terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Crônica - Reminiscências Profissionais 2

REMINISCÊNCIAS PROFISSIONAIS - 2

     Na Cosuel, num fim de ano, mandamos fazer estatística verificando quantos suínos cada associado produzira durante o ano decorrido e o município de sua procedência. Não tivemos muitas surpresas: Na média geral, pouco mais do que 15 animais e, especificamente cerca de 20 em dois municípios, Muçum e Arroio do Meio. No de menor produção, não mais do que 5 por ano
     Profissionalmente, estes números não se prestavam para definir o colono como sendo um suinocultor.
     Na época de 1964, 55 frigoríficos de suínos com Inspeção Federal, abatiam 2 milhões de suínos anualmente. Em 10 anos restaram menos de 20 fábricas que abatiam quase o dobro desse volume.  Também ali ocorreu a seleção natural.
     De maio à dezembro, 90% dos abates e nos meses de janeiro a abril, não mais de 10%, caracterizando excesso na safra e carência na entressafra e mercado sujeito a altos e baixos. Banha, o produto principal.
     Essa pequena produtividade, é lógico, não era suficiente para a sobrevivência e progresso material do associado.
     O suíno é um subproduto do milho e o aumento da produção deveria ser seletivo. Menos criadores, com mais suínos cada um.
     Pouco tempo depois e com novas técnicas de produção, o abate mensal ficou estabilizado, deixando de existir safra e entressafra. Carne, o produto principal.
     Na mesma época, débeis tentativas de exportação de carcaças ou cortes já estavam sendo aventadas. Lá por 1967, ocorreu uma primeira exportação brasileira, destinada à Polônia, então pertencente à esfera comunista do COMECON. Não compravam em dólares e apenas trocavam por outras mercadorias a exportação momentânea. A Polônia estava vendendo ao Brasil maquinaria agrícola e aceitava receber carcaças de suínos congeladas. Cinco empresas formaram um pool para dividir as 600 toneladas, com igual proporção. Na época, uma aventura. Sadia, Perdigão, Santarrosense, Ideal de Serafina Corrêa e a Cosuel, via porto do Rio Grande.  
      Verificou-se que apenas em 5% dos animais abatidos, as carcaças se enquadravam nas exigências dos compradores: Animais precoces, pesados e com gordura lombar com menos de 2 cm. Seria necessária evolução genética do rebanho e nutrição balanceada para continuar com as exportações.
     Quatro meses depois, nova e similar exportação para a Tchecoeslováquia, com as mesmas exportadoras. Novo sucesso.
     Nos meses subsequentes, a Cosuel sozinha realizou pequenas exportações de cortes de carne suína congelada para o porto livre Hamburgo. Num pequeno avião do aeroclube de Estrela, fomos a Rio Grande acompanhar o primeiro lote.
     Dimensionadas várias alternativas, horti-fruti-grangeiros, fruticultura, floricultura e outras foram aventadas e, por decorrência, restou a produção de leite como outra possibilidade econômica viável para o colono.
     O leite produzido na região era canalizado às indústrias através de intermediários transportadores, que adquiriam o leite na fonte produtora todas manhãs. O intermediário, que tinha a concessão de “linhas” não tinha concorrentes, nem havia espaço para dois simultâneos.
      Pesquisa em Arroio do Meio mostrou que a metade dos produtores de leite era associada à Cosuel, e a outra metade não.
      Os suínos dos mesmos produtores eram canalizados pelos associados à Cosuel e a outra metade, através dos mesmos freteiros de leite, entregues à outra indústria local, utilizando os mesmos veículos à tarde.
      Os freteiros, após a pesagem do leite de cada dia, o misturavam com os demais e o vendiam, mediante exame por amostragem, às indústrias. Iniciavam de madrugada e encerravam as entregas até o meio dia. Acertavam as contas cada fim de mês.
      A Cosuel decidiu a entrar no ramo de coleta de leite e produção de lácteos, montando uma indústria específica em local ainda a ser divulgado.
      A Cosuel se propôs a novas modalidades e sem similares na região. Cada produtor teria o rebanho previamente examinado por veterinário que verificaria a ocorrência de tuberculose ou brucelose. Os tarros Individuais com leite não seriam pesados no local da produção, apenas na entrega na indústria. Este esquema permitia que até às 9 horas, todo o leite já estivesse sido entregue e analisado, evitando, no verão, a acidez decorrente do calor.
      A escolha de Arroio do Meio foi técnica e evitava o passeio do leite até Encantado e que depois voltaria pela mesma estrada precária, cerca de 25 km.  até chegar ao mercado da região metropolitana. Além disso, em Encantado não havia leite.
     A Cosuel adquiriu área nas cercanias da cidade, onde já havia uma construção de fábrica de subprodutos do leite fechada, adaptável à indústria pretendida. A coleta diária seria estendida aos municípios periféricos da indústria.
     Assistência técnica ao produtor, aumento do rebanho, genética, pastagem artificial, ordenhadeiras mecânicas, inseminação artificial, fornecimento de remédios, vacinas e rações balanceadas e ajuste de contas à vista no fim do mês.
     A coleta do leite produzido pelos associados, a metade dos produtores, iniciou-se com garantia de peso mínimo aos freteiros (mas não intermediários) contratados.
     A coleta da outra metade ficou inviável economicamente e os freteiros desistiram das linhas, dentro do esperado. A indústria que recebia esse leite identificou novas áreas de coleta e compensou o volume perdido.
     Aos produtores não associados à Cosuel, não restou outra alternativa além de aderirem aos estatutos, canalizando também a produção paralela de suínos ao matadouro de Encantado. A nova sistemática, de tarros individuais e o exame do leite agradou à todos os agricultores porque havia o preço extra premiando a qualidade . O produtor não frauda leite.
     Os colonos, a partir daí, aumentaram substancialmente a produção de leite e a fábrica de laticínios se capacitou logo ao maior volume e à modernização, como produção de leite B e coleta a granel.
      Oportunamente, diretorias subsequentes criaram fábrica de leite em pó em outro local, também no município de Arroio do Meio, reguladora dos excedentes momentâneos.

      Esse segundo setor econômico somado à indústria suína elevou as oportunidades do agricultor. Um número muito elevado de criadores de suínos desistiu e a produção foi compensada e ampliada por suinocultores já mais especializados e em forma de parceria com a cooperativa.  Teve sucesso. 

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