quinta-feira, 22 de abril de 2021

 

 

 

 

 

 

OS RUSCHEL

ORIGEM, HISTÓRIA E GENEALOGIA

 

 

 

LEANDRO LAMPERT

 

Janeiro de 2021

 

 

 

SUMÁRIO

                      INTRODUÇÃO …………………..………….         3

                        FAMÍLIA DE SEBASTIAN RUSCHEL …….      4

                      OS ESTADOS TEUTÔNICOS ……...…   …..      9

                        RAZÕES DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ .……….     10

                         A CANÇÃO DO IMIGRANTE ……………….    20

                        O CAPITÃO MIGUEL ………………………..…  23

                         RUSCHEL IRMÃOS EM MUÇUM …………..  32

                         JOHANN RUSCHEL …………….……….…… 33

                        CARTA AOS RUSCHELINOS …………...…… 36

                        MAIS HISTÓRIAS RUSCHELINAS ……….…  38

                         DESCENDANTS OF IDA - 7 GERAÇÕES …  39

                      ANCESTORS OF FLÁVIA RUSCHEL .…….     50

                         BRASÃO RUSCHEL COLORIDO ..………      51

                         HISTÓRIA DO NOME RUSCHEL ………….    52                  

                         

                                                  INTRODUÇÃO

Escrever sobre nossos antepassados é tarefa agradável, porém delicada e trabalhosa. Retornamos a um passado distante e já esquecido. Decidimos abrir o baú dos tempos que já passaram, procurar e encontrar como viveu nossa gente. Nossa curiosidade principal é para saber como eram, onde moravam e a decisão terrível de deixar a pátria. Não deve ter sido fácil. A decisão de emigrar estava relacionada com a miséria alimentar. Famílias enormes, pouca terra e esta ainda, praticamente já sem fertilidade. Aprendemos muito e desejamos compartilhar com os demais parentes Ruschel o conhecimento das nossas descobertas, considerações e resultados. Estamos sujeitos a erros, face às dificuldades, por eventuais imprecisões dos cartórios e paróquias ou por nossa própria incompetência. Bem no fundo, queremos mesmo é exibir nosso orgulho em também ser um RUSCHEL. Para amar é preciso conhecer.

       Serão bem-vindas as informações sobre lacunas, contradições e erros que forem encontrados, assim como novas contribuições para aperfeiçoar e completar este trabalho. Não criamos nada, apenas pusemos ordem e cronologia nas informações esparsas que coletamos e fizemos deduções lógicas que permitem transmitir uma visão da vida dos que nos antecederam na família Ruschel.

       A emigração para o Brasil foi um gesto de desespero, coragem e otimismo no futuro. Não tinha mais volta. A pátria, as aldeias, os familiares que permaneceram, foram vistos pela última vez na vida. Dalí em diante seria tudo novidade. A fé na sua capacidade de trabalho, perseverança e economia, levaria fatalmente à obtenção de progresso, solidez econômica e um adeus às vicissitudes e fome sofridas na pátria de origem.

       Acreditamos que, possivelmente, nossa geração seja a última com memória, disposição e material genealógico que permita a transmissão de dados familiares exatos, antes que se percam para sempre. É agora ou nunca mais.

       Este é o principal objetivo do nosso esforço.

       Agradecemos aos que nos incentivaram e auxiliaram e a todos os novos colaboradores.

                                               Porto Alegre, julho de 2008.

                                                      Leandro Lampert

Geraldo Ruschel

 

 

FAMÍLIA DE SEBASTIAN RUSCHEL

NA EUROPA

       Os Ruschel são originários da região do Saar-Hunsrück, sudoeste da Alemanha, próxima à França, entre as cidades de Trier e Saarbrücken.

       O casal Sebastian Ruschel e Anna Maria Mayer com oito filhos partiu do porto de Bremen com destino ao Brasil. Chegaram em Porto Alegre em 17 de outubro de 1846. Vieram pelo brigue Hanseat. Encontramos os registros de entrada no Brasil no Arquivo Público, no livro C332, anotados com idades próximas à realidade. Tudo era mais ou menos. Posteriormente encontramos as datas de nascimento verdadeiras.

 

                                         Foto: Álvaro A. Paes

       A localização geográfica da vila de origem, Mühlfeld, foi prejudicada por tradição oral equivocada, que desviou a busca para outra região. A informação era que Sebastian morava junto ao Mosela, nos encaminhou para buscas entre o norte e o sul de Trier, às margens do rio. Nunca encontramos Mülhfeld. Ao norte de Trier, encontramos Mülheim, e ao sul Mettlach, que ainda mais nos confundiram.

       Imaginávamos que Mülhfeld não poderia estar muito longe de Trier e que a distância permitisse, talvez, a ida e volta no mesmo dia ou, no máximo, retorno no dia seguinte. Esta observação revelou-se acertada e a distância real é de 34 km.

       As buscas continuaram e lentamente foram aparecendo mais nomes: Scheuern, onde nasceu e morava Sebastian, perto de Mühlfeld, residência de Anna Maria; Mettnich, local de passagem da carruagem de passageiros; Otzenhausen, onde o casal contraiu matrimônio. Mesmo assim não localizamos a região nos mapas analíticos que dispúnhamos. As localidades deveriam ser próximas umas das outras, pois os jovens não tinham como procurar seus amores em lugares distantes por falta de condições de transporte. Mais tarde localizamos onde residiam os avós maternos da noiva, Marpingen. Só então tudo se esclareceu. Nos lembramos que em nossas pesquisas havíamos localizado um Lampert que casara com noiva residente em Marpingen e todas essas localidades deveriam estar próximas umas das outras. Assim era. Procuradas em outra posição dos mapas, localizamos todas as vilas de origem dos Ruschel. Eram aldeias muito pequenas, insignificantes e em região desolada. Não constavam em mapas convencionais. Xerox de mapa está anexo, com círculos demarcando os locais de interesse.

       Um exame no mapa nos permite ver que a região era de pequenas elevações, pois era divisor de águas. Os rios Glan e Nahe seguem em direção norte até o Reno. O rio Prims, perto de Mühlfeld e Mettnich, corre para o sudoeste até alcançar o Saar, que deságua no Mosela, assim como o rio Blies corre para sudeste até também alcançar o Saar mais acima. Mais ou menos, a região fica no terço inferior entre Trier e Saarbrücken. As terras de encosta, prováveis minifúndios, deveriam estar erodidas e esgotadas, obrigando os agricultores a emigrar como única forma de manter a sobrevivência e proporcionar um futuro para os filhos. Pelo mapa, também verificamos que a quantidade de aldeias era menor que em regiões próximas, o que traduz, em nosso entender, que a terra de lavoura não suportava mais habitantes.

       Sebastian Ruschel, nasceu em Scheuern em 7 de maio de 1809, casou em 2 de janeiro de 1833 em Otzenhausen, 9 km ao norte de Mühlfeld. Faleceu em 22 de novembro de 1882 em Feliz – RS.

       Anna Maria Mayer nasceu em 30 de março de 1808 em Mühlfeld, 4 km ao norte de Scheuern. Há controvérsia em relação ao ano de seu nascimento. A tradição oral informa que ela aumentou sua idade, voluntariamente, no ato de casamento. Faleceu em 1º de Agosto de 1888 em Estrela – RS.

       Ele mantinha um serviço de transporte de passageiros por carruagem em Mühlfeld, Mettnich, 2 km ao norte, e Trier, mais de 32 km a noroeste.

       A tradição oral que tínhamos era que Mühlfeld se situava nas margens do rio Mosela, advindo daí a inclinação de Mathias Ruschel S° pela navegação fluvial, foi informação fantasiosa. A rota de transporte rodoviário era a sudeste de Trier, portanto, quase perpendicular ao Mosela.

       Estão demarcadas no mapa anexo Trier, Otzenhausen, Mettnich, Mühlfeld, Scheuern e Marpingen.

       Trier, cidade-fortaleza romana foi construída por Júlio Cesar (Tréveris) é a capital da região. Mantivemos contato epistolar com os arquivos católicos da cidade. (Bischöpfliches Generalvikariat)

       Otzenhausen, sede do cartório onde o casal contraiu matrimônio.

       Mettnich, junto ao riacho Prims.

       Mühlfeld, moradia de Anna Maria Mayer, onde o casal passou a residir.

       Scheuern, residência de Sebastian Ruschel até o casamento.

       Marpingen, localidade onde moravam os pais dos sogros de Sebastian.

                                                           NO BRASIL

              Encontramos no Arquivo Público o registro formal de aquisição do lote 18 de terras na Picada Dois Irmãos, então município de São Leopoldo. Cremos que Sebastian desistiu de construir ali sua residência, provavelmente, por ser região de colonização predominante evangélica. Também encontramos o registro de nova aquisição de outra colônia de terras em Picada Feliz, lote 13, do outro lado do rio Caí, não muito distante do lote anterior, mas no meio de outros moradores católicos e com o rio Caí como meio de transporte mais fácil.

       Sabemos que a colonização alemã no RS, em seus primórdios, teve grande maioria de imigrantes da confissão luterana. Após alguns anos, os católicos foram crescendo em número, até atingir quase a metade das famílias. A existência do lote 18 em Picada Dois Irmãos, colonizado em 1827 e desocupado, pode ter outra explicação. Talvez fosse um local pouco adequado à moradia e lavoura, razão talvez invocada por Sebastian para trocar de terras.

       Seus filhos, nascidos em Mühlfeld:

1)             João Nicolaus Ruschel tinha 20 anos nos registros de alfândega, (1826) mas deve ter nascido em meados de 1831, e casou em 4 de fevereiro de 1851 com Catharina Scherer, livro de casamentos 1, página 2. O casal teve 17 filhos.

2)             Michael Ruschel, nasceu em 8 de fevereiro de 1833 e faleceu em 18 de outubro de 1903 em Estrela – RS. Casou em 2 de outubro de 1855 com Anna Maria Scholer, nascida em 14 de agosto de 1832 e falecida em 20 de julho de 1903 em Estrela – RS. O casal teve 9 filhos.

3)             Maria Ruschel nasceu em novembro de 1834 e faleceu em 1º de julho de 1890 em Picada Cará – RS. Casou em 29 de janeiro de 1856 com Pedro Nicolau Klein, nascido em 17 de agosto de 1825 e falecido em 22 de setembro de 1890 em Picada Cará – Feliz – RS. O casal teve 14 filhos.

