COMPRANDO
COLÔNIAS DE TERRAS
A
construção do matadouro de aves do Frigorífico Ideal estava se encaminhando
para o final e estava chegando a hora de pensarmos na aquisição de lotes de
terra para a construção dos galinheiros que abrigariam as matrizes que
produziriam os ovos destinados ao incubatório que também estava sendo
viabilizado.
Procuramos
informações e não encontramos respostas. Colono não vende a terra e a área
deveria ser relativamente grande para abrigar milhares de galinhas poedeiras e
respectivos galos. Plana, distante de estradas e aglomerações humanas, para
evitar possíveis contágios e epidemias de peste. Não muito distante para
facilitar a administração. De preferência no município de Serafina Corrêa.
Em
Nova Prata vivia um piloto brevetado que realizava voos panorâmicos e viagens
aéreas em seu monomotor Cessna de quatro lugares. Entramos em contato
telefônico e marcamos um voo no próximo domingo depois do meio dia.
Procuraríamos um local apropriado e pretendíamos fotografar o possível local
encontrado.
Eventualmente
um agrônomo que residia em Nova Bassano nos visitava em Serafina Corrêa e
justamente na véspera do voo nos procurou. Contamos a ele o que pretendíamos
fazer e o convidamos para ir junto. Fizemos-lhe uma pergunta incompleta: Vc já
andou de avião ? (omitimos o ”pequeno”).
-
Várias vezes (ele pensando em voo de avião de carreira).
-
Se vc quiser ir junto, passaremos na sua casa e lhe pegamos. Aceitou.
No
aeroporto de Nova Prata nos apresentamos como ex-piloto e descrevemos o voo que
pretendíamos fazer. Voaríamos em S na direção de Serafina na altura de 500 m e
desejávamos fotografar a área escolhida com nossa câmera.
O
pequeno avião não tinha janela móvel mas tinha uma pequena abertura parafusada
de cerca de 7 por 12 cm. Desaparafusou-a e avisou: Vai ter grande turbulência a
bordo. – Não importa.
Embarcamos.
Sentamos no banco atrás do piloto e o agrônomo ao lado dele.
Decolamos
e tivemos visão panorâmica da região e nenhuma possibilidade até que
descortinamos o rio Carreiro. Quem sabe em suas várzeas?
Rios
de montanha são sinuosos e vimos de longe que o rio fazia uma grande curva e
voltava quase paralelo, deixando no entremeio uma faixa de terras cercado por
água por três lados. Nos pareceu local adequado.
Falamos
ao piloto: Baixar para 300 m e fazer um círculo de 360 graus. O que vi nos
deixou maravilhado. Seria ali a tentativa de compra.
Vamos
fotografar na lateral em voo rasante a 20 m de altura e 50 m de distância das
árvores no sentido exato Sul-Norte e outra passagem Leste-Oeste a mesmas altura
e distância.
As duas fotos clicadas.
Olhamos para o lado e vimos o agrônomo
que parecia morto, caído entre o banco e a porta, com evidente desmaio.
Retornamos
à pista e o ajudamos a desembarcar, retomando lentamente a consciência. Nos
explicou que desmaiara. O deixamos em sua casa e nunca mais o vimos em Serafina
Corrêa. (Cremos nunca mais voaria em avião pequeno.)
Mandamos
revelar as fotos em tamanho superior a um cartão postal. Ficaram ótimas e foram
objeto de curiosidade.
Procuramos
o proprietário e iniciamos conversações de compra no local. Perguntamos até
onde a enchente de l941 atingira a propriedade. Ele era ainda pequeno na
ocasião, mas seu pai o informara que a água chegara até um pé de laranjeira
numa baixada atingindo apenas pequena parcela da terra.
Depois
de consultado o pai de Jovelino Zanetti, morador do outro lado do rio que nos
confirmou da altura da enchente, adquirimos a parte daquele proprietário, cerca
de 5 ha de terra quase plana, com menos de meio por cento de aclive.
Restava
a parte maior (cerca de 7 ha) mas o proprietário negou-se a vende-la.
Adquirimos então uma área similar do outro lado do rio.
Iniciada
a construção dos galinheiros, fomos procurados pelo vizinho da primeira área
comprada, que se dispôs a permutar as áreas. Avaliada a situação, aceitamos a
proposta.
Na
foto, é possível verificar a propriedade. Inicia-se numa estrada à esquerda e
vai até o rio com água barrenta. Um único vizinho.
Os
construtores dos galinheiros contratados exigiam o local aplainado e
devidamente demarcado. Participamos da primeira marcação juntamente com o
Sabino Gasparotto, capataz geral e o Macari, responsável pelas construções da
empresa. As demais próximas foram feitas somente pelos dois.
Depois
do alojamento das primeiras matrizes, foi proibida a entrada de terceiros, alem
dos funcionários, que deveriam banhar-se e trocar de roupa e calçados
(fornecidos pelo frigorífico).
Pudemos
então, confirmar o acerto da escolha do local para os galinheiros.
Após, determinamos
que um veterinário, que fazia semanalmente a visita aos galinheiros, que
demarcasse as futuras construções. Sem má fé, localizou e demarcou um local à
beira do rio, susceptível à enchente. Um desastre que manchou a escolha da
localização que estava realmente em área propícia. Como era vedada a entrada,
nos éramos o único que conhecíamos toda a área e mais tarde, quando nos
afastamos, já a empresa tinha sido adquirida por um conglomerado de similares,
abandonaram e venderam a propriedade para um terceiro, que ainda trabalha com
os seis galinheiros duplos restantes, livres das enchentes.
O local, até hoje é
ideal e o erro de um veterinário foi o causador da troca de local para a
produção de ovos para a incubação nas máquinas da empresa.
Quarenta
anos após e relembrando o passado, procuramos e encontramos no Google Earth o
mapa da região e imprimimos a foto aérea que segue no anexo.
Meu filho conseguiu uma close dos galinheiros na beira do rio Carreiro,
que permitiu que eu conseguisse a escala da área, proporcionando calcular a
dimensão da propriedade.
Os
galinheiros têm o comprimento dez vezes maior que a largura, creio 9 m por 90
m. Eles devem ter sido um metro menor que a largura do telhado (8x90), que
abrigavam 4.000 poedeiras e seus galos. Ver que os telhados não têm cumeeira,
permitindo que o calor animal se dissipasse pelo alto.
A terra, um triângulo irregular tem 1.100 m entre a curva do rio e o
pátio da casa do antigo morador e cerca de 770 m de largura. Se conclui que
havia terras suficientes para mais 10 galinheiros duplos, distantes das
enchentes, provando que a área era adequada e não foi devidamente aproveitada.
Era um aclive contínuo desde a curva do rio até a casa de moradia.
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