sábado, 11 de julho de 2020


COMPRANDO COLÔNIAS DE TERRAS

            A construção do matadouro de aves do Frigorífico Ideal estava se encaminhando para o final e estava chegando a hora de pensarmos na aquisição de lotes de terra para a construção dos galinheiros que abrigariam as matrizes que produziriam os ovos destinados ao incubatório que também estava sendo viabilizado.
            Procuramos informações e não encontramos respostas. Colono não vende a terra e a área deveria ser relativamente grande para abrigar milhares de galinhas poedeiras e respectivos galos. Plana, distante de estradas e aglomerações humanas, para evitar possíveis contágios e epidemias de peste. Não muito distante para facilitar a administração. De preferência no município de Serafina Corrêa.
            Em Nova Prata vivia um piloto brevetado que realizava voos panorâmicos e viagens aéreas em seu monomotor Cessna de quatro lugares. Entramos em contato telefônico e marcamos um voo no próximo domingo depois do meio dia. Procuraríamos um local apropriado e pretendíamos fotografar o possível local encontrado.
            Eventualmente um agrônomo que residia em Nova Bassano nos visitava em Serafina Corrêa e justamente na véspera do voo nos procurou. Contamos a ele o que pretendíamos fazer e o convidamos para ir junto. Fizemos-lhe uma pergunta incompleta: Vc já andou de avião ? (omitimos o ”pequeno”).
            - Várias vezes (ele pensando em voo de avião de carreira).
            - Se vc quiser ir junto, passaremos na sua casa e lhe pegamos. Aceitou.
            No aeroporto de Nova Prata nos apresentamos como ex-piloto e descrevemos o voo que pretendíamos fazer. Voaríamos em S na direção de Serafina na altura de 500 m e desejávamos fotografar a área escolhida com nossa câmera.
            O pequeno avião não tinha janela móvel mas tinha uma pequena abertura parafusada de cerca de 7 por 12 cm. Desaparafusou-a e avisou: Vai ter grande turbulência a bordo. – Não importa.
            Embarcamos. Sentamos no banco atrás do piloto e o agrônomo ao lado dele.
            Decolamos e tivemos visão panorâmica da região e nenhuma possibilidade até que descortinamos o rio Carreiro. Quem sabe em suas várzeas?
            Rios de montanha são sinuosos e vimos de longe que o rio fazia uma grande curva e voltava quase paralelo, deixando no entremeio uma faixa de terras cercado por água por três lados. Nos pareceu local adequado.
            Falamos ao piloto: Baixar para 300 m e fazer um círculo de 360 graus. O que vi nos deixou maravilhado. Seria ali a tentativa de compra.
            Vamos fotografar na lateral em voo rasante a 20 m de altura e 50 m de distância das árvores no sentido exato Sul-Norte e outra passagem Leste-Oeste a mesmas altura e distância.
             As duas fotos clicadas.
            Olhamos para o lado e vimos o agrônomo que parecia morto, caído entre o banco e a porta, com evidente desmaio.
            Retornamos à pista e o ajudamos a desembarcar, retomando lentamente a consciência. Nos explicou que desmaiara. O deixamos em sua casa e nunca mais o vimos em Serafina Corrêa. (Cremos nunca mais voaria em avião pequeno.)
            Mandamos revelar as fotos em tamanho superior a um cartão postal. Ficaram ótimas e foram objeto de curiosidade.
            Procuramos o proprietário e iniciamos conversações de compra no local. Perguntamos até onde a enchente de l941 atingira a propriedade. Ele era ainda pequeno na ocasião, mas seu pai o informara que a água chegara até um pé de laranjeira numa baixada atingindo apenas pequena parcela da terra.
            Depois de consultado o pai de Jovelino Zanetti, morador do outro lado do rio que nos confirmou da altura da enchente, adquirimos a parte daquele proprietário, cerca de 5 ha de terra quase plana, com menos de meio por cento de aclive.
            Restava a parte maior (cerca de 7 ha) mas o proprietário negou-se a vende-la. Adquirimos então uma área similar do outro lado do rio.
            Iniciada a construção dos galinheiros, fomos procurados pelo vizinho da primeira área comprada, que se dispôs a permutar as áreas. Avaliada a situação, aceitamos a proposta.
            Na foto, é possível verificar a propriedade. Inicia-se numa estrada à esquerda e vai até o rio com água barrenta. Um único vizinho.
            Os construtores dos galinheiros contratados exigiam o local aplainado e devidamente demarcado. Participamos da primeira marcação juntamente com o Sabino Gasparotto, capataz geral e o Macari, responsável pelas construções da empresa. As demais próximas foram feitas somente pelos dois.
            Depois do alojamento das primeiras matrizes, foi proibida a entrada de terceiros, alem dos funcionários, que deveriam banhar-se e trocar de roupa e calçados (fornecidos pelo frigorífico).
            Pudemos então, confirmar o acerto da escolha do local para os galinheiros.

        


Após, determinamos que um veterinário, que fazia semanalmente a visita aos galinheiros, que demarcasse as futuras construções. Sem má fé, localizou e demarcou um local à beira do rio, susceptível à enchente. Um desastre que manchou a escolha da localização que estava realmente em área propícia. Como era vedada a entrada, nos éramos o único que conhecíamos toda a área e mais tarde, quando nos afastamos, já a empresa tinha sido adquirida por um conglomerado de similares, abandonaram e venderam a propriedade para um terceiro, que ainda trabalha com os seis galinheiros duplos restantes, livres das enchentes.
O local, até hoje é ideal e o erro de um veterinário foi o causador da troca de local para a produção de ovos para a incubação nas máquinas da empresa.
            Quarenta anos após e relembrando o passado, procuramos e encontramos no Google Earth o mapa da região e imprimimos a foto aérea que segue no anexo.


          Meu filho conseguiu uma close dos galinheiros na beira do rio Carreiro, que permitiu que eu conseguisse a escala da área, proporcionando calcular a dimensão da propriedade.
            Os galinheiros têm o comprimento dez vezes maior que a largura, creio 9 m por 90 m. Eles devem ter sido um metro menor que a largura do telhado (8x90), que abrigavam 4.000 poedeiras e seus galos. Ver que os telhados não têm cumeeira, permitindo que o calor animal se dissipasse pelo alto.
           A terra, um triângulo irregular tem 1.100 m entre a curva do rio e o pátio da casa do antigo morador e cerca de 770 m de largura. Se conclui que havia terras suficientes para mais 10 galinheiros duplos, distantes das enchentes, provando que a área era adequada e não foi devidamente aproveitada. Era um aclive contínuo desde a curva do rio até a casa de moradia.

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário