Q U A R T A E
M I G R AÇ Ã O
Encontramos
no Arquivo Público em Porto Alegre, livro C333, pg. 157, a chegada de mais um
Lampert ao Brasil em 26 de março de 1846. PETER JACOB LAMPERT, com 10 anos de
idade. Viajou pelo brigue prussiano Leopold até o Rio de Janeiro e de lá até
Porto Alegre pelo brigue Bella Manoella. (brigue e bergantim - navios à vela,
com dois mastros).
Inicialmente, duvidamos da veracidade da
informação, pois jamais um menino dessa idade emigraria sozinho e somente muito
tempo depois a entendemos.
Ainda que constatamos que as
informações por pesquisas eram verdadeiras
depois de mais de 20 anos, nos mostraram que o menino e seus
acompanhantes partiram de Bremen, via Dunquerque pelo brigue acima citado, e chegaram em 21 de julho de 1845. ao Rio de
Janeiro, viajando durante 45 dias.
Como durante a revolução
Farroupilhas, as imigrações realizadas para o RS Brasil pelo Império foram
suspensas, por razões óbvias, os que desejavam emigrar e estavam se preparando
para isso, ficaram somente com duas opções: Permanecer na Alemanha ou aceitar a
oferta da Província do Rio de Janeiro, que estava convidado famílias para o
povoamento de Petrópolis – RJ
Sem outra alternativa, optaram
viajar para o Rio de Janeiro. Pelo menos
já estariam no Brasil. Depois seria depois.
Chegados,
foram assalariados pela Província para trabalhar nas obras civis do palácio de
verão da família Imperial, anexos e estradas de acesso, completamente fora de suas
profissões, agricultores, alfaiates, professores, artesão de calçado, etc.
Passaram as maiores dificuldades.
Quando tiveram conhecimento do
término do movimento separatista farrapo, um grupo de 27 famílias com 120
membros, encaminhou petição ao
Imperador, solicitando autorização e ajuda para vir para o RS onde os seus parentes os esperavam. Obtiveram
despacho favorável, reiniciando a viagem interrompida durante oito meses.
Constava a data do desembarque e
procuramos o registro de chegada dos imigrantes realizado na Feitoria, em São
Leopoldo pelo diretor da colônia, Dr. Hillebrand e pela data localizamos com
quem ele viajou.
Ele veio juntamente com a família evangélica
de Peter Jacob Wasem e foi identificado na Alfândega como “criado”. Observamos que a qualificação de “criado” era
uma forma legal de trazer uma pessoa que não fosse da família, mas que deveria
ter laços que a justificassem. Acreditamos que deveria ter sido um afilhado,
pela repetição do nome do padrinho, fato comum naquela época. Provavelmente era
um sobrinho e órfão. No registro do Fundo Documental da Imigração e Terras,
aparece como filho (Arquivo Público). Peter Jacob Wasem radicou-se em Picada
Verão, Dois Irmãos, onde já viviam os descendentes da 1ª emigração. È muito
provável que também tivesse sido orientado e vindo para Dois Irmãos por convite
dos seus parentes. Igual como no raciocínio que fizemos na 3ª emigração,
acreditamos que ele fosse um filho de outro sobrinho do genearca Johann Jacob
Lampert, da 1ª emigração. Nascera no
mesmo ano de 1836 que o emigrante da 3ª emigração e portanto, não poderia ser
irmão dele.
Peter Jacob Wasem (também Wassem ou
Wasum), agricultor, nascido em 1802 imigrou juntamente com sua esposa Anna
Elisabeth Gülsdorf, com a mesma idade, naturais de Dürnkirchen, Birkenfeld,
Rhein-Pfalz, região vizinha dos imigrantes da primeira emigração. Foi residir
em Dois Irmãos em 1846, onde já morava a família de Johann Jacob Lampert, 1ª
emigração. Com ele vieram três filhos:
Maria Katharina Wasem, 1827,
casou-se no Brasil com Jacob Wasem (de outra família) e o seu filho mais velho
chamou-se também Jacob Wasem. Seu pai, seu irmão, seu marido e seu filho
chamavam-se todos Jacob Wasem. Deve ter sido uma bela confusão.
