GARIBALDI
Garibaldi,
navegador e teórico da república, foi condenado à morte pela corte Genovesa, então parte do reino
da Sardenha e Piemonte, cujo rei era Carlos Alberto de Savóia. Dessa forma, teve que evadir-se
de sua Itália por participar da fracassada insurreição contra o sistema de
governo monárquico existente. Na época, o rei era a última instância do
condenado a ser executado. Poderia solicitar o perdão ou a transformação da
pena capital em prisão.
Foi para a França e foi novamente perseguido. Fugiu
para a Tunísia e depois para o Rio de Janeiro.
Com assistência da maçonaria teve uma
entrevista com Bento Gonçalves, autoridade militar da República Rio-Grandense e
prisioneiro em fortaleza Imperial no Rio de Janeiro. Afinados, acertaram que lhe seria outorgada
pela república uma Carta de Corso, que o habilitaria a atacar e apreender
navios de guerra ou de comércio com bandeira do Império juntamente com suas
cargas, em troca da metade do butim. Em
seu pequeno barco, tremularia pela primeira vez nos mares o pavilhão tricolor
farrapo. A Carta de Corso mencionava que o barco deslocava 120 toneladas.
A novel república lhe
facilitaria o acesso aos portos marítimos que dispusesse, assim como os dos
“países amigos” para reabastecimento.
Em
poucos dias, Garibaldi
conseguiu tripulação (a maioria de italianos expatriados como ele) e um pequeno barco de cabotagem, que deslocava 20 toneladas – denominado de Mazzini. Armou um
pequeno canhão no convés, escondido entre mercadorias, e aproou ao oceano em
busca de presas. Junto com elas,
também alcançou a imortalidade.
Em mar aberto, sob
ameaça, abordou o navio de carga Luiza e tomou-o.
Renomeou o barco apreendido como
Farroupilha. Trasladou-se para o novo barco e desfraldou a bandeira
farrapa. Após, afundou o
Mazzini. Como corsário honrado, não
tocou nos tripulantes, passageiros e seus bens pessoais. Mais ao sul, deixou-os em
terra firme sãos e salvos.
Após tentar vender o produto do primeiro
saque em Maldonado – 54
toneladas de café em grão –, foi perseguido pela marinha uruguaia. Entrando em águas argentinas, foi atacado, sendo ferido no pescoço. Foi preso e teve o seu
barco confiscado, bem como o produto do saque
apreendido. Esteve em relativa liberdade
pessoal em uma pequena vila, onde restabeleceu-se. Na segunda tentativa de fuga a cavalo, via
Uruguai, chegou a Piratini, onde se apresentou para lutar pela república.
Na Argentina, aprendeu a cavalgar.
Guerrear, aprendeu com os farrapos.
Construiu em Camaquã dois barcos (o Seival e o Rio Pardo) e praticou atividades de corso nas águas interiores do RS.
Ajustou com a república que o resultado do saque aos navios de comércio do
Império brasileiro seria divididos em três partes iguais, cabendo uma delas a ele próprio. Mais tarde,
cercado no rio Capivarí, conduziu os navios por terra até o mar em
Tramandaí.
Porém, apenas o Seival chegou a Laguna, onde participou da tomada da cidade. O Rio Pardo
naufragara em águas de Santa Catarina. Como corsário, reiniciou com sucesso a
prática de saques de navios cargueiros do Império, contando com uma esquadrilha
de três barcos que atuavam em conjunto: O Rio Pardo, navio capitânea (ex
Itaparica), comandado por Garibaldi, o Seival e o Caçapava. Lá conheceu e enamorou-se por Anita que seria sua
valorosa companheira.
Meses depois, derrotado junto com os
farrapos em Laguna e após
o colapso da República Juliana, perdeu todos os barcos e o butim obtido
com as atividades de corso que praticou nas imediações do porto de Laguna, retirando-se por terra para o
sul.
Acossado em Curitibanos, teve que
aceitar o combate e
deixou Anita, juntamente com alguns soldados, em guarda da munição. Derrotado,
fugiu para o RS, deixando Anita prisioneira do Império. Anita evadiu-se sozinha
e foi ao encontro de Garibaldi. Já grávida, encontrou-o dias após em Vacaria.
