CLUBE TIRO E CAÇA – SUA HISTÓRIA
O
Tiro de Guerra 236, sociedade civil com estatutos registrados em Cartório, foi
fundada em 20 de agosto de 1916, era proprietária de sobrado sito na Rua Santos
Filho, 275 em Lajeado. Cumpriu seus
objetivos até 1945, quando os cursos de ensino militar particulares foram
encerrados no Brasil.
Restou um patrimônio
imobiliário, gravado com um contrato de comodato com o Ministério da Guerra, só
extinguível com o encerramento das atividades da Sociedade e liquidação do
patrimônio que, por imposição estatutária, seria doado às entidades assistenciais
de Lajeado. O imóvel também achava-se hipotecado junto à Cooperativa Banco
Popular de Lajeado (Caixa Rural), gerenciada por Jacob Scheid Sobr., em
garantia de empréstimo para adquirir a sede na cidade. Estava com seus compromissos
financeiros em dia e restava ainda um saldo a pagar para liberar a hipoteca.
Surgiu a ideia de,
aproveitando a existência de razoável patrimônio líquido, criar um novo clube
com a venda do acervo, com outros objetivos sociais, bem como pagar a Caixa
Rural e investir numa área com bosque na periferia da cidade, criando um clube
campestre. Logo evoluiu para um Clube de Caçadores, existentes em todo o mundo
desde a idade média.
Em Lajeado, pelo
menos um terço dos homens adultos caçava a fauna nativa, durante todo o ano,
sem distinção de espécie. Não havia limites e poucos tinham registros de armas
e licenças de caça. Não havia fiscalização.
Alem da caça
desenfreada, o desmatamento e mais tarde o uso de inseticidas na lavoura,
estava levando a fauna à extinção.
O novel clube
colaboraria com a Federação dos Clubes de Caçadores do RS na divulgação de
regulamento indicando espécies, quantidade, épocas e rotatividade de áreas
rurais e proibindo a caça de espécies que estavam em risco de extinção. Pela
primeira vez, parte da população estava compreendendo o que era ecologia e
defesa do meio-ambiente. Os próprios associados fariam respeitar as normas.
Tudo parecia fácil, mas
as dificuldades logo se apresentaram. Primeiramente, o Ministério da Guerra recusou-se
a liberar o contrato de comodato que garantia a disponibilidade de residência
para o sargento instrutor, sala de aula, depósito de munições e local para o
armamento. Aceitava a mudança do objetivo, mas exigia que no novo nome da
sociedade – que sucederia o Tiro de Guerra – tivesse a palavra TIRO, deixando
evidente a dependência com o Exército. Em lugar de Clube dos Caçadores e por
decorrência da palavra Tiro, a diretoria da nova sociedade teve que mudar o
nome pretendido para Clube Tiro e Caça, que não agradou a ninguém. Exigia que o
novo imóvel assumisse o contrato de comodato, em vigor até hoje e uma entidade
que avalizasse esse compromisso. O prefeito nomeado Ruy Azambuja (procurado por
Mário Lampert e um Coronel do exército devidamente credenciado), no mesmo ato,
editou documentos que a Prefeitura Municipal de Lajeado assumiria, se fosse exigida,
essa responsabilidade.
Restou a opção: Transigir
com Clube Tiro e Caça ou nada. Deu Clube Tiro e Caça. Um nome não faz um clube
e sim um clube faz um nome.
Formalmente a diretoria
do Clube Tiro e Caça tratou de vender a sede do antigo Tiro de Guerra 236,
adquirir na periferia da cidade uma área rural com mata nativa e resgatar a hipoteca
na Caixa Rural. Da terra adquirida, seria reservada uma área (menos da metade),
de frente para o rio Taquari, destinada a um loteamento cuja receita cobriria as
deficiências financeiras da compra da área rural e os futuros gastos com o
cercamento da propriedade, terraplenagem, iluminação, água e construção da
pedana de tiro ao prato, sede social, aquisição de um aparelho de lançamento
dos pratos alvos e máquina manual de fabricação de pratos, aproveitando os
cacos dos pratos acertados pelos atiradores, mão de obra etc. O bosque restante
seria preservado.