Margareth Wasem, 1834. Encontramos
sua confirmação na igreja de Dois Irmãos em 4.4.1847. Casou-se com Wilhelm
Ritzel.
Jacob Wasem, 1836, foi confirmado em
8.4.1849.
E mais o “criado” Peter Jacob
Lampert, em1836.
Não encontramos logo sua confirmação
em Hamburgo Velho, pois a procuramos pelo sobrenome Lampert. A encontramos na mesma data e local, como
sendo Peter Jacob Wasem, por erro nos registros da Igreja, no mesmo local e
data da confirmação de seu irmão de criação Jacob Wasem.
Mais tarde, ainda em Picada Verão,
localizamos o falecimento da esposa em 1.3.1852 (inaugurou o cemitério) e novo
casamento de Peter Jacob Wasem com Margaretha Renner. Ao nascer o novo filho do
segundo casamento, o padrinho foi o nosso Peter Jacob Lampert aos 18 anos de
idade. Foi a última referência pessoal que tivemos desse Lampert.
Constatamos que o genro de Peter Jacob Wasem,
casado com a filha mais velha, permaneceu na propriedade, pois seus filhos
foram lá batizados. Encontramos o
casamento do Jacob (o filho imigrante), com Catharina Renner. Pai viúvo e filho
casaram com viúva e sobrinha. Desse casamento nasceram pelo menos dois filhos -
Catharina Guilhermina Wasem e Felipe Wasem, moradores na margem esquerda do Rio
Forqueta (afluente do rio Taquari) e subordinados, na época, à igreja
evangélica de Conventos, no interior de Lajeado. O filho imigrante deve ter
ficado morando ali com seus filhos, mas do
jovem Lampert nunca mais tivemos qualquer notícia. Simplesmente
desapareceu. Continua o mistério do desaparecimento do Peter Jacob Lampert, da
4ª emigração, até uma eventual e improvável descoberta do resto de sua vida. É
quase nula a possibilidade de descobrirmos algum descendente. Talvez
encontremos seu falecimento ainda jovem. Não faleceu em Dois Irmãos, nem em
Brochier, nem em Linha Franck e nem em Conventos, pois verificamos todos os
livros de óbitos da época. Talvez pode ter sido sepultado com o sobrenome de
seu pai de criação Wasem e escapado da nossa pesquisa feita exclusivamente pelo
sobrenome Lampert, ou ainda, em cemitério de localidade próxima.
Algumas famílias Wasem ainda
permanecem lá. Algumas hoje se assinam Wassem e ainda Vasem. Também nos
registros evangélicos de Linha Franck, então município de Estrela, durante a
mesma época, as famílias Lampert da 1ª, e 3ª emigação residiram no mesmo local
e na mesma época. Mais uma razão de
acreditarmos nos parentescos conhecidos entre todas as quatro emigrações.
Os
demais Lampert que vieram para o Brasil, igualmente, eram todos evangélicos,
religião predominante na região de partida. Não encontramos nenhuma referência
daquela época, de que existissem Lampert católicos na Alemanha.
Vemos que o genearca dessa imigração
também se chamava Jacob, nome ancestral mais vezes repetido no passado do que
qualquer outro em nosso trabalho. O segundo nome mais utilizado foi Carlos e
suas variantes Carl e Karl. O terceiro foi Johann.
É interessante observar, que todos
os quatro imigrantes tiveram pelo menos um dos prenomes Johann ou Jacob, ou
ambos, em seu registro de nascimento. Na numeração das quatro imigrações, não
observamos a cronologia de chegada, como seria lógico, e sim, a ordem em que
foram descobertas e confirmadas no nosso trabalho. 1827, 1848, 1857 e 1846.
