REMINISCÊNCIAS PROFISSIONAIS
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Em 1961, assumimos como Diretor
Superintendente da Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda. e constatamos
que a Cosuel já tomara medidas competentes para se atualizar industrialmente. Construíra
um túnel de congelamento de carne suína e respectiva câmara de estocagem para 70
toneladas. Iniciara a produção, lotara a câmara e o túnel. Produzira mas não
vendera um quilo sequer. Assim a encontramos.
As vendas da produção industrial da
Cosuel eram todas realizadas por intermédio da União Sul Brasileira de
Cooperativas Ltda., uma cooperativa central à qual a Cosuel era filiada. Ela recebia,
vendia, cobrava, prestava contas e enviava o dinheiro pelo banco. O critério de
pagamento era o da antiguidade do crédito. Justo, mas excessivamente demorado.
Criava problemas no fluxo de caixa e era imprevisível. Os preços obtidos eram
adequados e estavam dentro de valores plenamente aceitáveis.
Como a União não tinha câmaras frias e
não entendia do ramo, não se interessou em intermediar a produção de carne congelada
suína da Cosuel e a produção ficou encalhada. Nenhuma outra medida foi tomada. Depois
de 6 meses congelada, a carne suína perde o valor comercial. Oxida e ninguém mais
a compra.
De imediato, tomamos as primeiras
medidas para iniciar a venda. Conhecíamos uma representação no Rio de Janeiro,
que efetuara as vendas durante os 11 anos que trabalhamos no frigorífico de Bom
Retiro do Sul. Corretos e competentes. Vendiam por pedidos, mediante comissão e
o faturamento era direto pela Cosuel, que tinha a possibilidade de descontar a
duplicata em bancos, obtendo o dinheiro no dia seguinte ao embarque. Mudou
completamente o fluxo financeiro.
Aos poucos, o mesmo representante foi autorizado
a vender outras mercadorias fabricadas pela Cosuel. No mínimo serviriam como
parâmetro para comparar com as vendas da União. Se igualavam nos preços, mas o
faturamento direto permitia a obtenção imediata do dinheiro no banco.
Junto à União, constantemente reclamávamos
da demora e imprevisibilidade do dinheiro. Cada vez mais mercadorias para o
representante e menos para a União.
Numa Assembleia Geral Ordinária, sem sermos
consultados, nos elegeram por um ano como um dos três membros do Conselho
Fiscal.
No escritório da União, procuramos nos
atualizar nos sistemas, sempre atendidos com frieza e mesmo hostilidade.
Começamos fazendo perguntas banais até sermos classificados como ingênuos e
inofensivos. Eles veriam quanto.
Numa oportunidade e na ausência do
contador, pedimos a um funcionário a abertura de um ativo realizável a curto
prazo de valor expressivo. Tínhamos constatado que esse valor era o mesmo do
balanço do ano anterior e no mínimo esse ativo, não seria de “curto prazo”. Na
série de fichas a que tivemos acesso, o último lançamento era de 6 anos atrás e
dizia apenas - saldo devedor. Eram mais de 10 fichas, todas em nome de cooperativas
desconhecidas. Fizemos mais algumas perguntas inocentes e nos retiramos.
Ante o Diretor Administrativo, fizemos
uma pergunta em tom casual. Que Cooperativa era aquela que se chamava ………..…. –
Essa cooperativa já fechou as portas há muitos anos atrás. Conclusão: esse
enorme ativo realizável a curto prazo simplesmente não valia mais nada.
O Ativo do balanço tinha o Caixa, o
Imobilizado e o Ativo (ir)realizável. Feito novo exame, constatamos que a
União, simplesmente estava insolvente e irrecuperável.
Não tivemos qualquer dúvida, como membro do
Conselho Fiscal, em aprovar as contas daquele exercício. O problema era muito
anterior ao nosso mandato. Oportunamente, quando os haveres da Cosuel tivessem
sido ressarcidos, ele seria devidamente considerado.
Daquele dia em diante e sem justificativa,
não enviamos mais nenhuma mercadoria para ser vendida pela União. Mantivemos
sigilo total. Dentro de três meses a União havia pago todos os nossos créditos.
Tínhamos nos safado de um considerável e previsível prejuízo.
Na AGO seguinte, no momento de ser
aprovado o balanço, pedimos a palavra e solicitamos a abertura daquele ativo.
Surpresa geral, estupor e correria. Assembleia suspensa e conhecimento de todos
da real situação da União. A Diretoria demitiu-se. Falou-se em eleger novos diretores. Afastamo-nos para um
lado e não participamos das tratativas. Já sabíamos que a União estava
liquidada.
Todas as demais cooperativas filiadas
tiveram que suportar a sua proporção no prejuízo da liquidação.
O abalo foi de tal monta, que nem chegamos
a ser criticados pela manutenção do sigilo até que o momento fosse oportuno.
Um grupo de diretores de cooperativas
associadas à União consultou-nos se aceitaríamos presidi-la. Recusamos, é
lógico. Era início de março de 1973 e no dia 3l sairíamos da Cosuel. Dentro de
um mês, em 1º de maio, numa AGO já convocada, assumiríamos como diretor do
Frigorifico Ideal em Serafina Corrêa, onde atuamos durante nove anos.
Nesse ínterim, projetamos, construímos e
ativamos o matadouro de aves e todos os seus departamentos: produção de ovos,
incubatório, galpões automatizados para produção de frangos, caminhões para
distribuição de rações a granel, licenciado para exportação e que há muitos
anos abate 180.00 aves diariamente. Mudou completamente a fisionomia econômica
e social daquele município.
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