4)             Catharina Ruschel nasceu em 12 de outubro de 1836, casou em 11 de maio de 1858 em Dois Irmãos, livro de casamentos 1, página 3 e faleceu em 27 de outubro de 1922 em Estrela. Seu esposo era Pedro Kern, já nascido no Brasil e filho de Pedro Kern e Agnes Scheiss.

5)             João Ruschel, nascido em 14 de setembro de 1838, casou em 30 de junho de 1863 em São José do Hortêncio, livro 1 e página 60. Faleceu em 11 de junho de 1925 e está sepultado no cemitério católico Santa Catarina em Feliz. Sua esposa, Anna Maria Stürmer, nascida em 11 de fevereiro de 1847 e falecida em 27 de fevereiro de 1926, sepultada no mesmo cemitério. O casal teve 13 filhos.

6)             Anna Maria Ruschel, nascida de 29 de maio de 1840. Casou em 8 de maio de 1860 em São José do Hortêncio, livro 1, página 42. Faleceu em 23 de janeiro de 1929 em Feliz. Seu esposo foi Francisco (Frederico) Stürmer e o casal teve 11 filhos.

7)             Jacob Ruschel, nascido em 29 de abril de 1844 e faleceu em 27 de abril de 1916, sepultado em São José do Hortêncio. Casou em 27 de setembro de 1866 com Anna Maria Friedrichs, nascida em 2 de fevereiro de 1844 e falecida em 16 de abril de 1922. Cemitério S. Catarina em Feliz. Ela era filha de Carlos Friedrichs e Maria Schinen. O casal teve 8 filhos.

8)             Matias Ruschel (Sênior), nascido em 19 de novembro de 1845. Casou em 26 de julho de 1870 em S. José do Hortêncio, livro 2, página 43. Faleceu em 2 de novembro de 1936 em Estrela. Sua esposa foi Catharina Schossler, falecida em 1882. Tiveram 8 filhos. Matias contraiu novo matrimônio em 16 de outubro de 1833 em Estrela, com Cristina Becker, falecida em 1897, filha de Mathias Becker e Anna Maria Wolling. Tiveram 7 filhos. Num terceiro matrimônio com Gertrudes Herrmann, falecida em 1929, não deixou descendência.

Seus filhos, nascido em Feliz – RS.

9)             Nicolau Ruschel (Sênior), nascido em 23 de outubro de 1849, casou em 7 de maio de 1872 em São José do Hortêncio, livro 2, página 59, e faleceu em 21 de setembro de 1920, em Estrela. Sua esposa Apolônia Schüssler, era filha de Nicolau Schüssler e Margarida Wagner. Tiveram 14 filhos.

10)           Peter Ruschel em 30 de julho de 1852 em Picada Feliz, (sua mãe então já tinha 44 anos de idade) casou em 7 de maio de 1874 e faleceu em 16 de junho de 1922 em Estrela. Sua esposa Luiza Heberle, nascida em 1855 e falecida em 17 de junho de 1928, sepultada em Estrela. Era filha de Pedro Heberle e de Catharina Caye, tiveram 12 filhos.

Além de 10 filhos, foi avô de 113 netos.


                                 DESCENDENTES DE NICOLAUS RUSCHEL – 37

1 – NICOLAU RUSCHEL – 37(n. 1725)

Esp: CATARINA PFEIFER – 38(n. 1730)

2 – MICHAEL RUSCHEL – 20 (n. 6 set 1751, f. 6 jul 1829, Scheuern – Trier)

Esp: MARGARETH ZOBEL – 36 (n. 21 dez 1760, f. 5 jun 1803)

Esp: MARIA FALK – 21 (n. 20 dez 1772, f. mar 1927)

3 – SEBASTIAN RUSCHEL – 1 (n. 7 mai 1809, Scheuern – f. 22 nov 1882, Feliz)

Esp: ANNA MARIA MAYER – 2 (n. 30 mar 1808, Mühlfeld, f. 1 ago 1888, Estrela)

4 – JOÃO NICLOAU (KLOSS) RUSCHEL – 3 (n. 1831)

Esp: CATHARINA SCHERER – 13

4 – MICHAEL RUSCHEL – 4 (n. 6 fev 1833, f. 18 out 1903 – Estrela)

Esp: ANNA MARIA SCHOLLER – 14 (n. 14 ago 1832, f. 20 jul 1903 – Estrela)

4 – MARIA RUSCHEL – 5 (n. nov 1834, f. 1 jun 1890 – Feliz)

Esp: PEDRO NICOLAU KLEIN – 15 (n. 18 ago 1825, f. 22 set 1890)

4 – CATARINA RUSCHEL – 6 (n. 12 out 1936, f. 27 ou 1922)

Esp: PEDRO KERN – 35

4 – JOHANN RUSCHEL – 7 (n. 14 set 1838, f. 11 jun 1925)

Esp: ANNA MARIA STÜRMER – 34 (n. 11 fev 1847, f. 27 fev 1926)

4 – ANNA MARIA RUSCHEL – 8 (n. 29 mai 1840, f. 23 jan 1929 – Feliz)

Esp: FRANCISCO (FREDERICO) STÜRMER – 33

4 – JACOB RUSCHEL – 9 (n. 29 abr 1844, f. 27 abr 1916)

Esp: ANNA MARIA FRIEDRICH – 32 (n. 2 fev 1844, f. 16 abr 1922)

4 – MATHIAS (SÊNIOR) RUSCHEL- 10 (n. 19 nov 1845, f. 2 nov 1936 – Estrela)

Esp: CATHARINA SCHOSSLER – 17 (f. 1882)

Esp: CRISTINA BECKER – 18 (f. 1897)

Esp: GERTRUDES HERRMANN – 19 (f. 1929)

4 – NICOLAU (SÊNIOR) RUSCHEL – 11 (n. 23 out 1849 – Feliz, f. 21 set 1920)

Esp: APOLÔNIA SCHOSSLER – 31

4 – PETER RUSCHEL – 12 (n. 20 jul 1852 – Feliz, f. 16 jun 1922 – Estrela)

Esp: LUIZA HERBELE – 30 (n. 1855, f. jun 1928)

DESCENDENTES DE PETER JOSEF MAYER

2 – PETER JOSEF MAYER – 24 (f. 1794 – Mühlfeld)

Esp: BÁRBARA ARTZ – 25 (f. jan 1817 – Mühlfeld)

3 – PETER JOSEF MAYER – 22 (f. 21 mai 1829 – Mühlfeld)

Esp: CATHARINA THOMÉ – 23 (f. 22 abr 1816 – Mühlfeld)

4 – ANNA MARIA MAYER – 2 (n. 30 mar 1808 – Mühlfeld, f. 1 ago 1888 – Estrela)

Esp: SEBASTIAN RUSCHEL – 1 (n. 7 mai 1909 – Scheuern, f. 22 nov 1882 – Feliz)

 

OS ESTADOS TEUTÔNICOS

                       

Antes de Napoleão, a região de fala germânica era formada por vários eleitorados:

1 – 1 Reino da Prússia,

2 – 4 Ducados (Áustria, Saxe, Baviera e Brunswick),

3 – 3 Bispados (Colônia, Mogúncia e Tréves)

4 – 20 Principados Eclesiásticos,

5 – 4 Abadias do Império,

6 – 1 Ordem Soberana,

7 – 20 Principados recentes,

8 – 94 Condados do Império,

9 – 42 Canonicatos do Império e                   

10 – 57 Cidades do Império.

       Após Napoleão foram reduzidos para 36 e só depois de Bismarck, em 1875, a maioria foi agrupada formando o que hoje conhecemos como Alemanha

 

                                           RAZÕES DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ

             Tivemos acesso a trabalhos de pesquisa de Egydio Weissheimer, confrade no Instituto Genealógico do RS, IMIGRAÇÃO ALEMÃ AO BRASIL

        Pela sua magnitude, reputamos ser um dos grandes clássicos da imigração alemã e aproveitamos a redescoberta da canção do imigrante. Constava apenas a poesia em alemão e deixamos a nossa colaboração: Encontramos a partitura, a canção cantada por um coro escolar na Alemanha e mandamos traduzir a letra, procurando respeitar a métrica.

IMIGRAÇÃO ALEMÃ AO BRASIL - II

Egídio Weissheimer, contador e pesquisador

1. Razões   políticas,  econômicas   e   sociais   que determinaram   a   vinda  de soldados e colonos ao Brasil.
2. As dificuldades enfrentadas pelos imigrantes.
3. Regiões   colonizadas   e   principais    cidades fundadas  pelos   imigrantes alemães no RS.

1. RAZÕES POLITICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS QUE DETERMINARAM A VINDA DE SOLDADOS E COLONOS AO BRASIL.

Para entendermos o processo imigratório de alemães para o Brasil é necessário analisar as condições sócio-econômicas reinantes na Alemanha e no Brasil.

Não só a Alemanha, mas toda a Europa respirava aliviada com o fim do flagelo napoleônico. Embora a guerra tivesse terminada em 1815 com a derrota de Napoleão na batalha de Waterloo, isto no entanto em nada mudou as péssimas condições que a Alemanha passava tanto nas cidades como no campo.

No campo reinava o minifúndio. Sucessivas divisões hereditárias haviam tornado as propriedades em frações de terras muito reduzidas. Pela contínua exploração as terras tornaram-se pouco produtivas. Subsistia ainda a estrutura de trabalho baseada no regime feudal. Mas de nada resolvia o abandono do campo pelos camponeses pois estes não encontravam emprego nas cidades. A indústria manufatureira havia criado novas profissões, para as quais os camponeses não tinham habilitação, pois eram na maioria ex servos desqualificados.

Nas cidades a situação não era diferente. A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII provocou profundas alterações na estrutura sócio econômica. A industrialização trouxe efeitos negativos aos artesãos. Até o advento da máquina, alfaiates, tecelões, ferreiros, carpinteiros, e outros profissionais tinham seu trabalho valorizado. No momento em que uma única máquina passou a produzir o que várias dezenas de pessoas faziam, a competição levou-os à ruína. A máquina produzia mais e melhor. Passaram assim à condição de simples operários, obrigados a trabalhar muitas horas por dia por salário aviltante.

A vacinação em massa da população determinada por Napoleão acelerou o crescimento populacional. Não havia empregos para ocupar tanta gente. O mercado de trabalho não se ampliava na mesma proporção do crescimento populacional.

Para os agricultores e artesãos restava apenas uma saída: a emigração.