Esta última imigração somente descobrimos anos mais tarde e ficou fora de
ordem. Não cabe agora uma mudança de numeração, mesmo porquê não encontramos
nenhum descendente.
SOBREPOSIÇÃO
DE LOCAIS E ÉPOCAS ENTRE AS IMIGRAÇÕES
DOIS IRMÃOS – Johann Jacob
Lampert, patriarca da primeira emigração, já se encontrava residindo desde 1827
- 1849 Peter Jacob Lampert
e seu irmão de criação Jacob Wasem
receberam a confirmação luterana na igreja de Hamburgo Velho.
- 1-3-1852 Ana Elizabeh Guldsdorf
Wasem foi sepultada em Picada Verão
- 29-10-1854 Peter Jacob
Lampert batizou o primeiro filho de Jacob Wasem.
TEUTÕNIA - 1834 -
Johann Adam, segundo filho da 1ª emigração transferiu-se de Dois Irmãos e
passou a residir nas terras de sua esposa - vva. Maria Catharine Windrath e lá
seus descendentes permanecem até hoje;
- 1884 a
1892 Johannes (1ª), filho do imigrante mais velho, teve 7 filhos entre 1884 e
1892
- 1867 - Johann (3ª) residiu lá entre 1867 e 1877, tendo 6
filhos;
-
1882 - O mesmo, entre 1882 e 1886 teve mais 3 filhos;
BROCHIER – Encontramos o casamento de Peter
Jacob Wasem em segundas núpcias com Magaretha Renner. Ao nascer o novo filho, o
padrinho foi o nosso Peter Jacob Lampert, em 1854, com 18 anos de idade. Foi a
última referência que tivemos desse Lampert
Após 1861 Carl Michel radicou-se e seu filho
- 1867 - Johann Friedrich (1ª) lá nasceu
e residiu. Sua descendência permanece até hoje nas localidades vizinhas de
Tabaí, Morro Azul e Paverama;
Até 1913 seus filhos Clemens Peter,
Catharina, Adam Jacob, Carl Friedrich e Clemens mantiveram registros na igreja
de Brochier. Sua filha Paulina tem descendentes lá até hoje
- 1878 a 1881 - Johannes- (1ª), irmão de Carl Michel, nasceram três
filhos seus, batizados em Conventos;
CONVENTOS - 1874
Johann (3ª) batizou sua filha Juliana
nascida em Teutônia, e demais filhos até o ano de 1880;
- 1880 a 1883 Johannes (1ª)
batizou três filhos nascidos em Brochier.
- 1873 - Jacob Wasem , (4ª) e casado com Catharina Renner, sobrinha da viúva que casou com seu
pai, batizou o segundo filho, Felipe
Wasem e outros três.
Até o início da Revolução Farroupilha, em 1835, o RS recebia cerca de
1000 imigrantes germânicos por ano, movimento devidamente supervisionado pelo
governo imperial. Levas de imigrantes em trânsito eram uma constante e a
eclosão da revolta Farroupilha impossibilitou
o controle dos assentamentos. O Império simplesmente suspendeu as
imigrações que vinha patrocinando para o RS e os colonos que já haviam tomado a
resolução de emigrar tiveram só duas escolhas: permanecer na Europa ou aceitar
o convite para emigrar para a cidade de Petrópolis, na Província do Rio de
Janeiro. Aceitaram-no. Talvez fosse bom,
talvez não. Na verdade, queriam mesmo era se estabelecer junto aos seus
parentes que já se encontravam na Província do RS e que os estavam esperando.
As revoluções são temporárias, mas a Farrapa se estenderia por dez
anos.
A família de Peter Jacob Wasem partiu de Bremem, via Dunquerque, na Europa, pela nau Leopold, e chegou após 45
dias de viagem, em 21 de julho de1845 e foi
conduzida ao seu destino contratado. Depois seria depois. A contragosto,lá
permaneceram como assalariados durante
nove meses.
A Província do RJ conduziu os
imigrantes para trabalhar na construção do palácio de verão da família Imperial
em Petrópolis e estradas de acesso. Não era o que os imigrantes desejavam.