Ao se dirigirem para o sul, os
Farrapos encontraram oposição armada na vila do Imarui. Canabarro, irritado,
determinou a Garibaldi que tomasse a vila pelas armas e autorizasse o saque das
moradias. Não encontraram riqueza e sim muita bebida alcoólica. Desvairados,
praticaram estupros, roubo de objetos, violências. Garibaldi menciona o fato em suas memórias.
Este ato foi o seu único arrependimento no Brasil.
Acompanharam o exército farrapo em
retirada até Viamão, onde ficaram “abrigados”, certamente em casa alheia.
Mais tarde, com a gravidez de sete meses e sem
lar, Anita acompanhou os
mil farrapos na aventura fracassada de tomar o porto de São José do Norte.
Nos arredores de Mostardas, foi
abrigada em rancho de pescadores –
família Costa –, aguardando
o parto. Garibaldi seguiu para a batalha. Derrotado outra vez em 15 de julho, fugiu
novamente. Poucos dias
antes de nascer seu filho, foi ao encontro de Anita. Nascido o filho Menotti em
16 de setembro de 1840, constatou que não havia roupas adequadas para a criança
nascida em inverno rigoroso. Dirigiu-se a cavalo à Viamão, onde conseguiu auxílio de outro italiano para
comprar as roupas. Retornando a Mostardas, não encontrou mais a mulher e a
criança, que por temor dos Imperiais, fugira com seu filho para os matos, onde
Garibaldi os encontrou.
Os Farrapos determinaram que o casal
fosse mais uma vez abrigado em casa abandonada, à beira da Lagoa dos Patos,
junto a foz do rio Capivari.
Garibaldi, Anita e o filho, no começo de 1841, acompanharam a retirada dos
exércitos farrapos de Setembrina (Viamão), subindo a serra até Vacaria, com
atrozes sofrimentos, frio e fome.
Dali para Passo Fundo, Cruz Alta e finalmente São Gabriel. Participaram
de batalhas como vencidos e vencedores, sem que houvesse qualquer resultado
definitivo. Em suas memórias,
a nomeia de “ritirata disastrosa”.
Garibaldi compreendeu que a
revolução não tinha mais futuro de vitória e sucesso pela inexistência de um
porto marítimo. A paz tinha só um
impasse. Os farrapos queriam um acordo entre países e o Império oferecia
anistia geral aos insurretos. A República Rio-Grandense jamais foi reconhecida
como país por qualquer outra nação. Nem pelo Uruguai. Quatro anos após, a
anistia finalmente foi aceita a contragosto, com o custo de centenas de vidas perdidas
inutilmente em batalhas que não levaram a nada. Um arremedo de acordo de paz em Ponho Verde , foi e
ainda hoje é veiculado como sendo verdadeiro. O Império jamais assinou qualquer
acordo com os Farrapos.
Em março de 1841, com aprovação de
Bento Gonçalves e na maior miséria, decidiram ir de São Gabriel para o Uruguai,
donde mais tarde iriam para a Itália. Garibaldi recebeu pelos serviços que
prestara à república 900 bovinos como pagamento. Mau tropeiro, chegou a
Montevidéu só em junho, com cerca de 300 esquálidas cabeças de gado que foram
vendidas para pagar o custo dos tropeiros contratados e os primeiros gastos em
Montevidéu. Havia pedido anistia, prometendo não mais combater contra o Império.
Foi-lhe concedida.
Poucos anos antes de partirem do
Uruguai para a Itália, Anita, com mais filhos, já casada anteriormente em SC,
ao acreditar no falecimento do seu primeiro marido contraiu um segundo
casamento com Garibaldi.
Pesquisadores nunca encontraram a
sepultura do seu ex-marido.
Anita apresentou-se na igreja como
solteira e analfabeta (mesmo que
trocasse cartas com Garibaldi), e por isso não assinou a documentação. O casamento foi em dia impróprio –
Sábado de Aleluia – e não foi realizado pelo pároco e sim por um padre alheio
àquela igreja. Foram dispensados os proclamas e Garibaldi deu um relógio de
ouro ao padre oficiante. A mãe de Garibaldi jamais aceitou esse casamento como
válido, sendo por isso
motivo de contínuas desavenças entre elas.
