terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Crônica - As Carreteras

AS “CARRETERAS’

         Corria o ano de 1952 e o esporte da velocidade em automóvel iniciava a sua presença marcante nos jornais e emissoras de rádio. Duraria até 1971.
            Os veículos participantes, automóveis Ford ou Chevrolet, dos anos de 1937, 1939 e 1940, de duas portas, paralamas modificados e com motores “envenenados”, alcançavam até 200 km por hora. Receberam o nome carinhoso de “baratinhas de corrida”. Várias competições em todo o estado, algumas com a presença de argentinos, que denominavam seus veículos de “carreteras”. O nome também pegou por aqui. Asfalto nas estradas, nem pensar. Era chão batido, ronco de motor, audácia, destreza e muita poeira.
      No Alto Taquari, a prefeitura de Encantado e a Cia. de Automóveis Guido Cé, organizaram com enorme sucesso, uma competição automobilística “Força Livre” denominada 1º Circuito do Alto Taquari, que teria a sua partida na cidade em 5 de outubro de 1952 e ia até Cachoeira do Sul. Na segunda etapa e no mesmo dia, o retorno até Encantado. Ao todo 472 km. Entusiasmo e expectativa na região. Tempos somados indicariam o vencedor. Motoristas amadores sonhavam.
           De três em três minutos um competidor recebia a bandeirada de partida.
           Nomes como Breno Fornari, os irmãos Júlio e Catharino Andreatta, Aristides Bertuol, Diogo Ellwanger, Alcides Pretto, Osvaldo de Oliveira, José Asmuz, Antonio Burlamachi, Orlando Menegaz e muitos outros se tornaram os novos heróis no imaginário popular, cada um com seus inúmeros fãs.


                                  
                                       Carretera 22 de Diogo Ellwanger

           A Rádio Independente, de Lajeado, iniciava seus primeiros passos em cobertura externa distante e destacou duas equipes para irradiar: o ponto de partida e chegada, e uma intermediária no Porto Mallmann, entre o passo de Bom Retiro e Mariante, onde havia um armazém, porto para exportação de cereais e um posto de gasolina, com seu respectivo telefone ligado à central de Cruzeiro do Sul.
          Voluntário e em face de minhas ligações afetivas com a Rádio Independente e proximidade, fui o encarregado da organização da segunda.
             Convidei Mário Ribeiro para locutor e me encarreguei dos cálculos necessários para verificar, a posição de cada participante no exato momento da passagem. Convidei mais, Lindolfo Leonhard, o segundo da esquerda para a direita e Arnildo Jovino da Silva, à direita da foto (assessores metereológicos). Todos moradores de Bom Retiro do Sul, e lá nos apresentamos.
             Eu era o proprietário e o motorista do carro que aparece na foto. Barata Ford modelo 1940, conversível e com volante de Ford 1951. Um sonho e um orgulho para um jovem solteiro como eu.

                           


                                          No capô, o prefixo da Rádio Independente.

              Na passagem de retorno, fui calculando a posição de cada um levando em conta a primeira etapa.
               Após a passagem de Diogo Ellwanger e mais três carros, pude afirmar com segurança que Diogo levava seis minutos de vantagem sobre o segundo colocado e, faltando apenas 50 quilômetros, se nada acontecesse, ficaria com a vitória.
               Fomos os primeiros a levar a notícia ao público.
          Mário mostrou seus dotes de repórter, solicitou por telefone à rádio seu ingresso no ar e garantiu a vantagem do primeiro lugar sobre o segundo. Afirmava que, com a presença de um matemático (eu), podia fazer a assertiva com responsabilidade.
               Diogo Ellwanger venceu a corrida e Catharino Andreatta chegou em segundo, ambos com carros Ford.
               Logo após a passagem do último competidor, embarcamos no meu carro e nos dirigimos a Lajeado, a toda velocidade, de tolda arriada e ligados na rádio Independente. Ainda encontramos no trajeto os bandeiristas que faziam o sinal de passagem livre e aplaudidos como se fôssemos competidores.
                Estacionamos e nos apresentamos na rádio. Ainda estavam terminando os cálculos finais relativos à passagem por Lajeado, que confirmaram as nossas previsões. A Rádio Independente levou aos ouvintes a notícia, antes da chegada do primeiro participante à Encantado Um furo jornalístico sensacional para a emissora e inesquecíveis cinco minutos de glória efêmera para as equipes.
                  Pouco tempo depois, resolvi casar com a Lucy e vendi minha barata para adquirir os bens necessários para o meu lar.

                 Crônica publicada no Jornal A HORA, de Lajeado, em 5 de junho de 2014.

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