Queriam era trabalhar na terra.
Como dissemos, em 1835 cessou completamente o fluxo de imigrantes para o
RS. Somente em 1844 iniciou-se modesto recomeço de chegada de colonos alemães,
apenas 66. A
partir de 1846 atingiu-se a plenitude e recordes de imigração.
Encerrado o decênio revolucionário em
1845, os colonos que tinham
anteriormente optado para se assentar em Petrópolis, tomaram as medidas que seriam necessárias
para, finalmente, chegar ao RS e encontrar seus parentes. Sabiam onde estavam.
Encaminharam petição ao Imperador,
nos termos seguintes:
"Senhor!
"Com infinitésima veneração que é devida a Vossa Majestade Imperial, dizem os colonos abaixo assinados, para esta Côrte chegados, expedidos pela casa Delrue & Cia., na cidade de Dunquerque, com a nau prussiana "Leopold", o francês "Marie" e o inglês "Agripina", por custas da Província do Rio de Janeiro.
"Com infinitésima veneração que é devida a Vossa Majestade Imperial, dizem os colonos abaixo assinados, para esta Côrte chegados, expedidos pela casa Delrue & Cia., na cidade de Dunquerque, com a nau prussiana "Leopold", o francês "Marie" e o inglês "Agripina", por custas da Província do Rio de Janeiro.
"Eles os ditos Colonos são obrigados à Província, pôr este ato de
benignidade e amarrados a ela com suas qualidades. Porém os suplicantes são
gente bem destra na cultura do arroz e em nenhum ramo da indústria eles podem
ficar tão útil neste Império e explicar seus sentimentos de agradecimentos,
como naquele. Por conseqüência disto, eles dirigem-se humildemente para a
clemência de Vossa Majestade Imperial rogando que lhes queira conceder
aos suplicantes ir para a Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, aonde a
Agricultura está na maior flor e aonde eles já tem seus parentes e conhecidos,
dos quais eles receberão assistência para o seu estabelecimento
econômico.
"Os suplicantes confessam com muita vontade, como eles ante a evidência
disto, tem de restituir ao Governo da Província do Rio de Janeiro, as despesas
de viagem da Alemanha para o Rio de Janeiro; e com muita vontade eles
declaram-se prontos a prestar a sua obrigação; porém uma parte deles está
inteiramente tão pobre, que não tem nada; uma outra parte tem só pouco, assim
que para os tais é impossível; desta razão eles rogam a Vossa Majestade
Imperial que lhes queira
determinar a
restituição das despesas por sua viagem da Alemanha para lá, que foi a
Província do Rio de Janeiro; e eles declararam-se prontos assinar um documento
por cuja virtude eles serão obrigados a pagar as suas dívidas na
Tesouraria do Império em tempo de três anos, e por certeza do Governo, eles
prestarão fiança com todos os seus bens, especialmente com o terreno que
eles esperam da benignidade de Vossa Majestade Imperial, com todas as suas
benfeitorias; sobre isto prestarão todos juntos fiança por cada um em espécie,
assim se
um escapar os
outros todos pagarão
pôr ele ao
Governo a sua dívida, a respeito das despesas de viagem. "Finalmente os Suplicantes dirigem ainda
mais esta petição para clemência de Sua Majestade Imperial de conceder-lhes o
benefício, mandá-los para o Rio Grande de São Pedro do Sul com uma Nau do
Império e livre das despesas de viagem. Nunca eles acabarão de oferecer os
sacrifícios de seus agradecimentos pela sua diligência e fidelidade na sua
esfera da atividade e veneração com que serão de Vossa Majestade Imperial
submissos vassalos. Por isto.
Rio de Janeiro,
13 de agosto de 1845.