A carreira militar durante séculos foi uma saída para empregar os filhos que não encontravam emprego no campo nem na cidade. O serviço militar, no entanto, era obrigatório. Sua duração era determinada em função da situação política reinante. Em períodos de guerra o serviço militar estendia-se até a assinatura da paz. Isto gerava descontentamento. Para fugir do serviço militar a única saída era a deserção para reinos ou ducados próximos. Os que cometiam tal transgressão eram expatriados. Para eles restava também uma única saída: a emigração.

Outro fator de descontentamento foi o que podemos chamar de "a sanção da igreja". O clero francês até a revolução de 1789 compunha o chamado "Primeiro Estado". Estava assim acima da própria Nobreza que ocupava o "Segundo Estado". Os membros do alto clero, que saiam das hostes aristocratas, possuíam privilégios como receber altas pensões do tesouro, isenção de impostos, etc.

Enquanto isso o sacerdote que ministrava os sacramentos nas aldeias, que lidava com os pobres e oprimidos, para sobreviver era obrigado a cobrar pelos serviços prestados. Na Alemanha um casamento não saía por menos de R$ 130,00. Para a realização das núpcias o pagamento era efetuado antecipadamente. Se o casal não possuísse tal quantia, ocorria em muitos casos o concubinato o que era extremamente condenado pela sociedade. Os concubinos discriminados não encontravam emprego. Se possuíssem algum comércio, os fregueses desapareciam. Para estes também restava uma única saída: a emigração.

Foram estes os fatores que determinaram a emigração de alemães para o Brasil.

E o que acontecia no Brasil. No dia 7 de Setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga em São Paulo, D. Pedro I havia proclamado a Independência do país. Em 1808 a Família Real Portuguesa havia fugido para o Brasil, a bordo de 14 navios ingleses, para escapar da invasão das tropas napoleônicas. Com a derrota de Napoleão em 18.6.1815, na Batalha de Waterloo, nada mais impedia o regresso de D. João VI a Portugal, o que se deu em 24.4.1821. Com o retorno da família real, entenderam as autoridades portuguesas que o Brasil deveria retornar à condição de simples colônia, fato que deixara de ser desde que fora incorporado ao Reino Unido de Portugal e Algarve. O então príncipe D. Pedro deveria retornar imediatamente à Portugal para aprimorar a sua educação, pois era o sucessor natural do seu pai no trono de Portugal.

A proclamação da independência encontrou oposição não só em Portugal como dentro do nosso próprio país. As autoridades provinciais eram portuguesas e mantinham-se fieis à Coroa Portuguesa. As tropas portuguesas aqui aquarteladas tiveram que ser expulsas em 1823. Novo exército teve que ser formado para garantir militarmente a nossa independência, pois em Lisboa grandes aparatos de forças militares estavam sendo preparados para invadir o Brasil. Mas não havia soldados suficientemente preparados no país. Para ocupar as cerca de 4.000 vagas abertas nos Batalhões de Estrangeiros, apenas 200 soldados rasos haviam se apresentado. Era necessário, portanto, trazê-los do exterior.

Além de soldados necessitava o país também de colonos que viessem a instalar no Sul, onde a questão militar quanto à soberania sobre a Província Cisplatina havia gerado diversos conflitos com a Argentina. Por recomendação da Imperatriz D. Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, filha de Imperador Francisco I, com quem D. Pedro se casara em 13.5.1817, decidiu-se trazer não só soldados, mas também colonos da Alemanha. Lá havia milhares de soldados desempregados desde o fim das guerras contra a França.

A difícil missão de angariar colonos e contratar soldados alemães para os Batalhões de Estrangeiros do Brasil, coube ao Major Johann Anton von Schaeffer, que havia chegado ao Brasil em 1814 e conseguido granjear a amizade de D. Leopoldina, pelo interesse de ambos nas ciências naturais.

De posse de uma procuração que o nomeava de "Agente de afazeres políticos do Brasil", Schaeffer encontrou inicialmente grandes dificuldades em contratar soldados na Alemanha. A exportação de soldados era proibida, desde o Congresso de Viena em 1815, pois as grandes potências europeias (Prússia, Inglaterra, Áustria e Rússia) não permitiriam o surgimento de um outro "Napoleão" no mundo, e, D. Pedro I, com a independência do Brasil foi considerado um usurpador do poder, um rebelde que traíra o pai.

Enquanto que em alguns Estados alemães havia a proibição, em outros existia o direito dos cidadãos à emigração, principalmente nos Estados da atual Renânia onde, pela proximidade com a França, a destruição provocada pela guerra havia sido maior e onde mais se fizeram sentir os efeitos do fim do feudalismo. Cerca de 50% dos imigrantes são provenientes desta região, mas precisamente do "Hunsrück" quadrilátero compreendido entre os rios Reno, Mosela, Nahe e Saar. Os camponeses que agora podiam abandonar o campo, não encontravam trabalho nas cidades também já repletas de artesãos desempregados, pois as indústrias estavam trocando a mão de obra humana pelas máquinas que produziam mais e melhor.

Os minifúndios criados pelo direito hereditário, aliado às terras exauridas por sua contínua exploração foram, como já vimos, fatores que determinaram a expulsão dos camponeses que, por não encontrarem ocupação nas cidades, tinham na emigração a única saída.

Com a oferta pelo Governo brasileiro de terras (cerca de 150 Morgen = 77 hectares), além de ferramentas, gado, sementes, auxílio financeiro nos 2 primeiros anos e isenção de impostos nos primeiros 10 anos, a missão de Schaeffer foi grandemente facilitada.

Para não chamar a atenção das autoridades Schaeffer embarcava soldados disfarçados e imiscuídos entre famílias de colonos. Para angariar os emigrantes Schaeffer havia nomeado diversos subagentes na Alemanha que se encarregavam da documentação e do transporte dos colonos das suas localidades até o porto de embarque, que no início foi o de Hamburgo enquanto Schaeffer se ocupava na contratação das embarcações, veleiros (galeras) de 3 mastros. Da Renânia até Hamburgo viagem, feita em diligências puxadas à tração animal, demorava cerca de 4 semanas. Em Hamburgo eram os emigrantes submetidos a quarentena e ao exame da documentação, entre eles o "certificado de cidadania brasileira", com renuncia expressa da cidadania alemã, fornecido por Schaeffer. Não queriam as autoridades alemães que emigrantes arrependidos voltassem para sua terra natal.

O embarque dava-se quando o navio estava pronto, ou seja, devidamente adequado para o transporte de pessoas. Os veleiros construídos para o transporte de mercadorias recebiam beliches instalados na entrecoberta da embarcação para acomodar os passageiros. O início da viagem significava a despedida definitiva da família e dos amigos, mas significava também o abandono da uma pátria com instabilidade institucional, democracia precária, explosão demográfica, recessão econômica, terras exauridas e improdutivas, e que para os emigrantes significava a fuga do desemprego, da fome, da insegurança, da falta de perspectivas e do desespero.

2. DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS IMIGRANTES.

O início da viagem também significava o princípio de uma aventura: a viagem pelo Atlântico, que dependendo das condições a viagem pelo Atlântico levava de 90 a 120 dias. Os suíços que haviam chegado ao Brasil em 1819, oriundos de Freiburg e que aqui se instalaram em Nova Friburgo, tiveram uma viagem desastrosa. Por falta de organização aguardaram por 2 meses o embarque no porto da Holanda. Mal instalados ali mesmo enterraram 43 emigrantes. Os 2.018 montanheses arrebanhados por campos e aldeias atravessaram o Atlântico espremidos em 7 barcos. Um dos barcos, o Urânia, em que embarcaram 437 passageiros, devido a uma epidemia, marcou sua rota marítima com um rastro de 107 corpos. Mais de 1 cadáver por dia. Um quarto dos passageiros lançados do tombadilho. No Rio de Janeiro outra mortandade em decorrência de febres tropicais. Ao todo, de uma Friburgo à outra, a velha na Suíça e a nova no Rio, somaram-se 389 baixas. Dos 2.018 colonos que saíram chegaram apenas 1.631, índice de mortandade parecido com o dos navios negreiros!

Com o ingresso de Major Schaeffer no processo imigratório isto não haveria de acontecer. Homem extremamente diligente organizou com todo o cuidado os embarques. Em cada uma das 27 expedições que organizou de 1824 a 1829 havia um "comandante do transporte" ou "chefe da expedição", que zelavam pela disciplina, pela higiene bordo bem como dos direitos e deveres dos passageiros. A alimentação não era descurada. Os comandantes convidavam passageiros para os seus camarotes para comprovar que a alimentação servida aos tripulantes era a mesma que era servida aos passageiros. Em cada navio havia um médico cirurgião, farmacêutico e enfermeiros para cuidar da saúde bem como da higiene para evitar a erupção de epidemias à bordo. Evidentemente que ocorreram mortes nas viagens, mas estas sempre foram decorrentes de causas diversas, e não devidos à má alimentação ou falta de higiene da embarcação ou dos passageiros.

Embora mais seguras quanto à moléstias, as viagens não deixavam de representar um grande temor para os passageiros. Vamos resumir apenas o que aconteceu com 4 das 27 embarcações que chegaram ao Rio de Janeiro de 1824 a 1829.

O lº veleiro, o Argus saiu de Hamburgo 27.7.1823 e desde o início foi assolado por fortes tempestades que sopravam para o Oeste. Depois de perder o mastro central atracou no porto holandês de Texel. Durante as reformas cerca de 26 passageiros fugiram com medo de prosseguir a viagem. Em 10 de setembro reiniciou a viagem que não foi mais feliz que a primeira. Nova tempestade os obrigou a arribar na Ilha de Wight, ainda na Holanda. Depois de 15 dias, inicia a terceira partida, mas um forte furacão obriga a embarcação a atracar no Porto de Biscaia na Espanha e mais tarde nas costas da África, onde após muitas delongas conseguiu fazer um ancoradouro seguro na Ilha de Tenerife, de onde partiu no dia 8 de Novembro para chegar no dia 7 de Janeiro de 1824 ao Rio de Janeiro, trazendo 284 pessoas, sendo 134 colonos e 150 soldados. Entre os passageiros encontrava-se o pastor Friedrich Oswald Sauerbronn, o primeiro pastor evangélico do Brasil que se radicou em Nova Friburgo cuja esposa faleceu durante a viagem em virtude de um parto. No Argus também viajou Karl Niethammer o primeiro boticário da Colônia Alemã de São Leopoldo.