A área destinada ao
loteamento era localizada em duas quadras paralelas, abrangendo três quarteirões
grandes e dois pequenos. Provavelmente de 60 a 70 terrenos, entre as ruas 26 de
janeiro e 17 de dezembro, em todo o comprimento da compra. Os terrenos demarcados
e anteriormente desmatados foram vendidos à vista diretamente pela diretoria e
sem intermediários. Norberto Zart coordenou a venda dos lotes. Em Lajeado e
naquele local, os terrenos valiam pouco. O bairro chamava-se por razões óbvias,
Neggerberg (Morro dos Negros) e perto de uma casa de baixo meretrício denominada
“Martelo”. Não havia ruas, nem água e nem luz.Tinha dificuldade de acesso nas
enchentes. Era região de má fama.
Um dia, perguntei ao
meu pai – Como vai o loteamento?. – Todos os terrenos estão vendidos, menos um
que ninguém quis comprar por ser maior, mais caro e ter as quatro faces com
metragem diferentes. Fui ver o terreno e o comprei. Muitos anos depois, após
considerar que eu jamais voltaria a residir em Lajeado, vendi o terreno para
Sérgio Roberto Jaeschke Jaeger. Cito esses detalhes para que hoje se localize
até onde ia o loteamento (vide mapa ao final).
No período em que
Mário Lampert era prefeito municipal, foi construída e inaugurada a caixa d
água da Corsan, dando fim ao tormento dos poucos moradores locais e valorizando
o bairro que se chamaria Hidráulica. A partir daí, a área se desenvolveu.
Lembro de um fato
curioso. Tornou-se necessária a derrubada de cerca de quinze árvores para a construção
da estrada de acesso à sede social e da pedana. Num domingo e no início das
obras, nos deparamos com quinze covas no chão, destinadas ao plantio de quinze
essências vegetais comuns na região. As mudas estavam dentro de latas de
compotas vazias cujos fundos haviam sido retirados. Meu pai convidou cerca de
dez presentes para apadrinharem o plantio das mudas que compensariam as árvores
derrubadas.
Tomou uma pá e
soterrou a primeira muda de cerca de 70 cm de altura, com lata e tudo, sob
palmas, emoção e muitas risadas. Passou a pá para Mário Jaeger plantar a sua, que
a repassou para Norberto Zart, Carlos Pereira Marques, Diamantino Cerutti e os
demais. Fui o último a plantar a “minha” árvore e as restantes todos ajudaram.
Não sei se ainda poderia localizá-la.
Assim Lajeado recebeu
de presente – e graças a um pequeno número de associados, um amplo clube que
hoje (70 anos após sucessivas e competentes diretorias) alcançou o estágio
atual e que conta com um patrimônio físico, cultural e social que ostenta com orgulho.
Um Clube novo, sem custo e sem dívidas. Uma façanha. Um pugilo de abnegados e
uma meta definida. Liderança, planejamento e execução. Creio que o Clube teria
no máximo duzentos associados.
Após os primeiros
vinte anos dedicados exclusivamente ao seu quadro de atiradores e amantes da
natureza, realizando treinamentos e torneios de tiro ao prato em diversas solenidades
anuais (eu fui o vencedor num concurso anual de tiro ao prato, denominado Rui
Lopes, com direito a taça. Dante Moraes foi o vice).
Encarecimento da
munição, da licença anual de caça e porte de arma de fogo, redução da fauna e
custo de deslocamento fez diminuir o número de associados e a própria
diretoria, sendo Mário Lampert o presidente, entendeu que deveria aceder aos
apelos da população ainda não associada e diversificasse as atividades de CTC,
criando quadras de tênis e outros esportes, assim como piscinas de recreação.
Outras atividades sociais e culturais que agregassem número maior de
associados, especialmente a juventude.
Mário Lampert, muitas
vezes reeleito presidente, entendeu que seu tempo já havia passado e uma
diretoria completamente renovada e com outras lideranças traria o sucesso
almejado. Assim foi e assim será. Hoje, o CTC é referência positiva como clube social.
Eu, filho e neto de
ex-presidentes do Tiro de Guerra, filho do primeiro presidente do CTC e hoje
verificando que eu sou o único ainda vivo entre os vinte que assinaram a ata de
fundação em 1946 e que participou ativamente na estruturação do Clube, desejo com
este depoimento, legar à diretoria e associados a minha visão sobre o
nascimento e vida do CTC, sucedendo o Tiro de Guerra criado há um século.
Almejo à atual e cada
nova diretoria sucessos sem precedentes e registro o meu orgulho em ter
participado do nascimento do Clube Tiro e Caça.
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