1. Nicolau Schuck com 1
mulher e 8 filhos
2. Pedro Wolf com 1 mulher
3. Nicolau Schaefer com
1 mulher e 5 filhos
4. Miguel Bender com 1
mulher e 5 filhos
5. Matias Ohlweiler com
1 mulher e 10 filhos
6. Pedro Scherer
com 1 mulher e 5 filhos
7. Jacob Wilbert com 1
mulher e 4 filhos
8. Henrique Filper com 1 mulher e 6 filhos
9. Pedro Borniger
com 1 mulher
10. Ludovico Grassmann
com 1 mulher e 3 filhos
11. Francisco Filipo
Filper com 1 mulher e 3 filhos
12. George Palen 1 mulher e 5 filhos
13. Henrique Plenz,
solteiro
14. Andreas Zanius,
mulher e 4 filhos
15. João Link com mulher
e 2 filhos
16. Cristovão Bender com
mulher e 7 filhos
17. Matias Muller com
mulher e 4 filhos
18. João Kopp com mulher
e 4 filhos
19. Henrique David
Heidrich com mulher e 4 filhos
20. I.D. Heidrich,
solteiro
21. Francisco
Sauvrassig com mulher e 2 filhos
22. Jacob Wagner,
solteiro
23. Nicolau Engelmann com
mulher
24 Henrique Strassburger
25 PETER JACOB WASEM com
mulher e 4 filhos (entre eles PETER JACOB LAMPERT, 4ª emigração, enteado, filho
de um primeiro casamento de sua mãe Elisabeth Gülsdorf e pela repetição dos prenomes, seu afilhado).
26 Jacob Kaspar
27 Filipo
Strassburger
Obtiveram aprovação do seu pleito e em 26 de
março de 1846 finalmente, chegaram à Porto Alegre pelo brigue Bella Manoella e
foram distribuídos segundo os interesses de cada um. Peter Jacob Wasem
(20-12-1801) casou com a viúva e sua segunda esposa Elisabeth Gülsdorf (11-1902
e 1-3-1852) e mãe do Peter Jacob Lampert, vieram para Dois Irmãos, depois
Brochier e finalmente para Conventos, sempre com seus parentes Lampert ali
residentes. Constatamos que nosso Peter Jacob Lampert – não descobrimos o nome
do pai dele - recebeu confirmação na igreja de Hamburgo Velho (com sobrenome
Wasem) em 1849, junto com seu irmão de criação Jacob Wasem e batizou uma
criança, filha de seu padrasto, em
terceiras núpcias, com Margaretha Renner em Brochier, em 1854. Depois disso,
desapareceu dos registros. Não encontramos descendentes nem óbito. Talvez algum
dia encontremos seu túmulo em Brochier, Maratá, Poço das Antas ou Salvador do
Sul.
Localizamos que o filho de Peter Jacob Wasem,
de nome Jacob Wasem, casado com Catharina Renner, em 1873, batizou seu segundo
filho Felipe e mais três na igreja evangélica de Conventos em Lajeado.
Constatamos que pai viúvo e filho, desposaram tia viúva e sobrinha.
Essa, a saga de 27 famílias, 120 pessoas.
Atendendo ao convite do Império, se dispuseram a vir para o Brasil buscando
felicidade e farturas prometidas. Momento inoportuno e circunstâncias alheias
as desviaram de seus objetivos iniciais. Sem esmorecimento lutaram e lutaram.
H I S T Ó R I A S
Os Lampert de todas as quatro emigrações
professavam a religião evangélica, predominante na região onde nasceram. É
possível acompanhar os casamentos dos descendentes dos emigrantes que se
mantiveram na região que colonizaram. Continuaram rigorosamente evangélicos e
somente casaram com cônjuges de origem alemã, pelo menos até a segunda grande
guerra em 1939. Apenas os descendentes dos emigrantes que trocaram os locais de
residência para cidades de colonização exclusivamente portuguesa é que casaram com cônjuges dessa origem e
adotaram ou não a religião católica. Bem mais tarde é que surgiram os
casamentos com descendentes de italianos ou outras etnias. A partir de 1960, lentamente
iniciou-se o desaparecimento dos preconceitos de origem. Pesquisamos mais de
2.300 casamentos e acreditamos que cerca de 85% dos Lampert sejam evangélicos.