Outro veleiro que passou por peripécias foi o Germania que trouxe a 4º leva de imigrantes. Capitaneado por Hans Voss e tendo como "comandante do transporte" o Ten. Ferdinand von Kiesewetter. Partiu em 9.5.1824 de Hamburgo até o porto de Glückstadt, no Rio Elba, de onde zarpou em 3.6.1824. Chegou ao Rio de Janeiro no dia 14.9.1824 trazendo 401 passageiros sendo 277 soldados e 124 colonos. A bordo viajaram o pastor Johann Georg Ehlers, Karl von Ende e Johann Daniel Hillebrand. Ehlers seria, o primeiro pastor evangélico de São Leopoldo e que iniciou os registros eclesiásticos ainda à bordo do Germania; Karl von Ende o primeiro médico e Hillebrand também médico e depois o primeiro administrador da Colônia Alemã de São Leopoldo. A viagem deste veleiro foi marcada por rebeliões e desordens. O navio além de 124 colonos trazia também 277 soldados, entre eles um pequeno contingente de ex prisioneiros saídos das casas de reclusão de Hamburgo. Ainda atracado em Glückstadt no Elba um recruta tentou incendiar a embarcação. Durante uma tempestade houve rebelião a bordo. Efetuadas as investigações por uma Comissão foram responsabilizados 8 passageiros, todos ex prisioneiros das prisões de Hamburgo que foram julgados e fuzilados. O Pastor Ehlers e o médico Hillebrand faziam parte da Comissão.

O veleiro Cäcilia também teve uma viagem sinistra. Depois de passar por terrível tempestade em que perdeu todos os seus mastros, foi abandonado pelo Capitão por considerar a embarcação perdida. Ficou vagando ao "Deus dará" pelo Canal da Mancha até ser encontrado por um barco inglês que o rebocou até o porto de Plymouth na Inglaterra. Ali os náufragos aguardaram por 2 anos por um novo embarque para a América, fato proporcionado para interferência da imperatriz austríaca D. Amélia von Leuchtenberg em viagem ao Brasil. Os passageiros do Cäcilia que deixaram a Alemanha em 1827 chegaram ao Rio de Janeiro no dia 29 de Setembro de 1829, sendo esta data comemorada, ainda hoje, no "Michelskerb" (Kerb de São Miguel) de Dois Irmãos e São José do Hortêncio onde a maioria dos passageiros do Cäcilia se estabeleceram.

Não menos tormentosa foi a viagem do brigue holandês "Ativo". Depois de uma tormentosa travessia do Atlântico ao invés de atracar no Rio de Janeiro arribou na costa de Pernambuco, onde 122 dos 140 passageiros (18 faleceram na viagem) foram abandonados à própria sorte. Fundaram um pequeno núcleo germânico que batizaram de Santa Amélia. Dedicaram-se à agricultura rudimentar e à produção de carvão vegetal. Consta que alguns com recursos próprios e viajando até em carros de boi, chegaram anos depois ao Rio Grande do Sul.

Nenhuma das vicissitudes antes narradas pode ser comparada ao da Galera Holandesa Company Patie. Zarpou no dia 10.10.1825. Ocorre que desde Dezembro de 1825 o Brasil entrara em guerra contra a Argentina pela posse da Província Cisplatina (atual Uruguai). Ao chegar próximo ao Rio em Janeiro de 1826 o Company Patie foi aprisionado por corsários à serviço dos castelhanos, sendo levado ao sul com destino à Argentina. Na entrada do porto de Buenos Ayres a embarcação foi interceptada por navio de guerra brasileiro e os passageiros instalados na Ilha das Flores situada nem frente a Montevidéu. Dali dos 281 cerca de 200 fugiram para a Argentina, com o "comandante do transporte" Karl Heine que dizem ter sido um agente de imigração à serviço de Rosas. Os 81 restantes voltaram ao Rio de Janeiro onde chegaram em 17 de maio de 1826.

A relação de acidentes com embarcações, no 1º período da imigração que vai de 1824 a 1830, encerra-se com a naufrágio do Bergantim Flor de Porto Alegre. Saiu do Rio de Janeiro em fins de 1824 com destino a Porto alegre. No início de Janeiro de 1825 naufragou na costa gaúcha, encalhado nos bancos de areia em frente a Mostardas. Dos 61 passageiros 2 morreram afogados. Os demais salvaram-se nadando até a praia onde foram acolhidos pelos moradores do lugar. Cerca de 15 colonos instalaram-se em Torres. Os demais náufragos, entre eles o pastor Leopold Voges, chegaram no dia 11.2.1825 em São Leopoldo.

Nos 27 embarques organizados por Schaeffer no período de 1824 a 1829, chegaram ao Rio de Janeiro cerca de 5.000 colonos e outros tantos soldados. Estes eram engajados nos Batalhões dos Estrangeiros. Os colonos ficavam alojados em galpões da Praia Grande (Niterói), aguardando viagem ao sul. Enquanto a travessia oceânica era feita em navios de 3 mastros, as viagens para Porto Alegre eram efetuadas em bergantins, sumacas e escunas, com 2 mastros apenas, por causa do pouco calado da barra de Rio Grande. A Capital da Província de São Pedro era atingida em média em 3 semanas de viagem. Aqui depois de recepcionados pelo Presidente da Província ficavam alojados na extremidade sul do porto, em prédio do arsenal de guerra, próximo à atual usina do gasômetro. Para o transporte até São Leopoldo, na época conhecida por "Passo do Courita" (ali morava um português natural de Coura) eram utilizados lanchões toldados, movidos à vela e à remo. Em carretas os colonos chegavam à Feitoria do Linho-Cânhamo onde ficavam alojados até o recebimento do seu lote de terras.

A Feitoria havia sido fundada em 1783 pelo vice-rei Dom Luiz de Vasconcellos e Souza e instalada inicialmente no sul do Estado no local então denominado de "Rincão do Caguçu". Seu objetivo era plantar o linho-cânhamo, cientificamente conhecida por "canabis sativa" e que hoje e conhecida por "maconha". Esta planta fornecia excelente fibra para a fabricação de cordas, cordoalhas e velas largamente empregadas na navegação da época. Devido a sucessivos déficits, creditados à baixa produtividade das terras, foi a Feitoria em 1788 transferida para as margens do Rio dos Sinos. Os resultados ali obtidos também não foram satisfatórios. Por isso foi extinta em 31.3.1824. Suas terras, cerca de duas léguas, correspondentes a 180 colônias de 100.000 braças quadradas, foram subdivididas e distribuídas entre os colonos alemães que ali aportaram, em numero de 39 pessoas no dia 25 de Julho de 1824. Dos 321 escravos apenas 9 permaneceram na Feitoria à disposição da administração José Thomás de Lima e que prestaram grande serviço na construção das casas para o alojamento dos imigrantes que ano a ano vinham em maior número. Em 1824 chegaram em São Leopoldo 126 imigrantes; em 1825 = 909; em 1826 = 828; em 1827 = 1.088; em 1828 = 99; em 1829 = 1.689 e em 1830 chegaram 117 totalizando 4.830. imigrantes.

Os recém chegados à Feitoria de logo se depararam com novos problemas:

- por falta de demarcação das terras, muitos ficaram instalados nos prédios antes ocupados pelos escravos, aguardando por meses o assentamento nos lotes;

- a demarcação dos lotes fora feita apenas na parte frontal ficando os limites laterais por conta dos proprietários, o que gerou muitas brigas e questões judiciais;

- os subsídios que deveriam ser pagos nos primeiros dois anos eram suspensos tão logo o agricultor tivesse meios de auto sustentar-se o que ocorria já ao final do primeiro ano; os imigrantes que chegaram em 1829 e 1830 nada receberam, pois as verbas haviam sido suspensas no orçamento pelo governo imperial;

Todos estes problemas e percalços não foram suficientes para demover o espírito empreendedor daquela pobre, mas trabalhadora gente.

Apenas um ano após a chegada dos primeiros imigrantes, junto ao "Passo do Courita" artesãos que não possuíam aptidão para o trabalho na terra haviam formado uma florescente povoação, posteriormente batizada de São Leopoldo.

No primeiro período da imigração que vai de 1824 a 1830 todo os vale do Rio dos Sinos havia sido ocupado pelos imigrantes. Além de São Leopoldo haviam fundado Novo Hamburgo (Hamburgerberg), Campo Bom, Dois Irmãos (Baumschneis), Ivoti (Berghanerschenis, depois Bom Jardim), Estancia Velha, Sapiranga (Leonerhof), além de São José do Hortêncio (Portugiserschneis). A partir de 1836 haviam também ocupado terras ao leste de São Leopoldo como Taquara do Mundo Novo, fundada por Tristão Monteiro e Igrejinha, por eles batizada de "Kleinkirchen";

Em todas estas localidades o comércio, a indústria e os artesãos (sapateiros, curtidores, seleiros, ferreiros, carpinteiros, tecelões, alfaiates, etc.) estavam em franco progresso, quando em 1835 estourou a Revolução Farroupilha. Os imperiais ou legalistas juntaram-se ao Dr. Hillebrand a quem também se juntaram o major Ferdinand Maximilian Kersting, Ten. Heinrich Wilhelm Mosye e outros; os rebeldes ou farroupilhas uniram-se ao Major Hans Ferdinand Albrecht, Hermann von Salisch nomeado, pelo governo revolucionário, diretor da Colônia de São Leopoldo. Durante os 10 anos da Revolução as atividades da Colônia estiveram paralisadas. O envolvimento da Colônia Alemã neste triste episódio que dividiu a família riograndense, teve a participação de centenas de imigrantes, lutando de ambos os lados, semeando a morte e a destruição em toda região.

3. REGIÕES COLONIZADAS E PRINCIPAIS CIDADES FUNDADAS PELOS IMIGRANTES ALEMÃES NO RS.

Com a assinatura (?) da Paz do Ponche Verde em 1845 entre Caxias e David Canabarro, teve prosseguimento o processo imigratório alemão para o Rio Grande do Sul. Os alemães que daí em diante aqui aportariam, ocupariam os Vales do Caí, Taquari e Jacui.

No Vale do Caí, as principais cidades de Montenegro e São Sebastião do Caí, de colonização portuguesa, receberiam um aporte do elemento germânico que também se estabeleceram em Pareci, Pareci Novo, Harmonia e Bom Princípio (Winterschneis) e outras localidades. A região do Arroio Forromeco, afluente do Caí, foi colonizada a partir de 1854 pela "Sociedade Montravel, Silveiro & Cia." que ali fundou a Colônia de Santa Maria da Soledade onde foram assentados não só colonos alemães, mas também belgas, holandeses, suíços e franceses. Mais acima no Rio Cai localiza-se Feliz, colonizada pelo Governo Imperial a partir de 1846, eleita pela ONU em 1998 como a "cidade de melhor qualidade de vida do Brasil"; e finalmente, Nova Petrópolis, fundada em 1858 por Sellin e Bartolomay.

