NA
TERRA DAS ÁGUAS
QUENTES
Uma vez, no Gravatal e
dois cavaleiros andantes estavam postados em uma encruzilhada, cumprindo sua
missão de ajudar pessoas desamparadas, crianças perdidas, idosos desprotegidos,
vítimas de malfeitores, damas desacompanhadas e libertar virgens raptadas por
homens libidinosos. Estavam prontos para o que der e vier.
Não se conheciam anteriormente, mas logo
descobriram que tinham algo em comum: Não tinham paciência de acompanhar as
respectivas esposas em compras no mercado de roupas do vilarejo. Fizeram
contato entre si.
No bulício da aldeia,
tinham visão privilegiada do que se passava nos arredores e estavam atentos
para intervir em qualquer momento de perigo, mesmo arriscando as próprias vidas.
De repente surge,
descendo a montanha, uma donzela, nem tão jovem nem tão bela, claudicando
fortemente da perna esquerda, e com visíveis sinais de aflição e cansaço. Num
pequeno alforje levado a tiracolo, certamente estariam seus documentos e sua
pecúnia. Segurava na mão uma enorme sacola com compras. Proporcionou uma cena burlesca
e verdadeira.
Dirigiu-se ao mais
jovem dos cavalheiros e clamou por ajuda. Estivera em compras na feira local e
perdera o rumo do Hotel Internacional onde se achava hospedada. Seria possível
ajudá-la?.
- Sim, preciosa dama, meu
nome é Ataíde. E em largos gestos apontou para a frente e disse: siga pela
senda, na direção norte, mais duzentos metros e chegará à portaria da
estalagem, no meio de um bosque florido.
- Tenho ainda outro
problema. Onde arranjar uma condução para me levar até o albergue?
Do outro lado de uma praça circular, estava postada uma
graciosa carruagem cor de abóbora com faixas amarelas, puxada por um manso
cavalo pangaré. O cocheiro, alertado
pelo movimento, e mesmo não ouvindo, entendeu que teria de intervir. Era a sua primeira oportunidade do dia de
ganhar umas moedas para guardar em sua algibeira.
Com um grito e um
vigoroso aceno, foi chamado e trouxe sua carruagem até à beira da calçada.
Ataíde,
galanteador, ofereceu seu braço à dama, para ampará-la no degrau. Ela sentou-se
no banco dos passageiros. Agradeceu comovida.
Ainda mais uma coisa,
perguntou. Poderiam me arranjar um marido?
- De momento estamos em
falta de candidato, mas temos boas notícias, minutos atrás, vários mancebos
dirigiram-se para a mesma hospedaria e ainda deverão estar por lá.
Com um sorriso açucarado
e um olhar esperançoso, partiu sem olhar para trás.
Seu nome? Talvez
Dulcinéia. Talvez não.
O outro cavalheiro (eu),
omisso até o momento, ainda gritou-lhe: É preciso ter fé. Não mereceu sequer um
aceno.
Lá se foram,
levantando poeira, até desaparecerem na primeira curva.
No dia seguinte, um
deles (Ataíde) seguiria para a terra das águas frias, Porto Alegre, onde
residia. Encerraria sua vida de cavaleiro andante.
O outro, ainda
permaneceria alguns dias na estalagem Termas Hotel, atuando
sozinho na defesa dos fracos contra os fortes.
A dama nunca mais foi
vista. Deve ter encontrado a felicidade.
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