Pela existência de um brasão de
armas de uma família Lampert, que poderia sugeri-lo, muitos parentes nos
procuraram para saber se não descendiam de alguma família com título de
nobreza. Nada disso. Nossos antepassados eram gente do povo e não encontramos
sequer indícios que os nossos Lampert poderiam descender, no mínimo, de algum
fidalgote bastardo. Entretanto, nada impede que o usemos. Fomos inquiridos se o
castelo dos Lampert ainda estava de pé, pergunta talvez motivada porque a
região dos Lampert pertencia ao principado de Lichtenberg. Ora, cada principado
tem um príncipe e cada príncipe deve ter seu castelo. Encontramos apenas uma
Lampert, de Novo Hamburgo, casada com descendente de emigrante cujo sobrenome
nos registros da igreja era antecipado pela preposição von (de) e ao lado do
nome do seu avô havia a menção de Baron (Barão).
Publicamos abaixo a fotografia da
residência do emigrante alemão Carlos Clemente Kersting, casado com Maria
Catarina Lampert, quarto filho da primeira emigração, que mandou construí-la no
ano de 1882. Ha
mais de 130 anos vem passando de pai para filho. O atual proprietário é
Clemente Milton Lampert Barreto. A casa está situada na Av. Belo Ferreira, 19
em Triunfo - RS. Note-se a adaptação do imigrante ao meio, construindo uma
residência no mais autêntico estilo colonial português, igual à todas da
cidade, em lugar de fazê-lo no estilo enxaimel usado pelos imigrantes alemães,
como poderia ser esperado. O telhado em frente à casa, protege os transeuntes
do sol e da chuva. Lá passamos um dia agradável com o proprietário e sua esposa
Nely.
Os descendentes de emigrantes
alemães que trocaram de residência para região de colonização portuguesa,
também passaram a dar para seus filhos prenomes inconfundivelmente lusos e se
adaptaram logo aos usos e costumes locais.
Não se esperava que os colonos
utilizassem escravos, pois justamente a emigração tinha por objetivo
estabelecer o trabalho livre nas pequenas propriedades, preparando o caminho
para a abolição da escravatura que mais cedo ou mais tarde deveria acontecer.
Era também uma experiência social. Havia raras exceções. Jacob Blauth,
juntamente com seus filhos Peter e Wilhelm Blauth, casados com as irmãs
Philippine e Elisabetha Lampert, 2ª emigração, 1ª e 3ª filhas, em Dois Irmãos,
possuíam no mínimo um casal de escravos, pois batizaram e deram seu sobrenome a
uma criança negra, nascida em 02.09.1842, a quem deram o nome de Johann Peter
Adam Blauth. Isto revela que mesmo havendo escravatura, existiam relações
humanitárias entre amos e escravos. Os grilhões e o cepo aviltantes eram
desconhecidos na colônia. Podemos imaginar o negrinho Johann falando alemão e
brincando de igual para igual com seus "parentes" loiros. O filho
Peter foi o padrinho. Cabe observar que o batizando era “propriedade” de Jacob
Blauth e nos registros da igreja evangélica não constavam, como seria óbvio, os
nomes dos pais da criança. Como os
proprietários dos escravos também tinham pequena indústria domiciliar,
justificava-se a presença deles, proibida para os agricultores a partir de
1854.
No índice de
“profissões” em Dois Irmãos, apenas as famílias Blauth e Sperb foram apontadas
como “proprietárias de escravos”. Número sem significação em relação ao total
de agricultores.