Pelo Vale do Jacuí, a principal cidade Cachoeira do Sul, onde inicialmente se instalaram portugueses, também recebeu forte contingente germânico. As vizinhas cidades de Agudo e Paraíso do Sul, compreendendo a antiga Colônia de Santo Ângelo fundada pelo Barão von Kahlden, foram ocupadas por Pomeranos vindos de Lubow a partir de 1857.

No Vale do Taquari, cujas principais cidades Lajeado (na época Colônia Conventos fundada por Antônio Fialho em 1853), Teutônia (fundada em 1858 por Carl Arnt) e Estrela (fundada por Vitor Barreto em 1846) bem como as cidades em seu entorno: Canabarro, Forqueta, Forquetinha, Cruzeiro do Sul, Boa Esperança, Marques de Souza (na época Neu Berlin fundada em 1868), não nos esquecendo de Santa Cruz, no Vale do Rio Pardo (colonizada por Bartolomay em 1849) e sua vizinha Monte Alverne colonizada a partir de 1860, temos a presença marcante não só de novos imigrantes alemães mas também de colonos emigrados das antigas colônias alemãs do Sinos e do Caí.

Por fim no sul do Estado encontramos São Lourenço do Sul, colônia fundada por Jakob Rheingantz em 1857 e onde se radicaram diaristas oriundos da Westphália.

Onde se instalaram deixaram uma senda de progresso como são exemplos os Vales do Sinos, Caí e Taquari. Não vieram apenas simples colonos, mas também artífices do couro (sapateiros, seleiros, curtidores), ferreiros, carpinteiros, marceneiros, alfaiates, tecelões, médicos e professores etc.

É verdade que na sua grande maioria eram pobres.

É verdade que fugiram de uma Pátria com democracia precária, com explosão demográfica, com recessão econômica, com terras exauridas e improdutivas.

Também é verdade que fugiram do desemprego, da fome, da insegurança e da falta de perspectivas.

Mas também é verdade que trouxeram consigo a sua enorme capacidade de trabalho, sua arte, suas tradições, folclore e costumes, sua língua, sua culinária que souberam preservar até os dias atuais.

Em resumo: semearam o progresso onde há apenas 175 anos atrás existia apenas mato!

Hoje quando estamos com toda justiça homenageando a chegada dos primeiros imigrantes alemães, muito temos a agradecer a aquelas humildes, corajosas e obstinadas pessoas que, deixando a sua pátria mãe, vieram aqui construir um futuro melhor para si e para os seus, contribuindo lado a lado com as demais etnias, no progresso e desenvolvimento não só do nosso Estado mas também da pátria brasileira que adotaram.

A CANÇÃO DO IMIGRANTE

A letra, em alemão estava no trabalho do Egídio. A partitura e a canção encontramos pesquisando no google e mandamos traduzir.

 

 

 

 

 

 

 

 

PARTITURA

 

 

Nun ade, du mein lieb Hematland.

Refrão: Nun ade, du mein lieb Heimatland
lieb Heimatland ade. Es geht jezt fort zum fremden Strandt,
lieb Heimatland ade!

1.Und so sing ich denn mit frohem Mut,
wie man singet wenn man wandern tut,
lieb Heimatland ade!
2. Wie du lachst mit deines Himmels Blau,
Wie du grüssest mich mit Feld und Au
lieb Heimatland ade!
3. Gott weis, zu dir steht mein Sinn,
doch jetzt zur ferne ziehts mich hin,
lieb Heimatland ade!
4. Begleitest mich, du leiber Fluss,
Bist traurig das ich wandern muss,
lieb Heimatland ade!
5.Vom Moos’gen Stein und Wald’gen tal,
da grüss ich dich zum letzten mal,
mein Heimatland ade!

Obs:
Moos’gen = Moosigen = coberto de musgo
walt’gen = waldigen = coberto de mato

 

Link da canção: : http://www.youtube.com/watch?v=wB7-uD5rBhA

 

Para ouvir a canção, pressionar Ctrl e apontar e clicar a seta do mouse no link

 

Se tiver curiosidade, clique também outras canções e músicas no mesmo local

 

 

TRADUÇÃO DA CANÇÃO DO IMIGRANTE

 

Solicitamos que  Arnilo Brönstrup traduzisse o teor em alemão para o português e recebemos a seguinte resposta:

Meu caro Leandro,

A canção “Nun ade, Du mein lieb Heimatland” é um Lied composto no século 18 pelo estudante de teologia August Desselhoff na cidade de Amsberg, e se tornou tão popular, que se tornou matéria escolar, e é conhecida em todo o mundo. Desselhoff fazia parte de um grupo de rapazes que fazia caminhadas e excursões na sua cidade Natal, e quando aos 18 ou 19 anos teve que se mudar de cidade, para estudar teologia (tornou-se pastor protestante) compôs esta canção, que hoje tem um monumento em sua cidade. Ela contem termos ou palavras que são nitidamente locais da Westfália, como AU, Moos’gen e Wald’gen Tal etc.

Como podes ver, ela não foi composta para os emigrantes, era uma despedida para a cidade natal e os amigos, mas se tornou tão popular entre os emigrantes, considerando-a , como seu hino. Tenho um amigo em Porto Alegre, Horst Märtin, que me contou uma história muito triste a respeito desta canção. O Horst perdeu o pai na ultima guerra, quando esta terminou era um menino de parece-me 6 anos. Pouco depois faleceu a mãe. Ele foi entregue a um tio. A seguir toda família emigrou para os Estados Unidos, o tio resolveu vir para o Brasil, e o Horst junto. No momento que passaram pelo cabo na saída do porto, todos os emigrantes estavam no deck, cantaram esta canção, no meio de muito choro.            

Versão obtida com dois tradutores: Stefan Martin Robert Wenzel e Arnilo Brönstrup.            

(Obs.: O refrão é cantado no início de cada estrofe).

 

 

Refrão: Agora adeus, você, minha querida pátria
Pátria querida adeus. Agora é na terra estrangeira
Pátria querida adeus!

 

1. E assim eu canto com felicidade e alegria,

assim como se canta quando se peregrina.

Pátria amada adeus.

 

2. Como você está sorrindo com o azul do céu

Como você me saúda com os campos e riachos.

Pátria amada adeus.

 

3. Deus sabe, meus sentimentos estão contigo,

Porem agora o distante está me chamando.

Pátria amada adeus.

 

4. Me acompanha, meu querido rio

que estás triste que eu me deva ausentar.

Pátria amada adeus.

 

5. Da pedra com musgo e do vale com matas,

eu mando lembranças para ti, pela ultima vez.

minha pátria adeus.

 

 

O CAPITÃO MIGUEL E A HISTÓRIA DE UM RIO

             O IMIGRANTE

Lembranças da viagem, rebuliço, despedidas, bagagens, carroças, pequenos barcos e por fim, um veleiro, o brigue Hanseat que o conduzira ao Novo Mundo, ao Brasil. Trouxe no coração, a esperança, a coragem e o desejo de trabalhar para alcançar a prosperidade. Venceria.

  Seu pai, Sebastian, adquirira uma colônia de terras virgens, lote 13, na margem direita do rio Cai, no lugar denominado Linha Feliz, um pouco ao norte do Porto dos Guimarães, que mais tarde se chamaria São Sebastião do Caí.

  Estabelecida a família e iniciados os trabalhos, verificaram com orgulho, que a terra generosa retribuíra o trabalho regado com suor, garantindo colheitas abundantes. Prosperaram. No Brasil, ainda nasceriam mais dois irmãos. 

   Uma geração mais tarde, exatamente 26 anos depois, tornou-se necessária a divisão da família e nova migração. Muita gente para pouca terra e novos horizontes. Deixara na propriedade primitiva, com restante dos seus filhos administrando a lavoura, uma atafona para a fabricação de farinha de mandioca, uma destilaria de aguardente e um curtume. Partira para novos rumos e novos investimentos produtivos. Esse brasileiro por opção, bilingue, era um criador de riquezas.  Os pioneiros aparecem quando são necessários, no local e momento certo. Miguel foi um deles.

 Em Estrela, às margens do rio Taquari, havia uma grande fazenda de gado, de propriedade do sesmeiro Coronel Antônio Vitor de Sampaio Menna Barreto, fundador do núcleo urbano de Estrela. A sede era um casarão conhecido como “sobrado”, hoje na rua Dr. Tostes 320, onde está a residência e museu do casal Gisela e Dr. Werner H. E. Schinke. O imóvel foi comprado por Miguel Ruschel em 1872. Junto com a sede, comprou extensos tratos de terra que colonizava e fazia exploração agrícola. Uma promessa de futuro.

 

                            Sobrado

                             

                            Foto José Alfredo Schierholt

 

 Sob sua supervisão, os três filhos Nicolau, Mathias Sobrº e Francisco Xavier, abriram uma casa comercial, conjugada com uma hospedaria.  Foi o ponto de comércio onde gravitaria a colônia em formação. Os negócios se desenvolveram.

                   

                           Enchente em 1912: - Praça da matriz em Lajeado

 

                     

                  Foto: José Alfredo Schierholt

A NAVEGAÇÃO FLUVIAL

                   Em 9 de fevereiro de 1904, os três irmãos iniciaram uma empresa fluvial de transporte de carga entre Muçum, portos intermediários e Porto Alegre. Compravam os produtos coloniais e os transportavam e vendiam em Porto Alegre. Na volta, traziam as mercadorias necessárias ao sortimento de seu comércio.

Comércio, hospedaria e empresa de navegação levavam o seu sobrenome.

                          Vapor Estrella - Navegação Ruschel Irmãos.

                           

 

            Iniciada com pequenas embarcações, a empresa foi crescendo em volume, anexando mais barcos na medida da necessidade. Na sequência, adquiriram o vapor de luxo Estrella por 20 contos de réis. Com outras 6 embarcações – lancha à vapor Caxias e lanchas Stella, Julieta, Flor Encantado, Tília e Sete Canoas completaram a frota. As embarcações eram operadas com competência pelos descendentes dos açorianos ribeirinhos, que conheciam o rio como a palma da mão. Sempre viveram do rio.

