AS “CARRETERAS’
Corria o ano de 1952 e o esporte da velocidade em automóvel iniciava a
sua presença marcante nos jornais e emissoras de rádio. Duraria até 1971.
Os veículos participantes, automóveis Ford ou Chevrolet, dos anos de
1937, 1939 e 1940, de duas portas, paralamas modificados e com motores
“envenenados”, alcançavam até 200 km por hora. Receberam o nome carinhoso de
“baratinhas de corrida”. Várias competições em todo o estado, algumas com a
presença de argentinos, que denominavam seus veículos de “carreteras”. O nome
também pegou por aqui. Asfalto nas estradas, nem pensar. Era chão batido, ronco
de motor, audácia, destreza e muita poeira.
No Alto Taquari, a prefeitura de Encantado e
a Cia. de Automóveis Guido Cé, organizaram com enorme sucesso, uma competição automobilística
“Força Livre” denominada 1º Circuito do Alto Taquari, que teria a sua partida
na cidade em 5 de outubro de 1952 e ia até Cachoeira do Sul. Na segunda etapa e
no mesmo dia, o retorno até Encantado. Ao todo 472 km. Entusiasmo e expectativa
na região. Tempos somados indicariam o vencedor. Motoristas amadores sonhavam.
De
três em três minutos um competidor recebia a bandeirada de partida.
Nomes como Breno Fornari, os irmãos Júlio e Catharino Andreatta,
Aristides Bertuol, Diogo Ellwanger, Alcides Pretto, Osvaldo de Oliveira, José
Asmuz, Antonio Burlamachi, Orlando Menegaz e muitos outros se tornaram os novos
heróis no imaginário popular, cada um com seus inúmeros fãs.
Carretera 22 de Diogo Ellwanger
A
Rádio Independente, de Lajeado, iniciava seus primeiros passos em cobertura
externa distante e destacou duas equipes para irradiar: o ponto de partida e
chegada, e uma intermediária no Porto Mallmann, entre o passo de Bom Retiro e
Mariante, onde havia um armazém, porto para exportação de cereais e um posto de
gasolina, com seu respectivo telefone ligado à central de Cruzeiro do Sul.
Voluntário e em face de minhas ligações afetivas com a Rádio Independente
e proximidade, fui o encarregado da organização da segunda.
Convidei Mário Ribeiro para locutor e me encarreguei dos cálculos
necessários para verificar, a posição de cada participante no exato momento da
passagem. Convidei mais, Lindolfo Leonhard, o segundo da esquerda para a
direita e Arnildo Jovino da Silva, à direita da foto (assessores metereológicos).
Todos moradores de Bom Retiro do Sul, e lá nos apresentamos.
Eu era o proprietário e o motorista do carro que aparece na foto. Barata
Ford modelo 1940, conversível e com volante de Ford 1951. Um sonho e um orgulho
para um jovem solteiro como eu.
No capô, o prefixo da Rádio
Independente.
Na passagem de retorno, fui
calculando a posição de cada um levando em conta a primeira etapa.
Após a passagem de Diogo Ellwanger
e mais três carros, pude afirmar com segurança que Diogo levava seis minutos de
vantagem sobre o segundo colocado e, faltando apenas 50 quilômetros, se nada
acontecesse, ficaria com a vitória.
Fomos os primeiros a levar a
notícia ao público.
Mário mostrou seus dotes de
repórter, solicitou por telefone à rádio seu ingresso no ar e garantiu a
vantagem do primeiro lugar sobre o segundo. Afirmava que, com a presença de um
matemático (eu), podia fazer a assertiva com responsabilidade.
Diogo Ellwanger venceu a corrida
e Catharino Andreatta chegou em segundo, ambos com carros Ford.
Logo após a passagem do último
competidor, embarcamos no meu carro e nos dirigimos a Lajeado, a toda
velocidade, de tolda arriada e ligados na rádio Independente. Ainda encontramos
no trajeto os bandeiristas que faziam o sinal de passagem livre e aplaudidos
como se fôssemos competidores.
Estacionamos e nos apresentamos na rádio.
Ainda estavam terminando os cálculos finais relativos à passagem por Lajeado,
que confirmaram as nossas previsões. A Rádio Independente levou aos ouvintes a
notícia, antes da chegada do primeiro participante à Encantado Um furo jornalístico
sensacional para a emissora e inesquecíveis cinco minutos de glória efêmera
para as equipes.
Pouco tempo depois, resolvi
casar com a Lucy e vendi minha barata para adquirir os bens necessários para o
meu lar.
Crônica publicada no Jornal A HORA, de
Lajeado, em 5 de junho de 2014.
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