Até ha pouco tempo desconhecíamos a
permanência dos Lampert em Brochier. Tivemos a curiosidade de saber por que se
chamava assim, pois era um raro topônimo de origem francesa no RS. Em 1834,
dois irmãos, Auguste e Jean Honoré
Brochier, franceses, provenientes de Marselha, chegaram ao Brasil e se
apossaram de grande área de terras devolutas de mato na Serra Geral de Montenegro. Foram os primeiros
estrangeiros a tentar colonizar área povoada pelos bugres na região ao norte do
rio Caí. As terras planas contíguas ao rio Caí até os contrafortes da Serra
Geral já haviam sido doadas como sesmaria aos paulistas, catarinenses e gaúchos
que retornaram das guerras platinas. Lá, os franceses permaneceram, mesmo
confrontando-se com os bugres, que praticaram assassinatos e seqüestras,
constituíram famílias e lotearam parte de sua enorme propriedade para os
descendentes dos emigrantes alemães que colonizaram os primeiros povoamentos em
São Leopoldo e Dois Irmãos. Legaram seu nome para localidade, hoje município
pujante e um exemplo de pioneirismo. Parte dos seus descendentes lá permanece
até hoje.
Carl Michel, 1841-1915, 1ª
emigração, 1º filho teve dez filhos que colonizaram a região de Brochier. Seu
2º filho, Clemens Peter 1863-1893 faleceu de tifo, deixando quatro filhos e a
esposa grávida de mais um. Nascido o filho, a esposa Ernestine Catharina
Pilger, faleceu em seguida, também vitimada pelo tifo. Seus cinco filhos, de 0 a 6 anos, foram distribuídos
em três famílias de tios, pois nenhuma família, ja numerosa, poderia absorver
todos de uma vez, separando irremediavelmente os irmãos.
Havia na região um jovem negro, de
nome Paulino, escravo alforriado, que prestava serviços eventuais na lavoura,
nas propriedades dos colonos e com compaixão dos órfãos, dedicou-se sempre que
possível, a arrebanhar as crianças e fazê-las conviver juntas por um dia numa
das famílias que as adotaram, diminuindo a saudade da separação. Paulino jamais
foi esquecido, cresceu em conceito e respeito junto à comunidade. À seguir,
mostramos a fotografia do “Nego” Paulino
junto com duas das crianças, Pauline e Clemens Johann, tirada provavelmente em
1894. As duas crianças deixaram enorme descendência. O fotógrafo não foi muito feliz. Fotografou
um negro, vestido de roupa preta em fundo escuro. Seu gesto de solidariedade e
sua fisionomia passarão para a história como exemplo positivo no meio da desgraça.
Talvez nem sobrenome tivesse. Foi ele, fluente também em alemão, que ensinou o
português às crianças, uma vez que, como de hábito, aprendiam em casa o alemão
e só mais tarde eram alfabetizadas também em português. O órfão caçula faleceu
aos seis anos de idade ainda em Brochier. Esta história nos foi narrada por
Erneu Leopoldo Becker, de Brochier, neto de Pauline, a criança mais velha e
confirmada por Oscar Edgar Lampert, de Coqueiros do Sul, neto do irmão seguinte
de Pauline, Clemens Johann. Este também nos contou ainda a seguinte história de
tragédia e coragem.
Sua tia, Leontina Lampert, 1923, também
filha do Clemens Lampert, um dos órfãos acima, logo após a transferência de
residência de Morro Azul (perto de Brochier), Montenegro para o distrito de
Carazinho, hoje município de Coqueiros do Sul, teve sua família de 5 irmãos, um
cunhado e sua mãe atacados por surto de tifo em 1945. Então, com 23 anos,
atendeu sozinha, durante três meses, o tratamento caseiro com banhos frios aos
afetados pela doença, pois seu pai, um dos órfãos, que era cardíaco, faleceu no
mesmo período. Providenciou no sepultamento do cunhado e do pai, mas salvou os
restantes. Graças à solidariedade dos vizinhos, que cuidaram dos trabalhos da
lavoura e criação, conseguiu superar as dificuldades e sobreviver. A desgraça
estava sempre presente. Passou a residir com seus familiares em Palmitos, SC.