HOMEM DE VISÃO

                Miguel legou esse valor a seus filhos que construíram em Muçum, ponto final de navegação do rio Taquari, instalações portuárias, trapiche, machambombas, espécie de elevador de carga, acionado por cavalo ou muar e depósito de mercadorias. Montaram refinaria de banha e uma fábrica de latas por 5 contos. A banha, na época, denominada de “ouro branco”, era adquirida dos colonos que abatiam suínos para seu sustento alimentar e vendiam o excedente da gordura. A refinaria e a fábrica de latas, juntas, se situavam na periferia da vila.Talvez as primeiras indústrias locais. Era necessária área maior para a circulação e estacionamento  das  carroças  e  muares  de carga que traziam a banha bruta para a indústria de beneficiamento, depósito de lenha para a caldeira que acionava a maquinaria e produzia o calor para o aquecimento da gordura. Refinada por decantação natural e filtrada, a banha era “batida” mecanicamente e enlatada. Identificamos as ruínas da refinaria e da fábrica de latas, ao sul da vila, em frente e do outro lado da estrada do Moinho Tombini, atual proprietário das terras. A chaminé quadrada, ainda de pé, foi demolida lá por 1966.

Adquiriam uma sede e porto em Estrela, por 3,5 contos e construíram um trapiche em Bom Retiro do Sul, por 3 contos.

 

 

                         Gasolina e Chata             

                                                     

                   Foto: José Alfredo Schierholt

                                   

CAPITÃO MIGUEL RUSCHEL

Miguel tornou-se conhecido como “Capitão Miguel”, talvez para diferenciá-lo de outro Miguel ou por consideração regional, respeito, liderança e criatividade. 

          Miguel era um homem de ações decisivas e enfrentou consequências que permaneceram na memória dos seus descendentes.   Entre os portos de Estrela e Cruzeiro do Sul, havia um rochedo que aflorava bem no meio do rio, no canal de navegação e responsável por vários naufrágios. Tinha até o apelido de “Feiticeira”, temida e conhecida pelos pilotos dos barcos fluviais. Em vão, tentativas foram feitas junto aos órgãos públicos que administravam os caminhos do rio. Era necessário dinamitar a rocha.  Como as autoridades protelaram e nada fizeram, o Capitão Miguel, audacioso, por sua conta e risco mandou dinamitá-la, desobstruindo o rio. Assumiu as responsabilidades e terminou sendo obrigado a efetuar o pagamento de uma vultosa multa aos cofres do erário. Em recurso na esfera judicial e defendido pelo advogado Dr. Adroaldo Mesquita da Costa, terminou com sentença favorável, mandando o Estado devolver a quantia. O Capitão Miguel, recusou-se a recebê-la e destinou-a a uma instituição de caridade. Esta história já foi contada cerca de 30 anos atrás, em artigo de outro neto, Carlos Maria Ruschel, publicado no Almanaque do Correio do Povo. Por essa razão, também a registramos aqui.

                                  Transbordo para o vapor Itália

            

                                  Foto: José Alfredo Schierholt 


PIONEIRO DA NAVEGAÇÃO FLUVIAL

         Bom Retiro era ponto estratégico no rio Taquari. Era o último porto navegável o ano todo. Estava situado a 1 km à jusante da maior cachoeira, com denominação óbvia de “Comprida”. Era ainda o último porto a ser atingido pelas carroças de tração animal que traziam os produtos da região de Teutônia e arredores. Logo após, havia o morro da Pedreira, cujo aclive desestimulava o tráfego por rodovia. Por decorrência, Bom Retiro era o lugar ideal.

Ao adquirir propriedade na beira do rio em Bom Retiro em 1887, o pioneiro da navegação no rio Taquari, Jacob Arnt iniciou as atividades fluviais e o porto foi crescendo quando outras navegações também instalaram ao lado seus trapiches e armazéns. Isso trouxe salutar e democrática concorrência. Havia lugar para todas as empresas familiares existentes: Os filhos de Miguel, os Jasper, os Faller, os Sudbrack, Pedro Isírio e mais algumas sem embarcadouro próprio. 

         A navegação fluvial atingiu seu auge entre 1920 e 1940.  Tudo dependia do rio.

COMO ERAM AS VIAGENS

Uma viagem de vapor ou de gasolina, de Lajeado à Porto Alegre, para um menino como eu, era a suprema aventura. Se a viagem fosse pelo vapor Osvaldo Aranha ou pela gasolina Cerro Branco, era história para ser contada e repetida muitas vezes. Nos ouvidos ficava o chaque-chaque das rodas do vapor ou o tuco-tuco do motor da gasolina. Dormir nos camarotes ou nos beliches do salão e sonhos embalados pelo ruído das águas que passavam, momentos jamais esquecidos.

 No embarque, descia-se o barranco por uma escada de madeira, estreita, entre os trilhos das machambombas. Dentro do barco, movimento de pessoas e eficiência. No jantar ou almoço a bordo, sempre galinhada e feijoada, com aqueles sabores inigualáveis.

Na chegada a Porto Alegre, um mar de barcos atracados e um burburinho de gente atendendo seus afazeres. À noite, na cidade, o pisca-pisca dos anúncios luminosos, deslumbrava.                                                                                                                   

 Em 1922 começaram a surgir as primeiras fusões e incorporações das pequenas empresas pelas maiores. Em um fato natural e repetitivo.

               No próprio linguajar citadino, as pessoas iam “descer” para Porto Alegre e só “subiriam” dias após. 

                                     Armazéns da Cia. Navegação Arnt – Lajeado – Foto J.A.S.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

 

                                                                                                                                                                  

 

OS NOVOS NEGÓCIOS

Os três irmãos venderam suas propriedades portuárias e barcos para a Cia. Navegação Arnt, pois já previam o declínio da atividade. As três últimas navegações pequenas independentes, em 1932 se agruparam e formaram a Cia. Navegação Aliança para poder resistir por mais tempo à competição e as dificuldades que se apresentavam. Ainda hoje está em atividade, navegando na bacia do Guaíba e operando com granéis líquidos. Adaptou-se o novo local e ramo. A Cia. Navegação Arnt, que no auge de sua atuação de transporte de carga e passageiros, chegou a manter em atividade, 8 vapores (quatro deles de luxo), 9  gasolinas, 10 chatas e 30 embarcações pequenas, teve um final inglório. Potência fluvial, foi definhando até encerrar as atividades, deixando centenas de pessoas desempregadas, entre elas, muitos causadores da própria ruína.  Talvez o próprio gigantismo tenha sido um fator ponderável.

O rio, além de meio de transporte, também era a cloaca das cidades e indústrias ribeirinhas, que utilizavam a água e despejavam seus esgotos poluídos na corrente, sem tratamento algum.

                        Explorando o Rio Taquari                                                                                                                              

                        Foto: José Alfredo Shchierholt    

 

A DECADÊNCIA DO RIO TAQUARI

        A decadência iniciou-se em 1941, com a grande enchente de maio, quando o rio, já com suas matas ciliares dizimadas, sofreu grande assoreamento no canal de navegação, afora a destruição dos armazéns, trapiches e machambombas.

O Governo reagiu proibindo o desmatamento ciliar, mas em seguida permitiu que somente os marinheiros pudessem fazê-lo e tudo continuou como antes.

Legislação federal passou a exigir que cada barco fluvial tivesse o mínimo de cinco tripulantes e os pequenos barcos, onde pai e filho ou irmãos navegavam, ficaram impedidos de trabalhar. O barco perdeu toda a sua utilidade e não valia mais nada. Liquidaram com os pequenos.

A nova legislação trabalhista também trouxe novidades.  Por qualquer coisa, um marinheiro não vinha trabalhar e o barco, carregado, não podia partir. Era necessária a procura imediata dele ou de um substituto que seria aceito ou não pelos demais. Os tripulantes deveriam ser pagos para navegar e não para trabalhar. Em cada parada num porto, deveria ser paga uma hora de extraordinário para todos.  Nesses portos, uma convenção e presença de uma bandeirinha indicava ao piloto se ali deveria atracar. Mataram assim, dezenas de pequenos portos, conforme depoimento oral de Elmo Sudbrack, mais conhecido por Chico.

                               Gasolina Cerro Branco – Navegação Arnt               

                     

                    Foto: José Alfredo Schierholt

 

QUEBRA DA DISCIPLINA

            Alguns marinheiros relutavam cumprir ordens emanadas do proprietário até que esse se humilhasse e pedisse por favor. 

Quebrada a disciplina, iniciou-se uma fase cada vez mais crescente de furto de mercadorias a bordo, para desespero dos proprietários da carga e transportadoras. Foi uma praga incurável e contagiosa.

Vários frigoríficos de suínos, que tinham a sua própria navegação praticaram uma concorrência predatória, foram liquidando com os menos competentes e também se esvaíram. Não sobrou nenhum dos originais.

 Em meados de 1942, no período da ditadura getuliana, os empresários de origem alemã começaram a ser perseguidos e humilhados. Um barco, da Cia. Navegação Arnt, carregado, não conseguiu partir do porto em Lajeado, porque os marinheiros se recusaram a fazê-lo, devido ao nome da embarcação. Era Germânia. Pichado o nome, a gasolina iniciou a sua viagem, desta vez pagã.

Alcançou-se o cúmulo do acinte, quando legislação federal exigia que fosse paga à tripulação, quando entre a carga houvesse vasos sanitários e urinóis novos ou papel higiênico, uma taxa de vexame.  Seria cobrada do proprietário das mercadorias e distribuída no fim do mês para a tripulação de cada barco. Mercadorias provocavam discussões se seriam ou não insalubres, e teriam ou não direito a adicional no salário. Levava-se meio dia de trabalho burocrático para concluir a folha de pagamento para um único marinheiro, até atender todas as exigências legais. O fim do mês era um tormento.

       Decepção e cansaço generalizado. Trabalhar já tinha se tornado desgastante. O fim inevitável estava próximo.

 

                          Lancha a vapor pelo Rio Taquari:   

                          

                          Foto: José Alfredo Shierholt

 

                                                   O RIO É ABANDONADO

       Mesmo com estradas ruins, o ônibus de passageiros ou o caminhão de carga foram desalojando o barco fluvial. Passageiros para Porto Alegre e vice-versa, nunca mais.

A ponte de Mariante regularizou o fluxo de mercadorias na margem direita e o da margem esquerda só com advento da BR 386. O rio, como fator de desenvolvimento, morrera.

Findara-se um ciclo. Começara do nada e assim terminara.

Hoje o rio represado serve de lago para a prática de esportes aquáticos e turismo incipiente. Fizemos a viagem de Estrela à Bom Retiro do Sul, por barco, utilizando a eclusa. Valeu a aventura.