Durante certo período – 17 de
junho de 1841 até 15 de abril de 1848 – combateu no empobrecido Uruguai ao lado do presidente José
Fructuoso Rivera, que lhe atribuiu o comando da pequena esquadra de três navios
de guerra em lutas internas e contra o ditador argentino Rosas. Derrotado em
combate, mais uma vez, mandou incendiar a frotilha. No Uruguai, como mercenário
mal pago, foi sempre um enteado da sorte. Viveu em extrema dificuldades
financeiras, suportadas com coragem por Anita. Em 27 de dezembro de 1847,
mandou a esposa e filhos para a Itália e logo seguiu-os. Lá, em outra fuga continuada após mais
derrotas e fugas na Itália, Anita (grávida novamente) encontrou a morte
sem qualquer assistência. Garibaldi, acuado, reiniciou a fuga e solicitou a
terceiros que sepultassem Anita. Com medo dos austríacos que proibiam qualquer
auxilio aos rebeldes, o fizeram em surdina em cova rasa, clandestina, num
monturo e com medo de peste, arrastaram-na com uma corda pelo pescoço. Cinco
dias após, apareceu o braço da Anita. Avisada a polícia austríaca, o legista,
em razão de marcas de corda no pescoço e traqueia rompida, atestou,
erradamente, morte de Anita por enforcamento e denunciou Garibaldi como
assassino. O falecimento natural de Anita foi, na verdade, assistido por várias
pessoas. Com o atestado de óbito, foi levada em uma carroça e sepultada num
pequeno cemitério. Somente dez anos depois, seus despojos foram trasladados
para uma sepultura condigna.
A História dignificou-a como
figura exemplar, estoica, esposa, mãe e guerreira. Hoje existe em Laguna museu e estátua em sua
homenagem. Seus valores
servirão de modelo pois, mesmo
não tendo nascida gaúcha, é orgulho nosso.
Em suas memórias, Garibaldi faz mínimas
referências à Anita e aos farrapos. Lamentou não dispor na Itália de cavalaria
igual à dos exércitos farrapos.
Há mais em outras fontes: O padre em exercício da
vice-presidência da República Juliana, em Laguna, entrou sem avisar na sala do
general e deparou-se com
Canabarro, de calças arriadas, mantendo relação sexual com uma lagunense
encostada em sua escrivaninha. Saiu aos gritos de “vi o demônio”. Lá se
finalizou a ruptura entre os Farrapos e a República Juliana.
Após a retirada dos Farrapos, o
padre foi encontrado nas ruas de Laguna, morto, nu e castrado.
Tempos depois, em nova situação
política na Itália, Garibaldi foi o herói que congregou todas as forças e levou
à unificação do seu país. Apesar de ser
um antimonarquista declarado e ativo, Garibaldi acabou encontrando a glória ao
contribuir para a unificação da Itália sob a monarquia de Vitor Emanuel II,
filho de Carlos Alberto, soberano da Sardenha que abrangia Gênova – e cuja corte condenara
Garibaldi à morte em 1834, mais de vinte anos antes, por atividades violentas contra a monarquia.
Quem diria.
Carlos Alberto de Savóia era rei da Sardenha e
Piemonte em 1832 e pai de Vitor Emanuel II, rei da Sardenha e Itália unificada,
de 23-3-1849 a 17-3-1861. Lutou para que o filho do rei que o condenara a morte
fosse o rei que unificaria a Itália.
Terminada a luta, Garibaldi recebeu
do rei, como compensação de sua participação nos combates, a propriedade de
toda a ilha de Caprera, onde bem mais tarde faleceu.
Esta é a vida de um controverso aventureiro,
mercenário, soldado da fortuna, que nunca lutou sem vantagem econômica.
Os povos necessitam ter heróis para reverenciar.
Bibliografia: Entre
outros, livros: História de Santa Catarina, do lagunense Oswaldo R. Cabral –
Editora Laudes (vide Google), Anita
Garibaldi, de Paulo Markun – Editora SENAC – São Paulo.- ZH de 7-9-2011 pg 29,
Dicionário Farroupilha – Garibaldi e a Guerra dos Farrapos, de Lindolfo Collor.
– Vitor Emanuel II da Itália de Marcos Júnior (Wikipédia - Google) – Expedição
dos Mil (Wikipédia)
A seguir, biografia de
Vitor Emanuel II e relato da “Expedição dos Mil”, encontrado Wikipédia no Google.
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