A existência de um ex-escravo
naquela região despertou curiosidade e nos levou em busca de maiores
informações sobre a escravidão na região limítrofe entre a colonização
portuguesa e a alemã em Montenegro, com suas naturais e recíprocas influências.
Em Montenegro, em 1884 foi fundado o Club Abolicionista e entre os seus
fundadores encontramos, em menor número, descendentes de germânicos, alem dos
dois franceses. Consta na ata da fundação a concessão de liberdade para 158
escravos (36 de propriedade dos colonos teutos). Provavelmente, a grande maioria alforriou todos os escravos menores. Como as
crianças continuariam morando com seus pais, a independência só se tornaria
efetiva quando atingissem a maioridade, mas já era um primeiro passo e o ato
manifestou a consciência e o desejo efetivo de acabar voluntariamente com a
escravidão. Só em 1885 D. Pedro II determinou a alforria dos
maiores de 60 anos e
em 1888 a Princesa D. Izabel promulgou o
fim da escravatura no Brasil.
Eu e minha esposa, visitamos Brochier em maio
de 2004, percorremos os arquivos da igreja evangélica, juntamente com Erneu
Leopoldo Becker e fotografamos a singela igreja de Batinga, fundada em 1880, a mais antiga da
região, que como era praxe legal, foi erguida sem torre. Só mais tarde foi
levantado, ao lado, um campanário com sino importado da Alemanha. Também
fotografamos, no cemitério junto à igreja, o túmulo de Carl Michel que causou a
polêmica troca de cemitério.
KARL LAMPERT
EM SÃO MARTINHO
Karl Lampert deve ter casado com Catarina Kruel em São Leopoldo, pois
ninguém com esse sobrenome morou em Dois Irmãos.. Dali foram para Taquari.
O seu primogênito Carlos Frederico, foi
registrado em Taquari em 1851.
O
sétimo filho, Rosa foi registrado em Santa Maria em 1861
O
décimo quarto, Cristiano Sezefredo foi registrado em São Martinho em 1874
Eu
creio que foram direto de Taquari para São Martinho e registraram em S. Maria
por não haver, no momento, cartório ali. Meu avô Leopoldo me contou que nasceu
em São Martinho (o seu registro é de S. Maria)
MICHAEL
LAMPERT EM SANTA MARIA
Michael também deve ter casado com
Katharina Butze em São Leopoldo, pois
não encontrei ninguém com esse
sobrenome em Dois Irmãos.
O primeiro filho do casal, Carlos,
foi registrado em S.Leopoldo em 1843;
Os seguintes: Klemens, Michael
Adam, Jacob, Carolina, Abraham e Adam nasceram em Dois Irmãos entre 1845 e
1854;
O último, Peter, nasceu em Taquari
em 1858
Verificamos
que os dois irmãos e suas famílias moraram ao mesmo tempo em Taquari e ambas as
famílias devem ter partido em fins de 1860 para Santa Maria.
Santa Maria ainda deveria estar decadente, em decorrência da Revolução
Farroupilha: Campos despovoados de gado, proprietários e filhos mortos
em combate, dívidas e impostos não pagos, viúvas desamparadas,
inimizades, decepção e pobreza geral.
Mercado atraente para quem dispusesse de energia e dinheiro ou crédito
para adquirir propriedades rurais em ruína à venda. Foi o que fizeram.
Michael foi engajado nas fileiras do exército Imperial em 7-5-1838 e
lutou até o centro do Estado. Após, foi-lhe determinado que voltasse às suas
origens, juntamente com seu cunhado Cap. Carlos Clemente Kersting e o irmão
deste, major Fernand August Maximilian Kersting, afim de, com demais
voluntários, combater o banditismo praticado por desgarrados, expulsos e desertores
do exército Farrapo, que estavam praticando assaltos, roubos e assassinatos na
região de Dois Irmãos. Cumpriram o que lhes foi ordenado.
Vemos que Michael entrou para o exército em 1838, lutou durante três
anos e teve o seu primeiro filho em 1843, antes do fim da revolução.
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