A barragem eclusada de Bom Retiro do Sul, já chegou tarde demais e é um monumento a um duvidoso planejamento, como também o é o porto rodo-hidro-ferroviário quase deserto de Estrela.

 Mais, a estrada de ferro de Passo Fundo via Roca Sales à Estrela, uma obra arrojada de engenharia vê passar em seus trilhos apenas um trem por dia.  Restaram túneis profundos e belíssimos viadutos, os mais altos e os menos transitados da América do Sul. Não cumpriu a finalidade que dela se esperava.

Essa a odisseia, iniciada por pioneiros, entre eles meu bisavô materno Miguel Ruschel. - O Capitão Miguel, chegara a um fim melancólico em 1970. O Capitão Miguel Ruschel, idealizador da Navegação Ruschel Irmãos, ficará para sempre na memória. 

 Não podemos esquecê-los. Fizeram a sua parte na sua época.

 Cidade beira-rio, Lajeado, bem situada no novo eixo de transporte rodoviário, encontrou em seu meio, novos líderes e novos rumos que diversificaram, reativaram a economia local, transformando-se em polo regional de forma espetacular.

A história do rio Taquari tem que ficar registrada com orgulho na memória. No passado, único meio de transporte e colonização, constituiu, enquanto viável, elemento essencial ao progresso da região do vale.                                                        

Fui funcionário durante 12 anos em duas empresas industriais que também tinham navegação.

Referências bibliografias:

Pesquisa Google – Capitão Miguel Ruschel

Ruschel - Família de Pioneiros – Álvaro Armando Paes

Bom Retiro do Sul – sua história, sua vida – Ellen Walkíria Eifler

          Depoimento oral de Elmo Sudbrack (Chico) – durante quase 30 anos funcionário da Cia. Navegação Aliança.

 

CRÔNICA PUBLICADA INTEGRALMENTE NO JORNAL – A HORA DOS VALES - DE LAJEADO, NOS DIAS 2, 9, 16 e 23 DE JANEIRO DE 2010

 

                                          

RUSCHEL IRMÃOS EM MUÇUM

 

              Temos seguras  informações  das atividades   em   Muçum     e        desejamos repassá-las,  comprovando e localizando a refinaria de banha.

Lá por 1962, fiz alguns trabalhos para os Frigoríficos Nacionais Sul Brasileiros S/A, entre eles, a oferta de umas terras de propriedade deles, situadas bem na frente do possível interessado, Moinho Tombini, do outro lado da estrada. O local era chamado de “batedor de banha”. Um pouco antes de chegar à Muçum, perto do rio Taquari.

Alem do potreiro, ainda viam-se ruínas de uma esquina do prédio e uma chaminé quadrada, ereta ainda em seu lugar. Durante muitos vezes que ali passamos vimos a chaminé, até que um dia todas as ruínas tinham sido removidas

Era ali a refinaria de banha dos nossos antepassados.

Não havia energia elétrica e a maquinaria era movida a vapor de uma caldeira junto à chaminé. Inclusive as bombas de recalque da banha aquecida líquida, chamadas “burrinhos” eram movidas com pistões a vapor.

Cremos poder informar pelo menos, uma sequência de proprietários: Ruschel Irmãos, Sindicato da Banha, que agrupou todas as pequenas refinarias e Frigoríficos Nacionais Sul Brasileiros S/A, que o sucedeu, que antes de extinguir-se e por nosso intermédio, vendeu as terras para o Moinho Tombini. 

Podemos aquilatar a visão empreendedora do Capitão Miguel. Somente quem se dispusesse a adquirir toda e qualquer produção agrícola ou pecuária, teria a fidelidade do colono. Não bastava comprar milho, feijão, aves e ovos. Tinha que comprar tudo o que ele produzira para vender e a banha excedente, originada do abate doméstico de suínos tinha que ser vendida com urgência, antes que tornasse rançosa. 

A banha não pode ser comercializada sem um procedimento operacional de homogeneização e filtragem, antes de ser enlatada e pudesse ser encaminhada ao consumidor. Para isso, eram necessárias instalações industriais e transporte.

Aí se explica a fábrica de latas, destinada à embalagem da banha, que não tinha outra maneira higiênica e segura de ser transportada.

                                                 

 JOHANN RUSCHEL        

       Fomos surpreendidos pela descoberta de mais um Ruschel remoto e imigrante, além dos que já conhecíamos, por uma crônica recebida de habitual parceiro de trocas de informes sobre as famílias imigrantes, José Alfredo Schierholt. A crônica faz parte do seu blog “Abrindo o Baú” em dezembro de 2013 e sugere que a participação de João Ruschel na Guerra do Paraguai ainda terá que ser pesquisada. É o que estamos fazendo e muito mais.

A crônica:

                                     JOÃO RUSCHEL, herói na Guerra do Paraguai

João Ruschel tinha o apelido de Moreno, lutou na Guerra do Paraguai, em 1870. Talvez, a campanha bélica, maior parte na Infantaria, deu-lhe a tez mais escura na pele. Como outros jovens, possivelmente tenha sido forçado a participar dos combates, mas esta história ainda terá que ser pesquisada

João foi um dos pioneiros em Santa Clara do Sul, aonde chegou solteiro, em 1876. Nascido em 22-5-1849, em Gusenburg, na Alemanha, com o nome de Johann, era filho de Johann Ruschel e Bárbara Lorig.

Casou-se em com Anna Noschang, nascida em 1856 e falecida em 17-3-1920, em Rio Bonito - RS, filha de Jorge Noschang e de Margareth Plein. O casal teve 12 filhos: Maria, João Nicolau, Josephine, José, Leopoldo, Friedalina, Affonso, Bertholdo, Leontina, Amália, Katharina Florentina e Reinholdo.

Em Santa Clara instalou um alambique, onde tinha uma fonte de água conhecida por Mãe do ouro – expressão dada pelo pesquisador padre Alberto Träsel no seu Álbum do Centenário de Santa Clara do Sul 1869 – 1969, pg. 25. Servia para abastecer a população vizinha em tempo de estiagem.

João Ruschel faleceu em Santa Clara, em 12-12-1926.  

                              

                       Foto de João Ruschel e Anna Noschang

                 Comentários nossos:

Quando teve início a Guerra do Paraguai, João tinha 16 anos. Ao seu final teria 21. Não cremos que ele tenha emigrado sozinho com essa idade. Ele chegou à Santa Clara em 1876 e tinha 27 anos.

O Capitão Miguel Ruschel. nosso bisavô materno, iniciou a colonização de Estrela em 1872 e só mais tarde adquiriu parte do latifúndio de Laura Centeno de Azambuja em Lajeado (casa do morro em Cruzeiro do Sul até arredores de Lajeado) e loteou-as em Santa Clara. A chegada de João ao Brasil e Santa Clara deve ter ocorrido no início desse segundo loteamento rural, paralelo a outros também existentes nas imediações.

Não cremos que ele tenha lutado na guerra do Paraguai, pois não era brasileiro nato nem naturalizado e não poderia ser convocado.

Não encontramos a data de sua chegada ao Brasil. Ele deve ter vindo diretamente da Alemanha para Santa Clara e era um neto de um irmão do nosso imigrante Sebastian Ruschel, por tratativas do seu filho, o Capitão Miguel. O pai dele, Johann Ruschel (igual ao filho) 1815, era mais um irmão do nosso antepassado imigrante Sebastian Ruschel.

Igualmente, constatamos a existência de outros três irmãos que também permaneceram na Europa: Maria Katharina, 1807; Ângela, 1811 e Adam Ruschel 1818.

       A informação de que lutou em 1870 também não deve proceder. A guerra do Paraguai já terminara em 1869, e apenas um último e pequeno combate, o da morte de Solano Lopes em Cerro Corá, em 1º de março de 1870 formalizou o fim da guerra. Apenas um modesto corpo de cavalaria participou. Os “Voluntários da Pátria” já vinham retornando ao Brasil no início de 1870.

       No livro “Alemães e Descendentes de Alemães na Guerra do Paraguai”, do Dr. Klaus Becker, nenhum Ruschel está nominado entre os mais de 700 filhos de colonos alemães que foram ao Paraguai, dos quais apenas cerca de 70 regressaram incólumes. Encontramos três voluntários de sobrenome Diehl, de Lomba Grande e São Leopoldo.      A tradição oral da família tem de ser acatada e corrigidos eventuais erros que o tempo se encarrega de permitir.

Cremos sim, que ele também deva ter participado do combate de Santa Clara (Maragaten Krieg) contra os atacantes que se denominavam maragatos na revolução de 1893, em 8 de maio de 1895. Esses pseudo maragatos eram alheios ao comando da Revolução e independentes.  Não passavam de assaltantes e ladrões Tema objeto de outra crônica nossa e do livro de Theodor Firmbach. A História registra nomes de 50 moradores de Santa Clara que pegaram em armas na defesa da vila, entre eles quatro Ruschel – Miguel, Antônio, Reinoldo e José Ruschel e alem de José Diehl, comandante, mais João Dill. É lógico presumir que outros colonos prestassem o seu concurso na luta. Por quê João Ruschel não? A tradição oral sempre tem alguma verdade.

Essa deve ser a origem da confusão na tradição oral.  Nem por isso, deixou de ser um herói a ser reverenciado.

A existência de mais um Ruschel no despertar de Santa Clara, foi, sem dúvida, resultado de ações do nosso Capitão Miguel Ruschel, que após ter adquirido extensas áreas de terra em Estrela, para loteamento rural, fez o mesmo no município de Lajeado, onde pelo menos, um filho seu e parentes dele, Diehl, foram morar em Santa Clara. João Ruschel deve ter partido para o Brasil a convite do Capitão e com destino certo. Chegou solteiro, e deve ter morado e trabalhado na propriedade de um primo, até que, casando, tivesse a possibilidade de adquirir sua própria terra. Seria demasiada coincidência ele ter vindo por acaso para Santa Clara. Sua esposa era filha de um dos primeiros moradores de Lajeado.

Gusenburg é uma pequena localidade na região do Rhein-Pfalz. Tinha cerca de 1.100 habitantes em 2008. Se situa exatamente no caminho entre Mühlfeld e Trier região de passagem de Sebastian Ruschel em suas viagens de transporte de passageiros.  Mais uma razão em acreditarmos em parentesco e vinda programada pelo Capitão Miguel. Facilmente encontramos a localidade nos mapas. Fomos direto para a região dos Ruschel nos arredores de Mühlfeld e lá se encontrava.

