente. Passou a residir com seus familiares em Palmitos, SC.
            A existência de um ex-escravo naquela região despertou curiosidade e nos levou em busca de maiores informações sobre a escravidão na região limítrofe entre a colonização portuguesa e a alemã em Montenegro, com suas naturais e recíprocas influências. Em Montenegro, em 1884 foi fundado o Club Abolicionista e entre os seus fundadores encontramos, em menor número, descendentes de germânicos, alem dos dois franceses. Consta na ata da fundação a concessão de liberdade para 158 escravos (36 de propriedade dos colonos teutos).    Provavelmente, a grande maioria  alforriou todos os escravos menores. Como as crianças continuariam morando com seus pais, a independência só se tornaria efetiva quando atingissem a maioridade, mas já era um primeiro passo e o ato manifestou a consciência e o desejo efetivo de acabar voluntariamente com a escravidão. Só em 1885 D. Pedro II determinou a alforria dos
maiores de 60 anos e em 1888 a Princesa D. Izabel  promulgou o fim da escravatura no Brasil.                                  


 Eu e minha esposa, visitamos Brochier em maio de 2004, percorremos os arquivos da igreja evangélica, juntamente com Erneu Leopoldo Becker e fotografamos a singela igreja de Batinga, fundada em 1880, a mais antiga da região, que como era praxe legal, foi erguida sem torre. Só mais tarde foi levantado, ao lado, um campanário com sino importado da Alemanha. Também fotografamos, no cemitério junto à igreja, o túmulo de Carl Michel que causou a polêmica troca de cemitério.    

                                    KARL LAMPERT EM SÃO MARTINHO

         Karl Lampert deve ter casado com Catarina Kruel em São Leopoldo, pois ninguém com esse sobrenome morou em Dois Irmãos.. Dali foram para Taquari.

  O seu primogênito Carlos Frederico, foi registrado em  Taquari em 1851.
  O sétimo filho, Rosa foi registrado em Santa Maria em 1861
  O décimo quarto, Cristiano Sezefredo foi registrado em São Martinho em 1874

Eu creio que foram direto de Taquari para São Martinho e registraram em S. Maria por não haver, no momento, cartório ali. Meu avô Leopoldo me contou que nasceu em São Martinho (o seu registro é de S. Maria)

MICHAEL LAMPERT EM SANTA MARIA

            Michael também deve ter casado com Katharina Butze em São Leopoldo, pois  não encontrei ninguém  com esse sobrenome  em Dois Irmãos.
            O primeiro filho do casal, Carlos, foi registrado em S.Leopoldo em 1843;
            Os seguintes: Klemens, Michael Adam, Jacob, Carolina, Abraham e Adam nasceram em Dois Irmãos entre 1845 e 1854;
             O último, Peter, nasceu em Taquari em 1858
Verificamos que os dois irmãos e suas famílias moraram ao mesmo tempo em Taquari e ambas as famílias devem ter partido em fins de 1860 para Santa Maria.
           Santa Maria ainda deveria estar decadente, em decorrência da Revolução Farroupilha: Campos despovoados de gado, proprietários e filhos  mortos  em combate, dívidas e impostos não pagos, viúvas desamparadas, inimizades, decepção e pobreza geral.
            Mercado atraente para quem dispusesse de energia e dinheiro ou crédito para adquirir propriedades rurais em ruína à venda. Foi o que fizeram.
            Michael foi engajado nas fileiras do exército Imperial em 7-5-1838 e lutou até o centro do Estado. Após, foi-lhe determinado que voltasse às suas origens, juntamente com seu cunhado Cap. Carlos Clemente Kersting e o irmão deste, major Fernand August Maximilian Kersting, afim de, com demais voluntários, combater o banditismo praticado por desgarrados, expulsos e desertores do exército Farrapo, que estavam praticando assaltos, roubos e assassinatos na região de Dois Irmãos. Cumpriram o que lhes foi ordenado.

             Vemos que Michael entrou para o exército em 1838, lutou durante três anos e teve o seu primeiro filho em 1843, antes do fim da revolução. 

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