Fica assim, explicada a existência de tantos Ruschel em Santa Clara, o que, deveras nos tinha surpreendido. São todos nossos parentes.

Assim, partindo de informações primárias e seguras de J. A. Schierholt, conseguimos construir a comprovação de parentesco. Conhecíamos a tradição oral de que apenas uma família Ruschel emigrara para o Brasil. Continua sendo verdade.

Iremos procurar descendentes de Johann Ruschel e sua esposa Anna Noschang em Santa Clara do Sul. Talvez encontremos um que se disponha a procurar a genealogia dele. Não vai ser fácil.  

Mais tarde, descobrimos que Johann viajou para o Brasil em companhia de uma irmã. Ele tinha a tez morena, simplesmente porque era o condutor da carruagem de passageiros e recebia todas as intempéries no corpo, pois a boleia não tinha cobertura.

                              

 

CARTA AOS RUSCHELINOS

                                 Porto Alegre, 23 de dezembro de 2013

                       Alô parente

                       Chegamos ao fim de mais um ano, que se revelou ser bastante fértil no campo da genealogia e da história da família Ruschel.

                      Ampliamos bastante a nominata dos antepassados remotos, conseguimos encontrar as datas de nascimento de muitos outros, que permitiram conhecer as posições nas famílias e certificar que estavam no lugar adequado nos quadros genealógicos. Corrigimos um casal que estava fora de lugar.

                     Identificamos mais ações de desbravamento do nosso líder Capitão Miguel, que alem de ter dado início ao povoamento de Estrela, também o fez por compra de terras virgens de proprietária de latifúndio na margem direita do rio Taquari, na época município de Lajeado e hoje município de Santa Clara do Sul.

                   Não só loteou como fez o povoamento com seu filho Miguel Ruschel Sobrº, cc Cristina Simon (17 filhos) e com os cunhados Diehl de seu filho Mathias Ruschel Sobrº.

                 O Capitão Miguel também trouxe diretamente da Alemanha, um neto do seu tio que permaneceu na Europa, de nome Johann (1849), que chegou solteiro aos 27 anos em 1976. Ele casou com a filha de um dos primeiros povoadores do município de Lajeado. Era um filho de outro Johann Ruschel (1815), que sucedeu Sebastian nas atividades de transporte de passageiros entre Mühlfeld e Trier.

                 Nas pesquisas, fomos surpreendidos com encontro da história do transporte rodoviário, pela descoberta de fotografia da carruagem de passageiros de Sebastian, bem diferente do que todos imaginavam. Tinha três bancos para 4 ou 5 passageiros cada um, talvez 12 ou 15 pessoas ao todo. Deveria ser tirada por três parelhas de cavalos. A foto fala sozinha e segue abaixo. Na inicial do texto, duas datas 1846, 1876 que contam a história. É só interpretá-las: Sebastian teve o seu primeiro filho em 1829. Quando casou, já teria a profissão de transportador coletivo de passageiros. Nessa atividade permaneceu até 1846, quando veio para o Brasil. Sebastian vendeu seu negócio de transporte rodoviário para Ruschel & Heberle. Seu sobrinho e mais um sócio. Permaneceram na atividade até 1876, quando o Johann Ruschel 1815, enviou para o Brasil seu filho Johann 1849, a convite do Capitão Miguel, para adquirir um lote de terras agrárias em Santa Clara do Sul. O que sucedeu mais tarde, não sabemos. Certamente outro adquiriu o direito de transporte e o acervo da transportadora. Provavelmente um parente.

                                       

 

                Na quase inacreditável foto, a carruagem “de luxe”, com o sobrinho-neto e sucessor de Sebastian na boleia, o João Moreno. Assentos com proteção lateral, cobertura, estribo e paralamas

                Sebastian deve ter chegado ao Brasil com dinheiro no bolso, diferentemente dos demais imigrantes da época.

                Igualmente, encontramos um mapa da região, onde aparecem Gusenburg, Treves (Trier) a noroeste e Primstahl a sudeste, local próximo a Mühlfeld e Scheuern que, de tão diminutos, nem aparecem no mapa.

                 Também tivemos insucessos; Não conseguimos descobrir o prenome do Ruschel, casado com Ida, nem o sobrenome de solteira dela. Seguramente era uma viúva. Na época na Alemanha e no Brasil até o casamento das filhas de Mathias Ruschel, as mulheres “perdiam” seu sobrenome paterno e passavam a usar só o do marido. Na certidão de casamento de minha mãe, Flávia Ruschel, consta: passará a assinar-se Flávia Lampert. Daí o nome Ida Ruschel.

               Montamos também um quadro genealógico que segue em email separado. Apresenta todos os nomes remotos até a geração 7. Poderá ser ampliado e é uma base concreta para futuros trabalhos de cada família em particular. Basta seguir o mesmo esquema.

                Ampliamos a presença de mais famílias Ruschel, mas algumas preferiram se omitir. Aceitamos a decisão.

                 Um Feliz Natal, saúde e fartura no Ano Novo.

 

 

MAIS HISTÓRIAS RUSCHELINAS

                 Um dia, levei minha mãe para visitar a tia Stella na casa de sua filha em Porto Alegre. Entre as conversas, ela contou-nos história repassada por tradição oral que recebera dos seus antepassados.

                 Achei-a muito interessante, mas atendi à recomendação de minha mãe de não divulgá-la. Agora, passado quase meio século e em face de ter descoberto nomes e datas que, no meu entender, dão nexo e corroboram o fato, resolvi divulgá-la com as conclusões a que cheguei.

                  Havia na vizinhança uma moça, que eventualmente prestava serviços na casa do Michael e apareceu grávida. Reboliço na aldeia. Logo o responsável foi identificado: O filho mais velho do segundo casamento de Michael, cujo nome não conseguimos encontrar.

               Marcou-se o casamento dos jovens, para honrar os compromissos naturais entre as duas famílias, porém, antes da boda, o noivo veio a falecer.

               Nasceria vivo ou não o neto do Michael. Nasceu vivo e o problema permaneceu. Dentro da lógica dos costumes de dignidade social, Michael convenceu seu segundo filho, nosso bisavô Sebastian a desposar a mãe de seu neto e reparar a honra das famílias.  Conseguimos descobrir a data do casamento, janeiro de 1833, um mês antes do nascimento do filho de Sebastian e Anna Maria Mayer (1808), Michael Ruschel (1833), quando o primogênito da Anna Maria Mayer já tinha quase três anos de idade e se chamaria João Nikolaus Ruschel (1829), legitimado como filho do Sebastian e Anna Maria Mayer. O fato ocorreu quase dois séculos atrás. Comprovamos o fato com os registros do livro Familienbuch Primstal recém disponível. Fomos tentados a encontrar o pai biológico de João Nikolaus Ruschel – enigma de dois séculos – baseados na lógica e tradições familiares. Cremos que conseguimos. Sebastian Ruschel (1909) não tinha irmãos mais velhos que poderiam sê-lo, restam os filhos de seu pai Michael (1751) em seu primeiro casamento com Margareth Zobel (1760): Mathias (1787), Michael (1789/1847), Peter (1792), Nikolaus (1794) e Peter Joseph (1798) – vide ¨Descendants of Ida¨, bem no início.

Michael era filho de Nikolaus e dera a um de seus filhos também o mesmo prenome e nada mais natural que repetisse o mesmo, precedido pelo prenome João (Johann) Nikolaus para diferenciá-lo e homenagear seu filho Nikolaus (1794) precocemente falecido antes do nascimento de João Nikolaus (1929). Ele tinha 34 anos de idade. João Nikolaus era filho biológico de seu irmão Nikolaus (1794). Daí as reticências de Sebastian, que terminou registrando João Nikolaus como seu filho legítimo com Anna Maria Mayer (1808).

 

 

 

 

 

 

 

 

          

THE HISTORICAL RESEARCH CENTER

 

HISTÓRIA DO NOME DA FAMÍLIA RUSCHEL

 

             O sobrenome alemão Ruschel creem os etimologistas, ter duas origens.

             Em primeiro lugar, o sobrenome Ruschel origina-se ou é derivado do nome de um ancestral, do nome do pai do primeiro portador. Neste sentido o sobrenome Ruschel é uma variação do sobrenome Rueschle(in),  uma forma derivada do sobrenome Ruesch, do nome próprio Rudolf.

Em segundo lugar, o sobrenome Ruschel tem uma origem local, por uma característica específica, tanto elaborada pelo homem ou próprio de onde o portador original viveu ou possuía suas terras.

 Aqui o sobrenome Ruschel é considerado "flurname") significando o nome para um pedaço especifico, determinado de terra, palavra da  Média Alta Alemanha, "rusch indicando terra molhada, úmida”. A  palavra alemã "rusch"  significa também uma espécie de salgueiro, portanto referindo-se então a "alguém que reside próximo ou onde os salgueiros crescem".

       Referências sobre este sobrenome ou a uma variante inclui o registro de Berchtold Rueschli, um cidadão de Ueberlingen em 1329.  Um Rueschi Herbert e Rueschi Herbest,  irmãos de Neuenburg em Muellheim, estão registrados em 1345.  Uma família de Ravensburg era cortadora de madeira (ou lenhadores), onde registros de 1482 mostram um  Jacob Ruess, que estabeleceu-se em  Bern em 1510.  A familia desenvolveu-se completamente no século 16 sob o nome  de Ruesch. Registros de 1338 de Otterswein em Baden mostram "quatro acres legados pelos Ruesch", significando quatro acres localizados nos juncos. Uma milha circular dita Riusche de Mimmenhausen em Ueberlingen foi mencionada em registro datados de 1254.

       O seguinte brasão de armas representa a prática heráldica de chanfradura pela colocação da figura (ou divisa) no brasão, o qual desempenha como um jogo de palavras referente ao nome.

  BRASÃO DE ARMAS - Azul celeste, sobre colinas de três sinoplas verdes, das quais emergem três salgueiros, pedúnculos e folhas verdes.

 ELMO – Entre dois chifres de búfalo, alternando entre prata e azul, a flor do salgueiro prateada, ramos e folhas verdes. 

 ORIGEM  -  ALEMANHA.

 Estampa do Brasão e Nome Histórico da Família Ruschel, gentileza de Carmen Elisabeth Hanquet, oitava geração Ruschel.

Traduções do inglês para o português:- Leandro Carlos Lampert e                                                                 Carmen Elizabeth Hanquet      

 

                                                        

 

                                                       LEANDRO LAMPERT

                                                               Historiador

 

 

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